Até onde eu iria por essa garota? (Rogi)

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AGONIA. DOR. AFLIÇÃO. Sentimentos horríveis que nos corroem por dentro. Antigamente, eu costumava me perguntar o porquê de eles existirem; por que não podemos ser felizes, apenas? É tão cruel que tenhamos de encarar um passado ruim, um presente ruim, até conseguirmos alcançar a felicidade do futuro - e, às vezes, sequer a encontrávamos. De qualquer forma, nunca achei que pudesse chegar a esse estado de paz e calmaria. Durante toda a minha vida, sonhei em honrar meus avós e encontrar minha mãe... todavia, algumas coisas mudaram. Eu sabia que não cumpriria meus objetivos, agora que tinha novas prioridades. Eu nasci com um destino - o de morrer para salvar alguém. Para que alguém fosse feliz.

Pode parecer exagerado, porém eu não me importava. Tudo isso porque, naquela noite, enquanto comíamos sob as árvores de Viper, eu tive uma previsão do futuro de Maky.

Nela, Maky estava linda. Seus cabelos bem penteados, seu sorriso alegre e, o mais importante: seus olhos eram vermelhos, não esbranquiçados. Vermelhos como poças de sangue. Simplesmente, vermelhos.

Foi um rápido vislumbre, mas o suficiente para fazer meu coração bater mais depressa. Até onde eu iria por essa garota? Era uma das perguntas vazias que eu jamais poderia responder.

O dia começava a surgir, e tudo parecia desbotado e pálido. Estava um tanto frio; minha respiração pairava como névoa branca. A maioria de nós já dormia, exceto por uns quatro ou cinco, incluindo eu. Fechei os olhos e respirei fundo, e quando tornei a abrí-los, avistei Maky sentada a poucos metros, segurando seus óculos escuros.

- Maky... - sussurrei, me aproximando.

- Rogi? - ela ergueu a cabeça - Ah. Hm. Oi? Eu sei que já falei isso, mas... obrigada por ter me salvado. Você tem sido um ótimo amigo...

Engoli em seco.

- Você me acha um bom amigo?

- Você não acha que seja? - ela sorriu; seu rosto parecia mais apático sob a luz tênue do amanhecer - Você é sempre gentil. Me salvou. E tem sido como meus olhos desde que Jellior... hm...

Inconscientemente, peguei em sua mão que ainda segurava os óculos. Ela se mostrou tensa inicialmente, mas logo relaxou.

- Seu toque é reconfortante. - murmurou ela - Rogi... hm... sei que não estou em condições de te pedir favores, mas... você poderia descrever-se para mim?

- Eh, vejamos... - pigarreei, desconcertado - pálido. Cabelos e olhos casta...

Senti os dedos dela entrelaçarem-se nos meus.

- Não. - ela riu - Não estou dizendo no modo literal. Quero que descreva-se de uma maneira em que eu possa aprender algo sobre você. Observe: Sou a dona de um rosto jovem e delicado, marcado eternamente pela tristeza de ter perdido a quem eu amava. Meus olhos eram curiosos, duas pedras preciosas, e por isso fui privada deles. Meu sorriso apagou-se, e já não brilha como antes. E estas mãos - ela apertou minha mão para enfatizar - apesar de macias, já foram usadas para coisas horríveis.

De repente, senti um gosto amargo na boca. Eu não sabia dizer se era pena ou compreensão, já que sua descrição parecia-se muito com a minha.

- Maky...

- Ei, é sua vez, Rogi - ela sorriu.

- Maky, eu tenho que te perguntar uma coisa. - falei, firme.

Observei enquanto o sorriso desaparecia do rosto dela. Percebendo que ela não responderia, prossegui.

- Assim que entramos em Viper, Kolie nos alertou sobre o fato de existirem vampiros que bebem sangue humano. Que essa prática pode curá-los rapidamente, e fazê-los praticamente invencíveis. - fiz uma pausa, esperando a reação de Maky e, como ela não teve nenhuma, resolvi continuar - Isso é verdade, Maky?

Missão Secreta - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora