O acordo (Rogi)

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A SALA DE VISITAS DA Rainha Solitária era, no mínimo, pavorosa. As paredes tinham um tom vermelho-escuro manchado, e o piso era negro e lustroso; nas paredes, haviam quadros com molduras de aço, todos eles com a mesma pintura - a de um menino moreno, com um cabelo preto caindo sobre a testa e um sorriso animado. Presumi que fosse algum parente da Rainha, seu próprio filho, talvez, pela semelhança inegável entre eles.

Eu estava apreensivo; Emire estava lá, em algum lugar daquele castelo horroroso, conversando com a Rainha. Elas poderiam estar lutando, poderiam estar se matando, mas eu só descobriria mais tarde. Minha vontade era de correr, de procurar Maky e salvá-la de alguma maneira; contudo, por ora, a única coisa que eu podia fazer era esperar, e torcer para que Emire conseguisse êxito em sua conversa.

- Argh - fiz, cerrando os punhos - eu preciso encontrar a Maky.

- Isso porque ela é sua amiga, né? - Stiven apareceu à minha esquerda, com um sorriso gigante.

- Como a Hanna e eu somos amigos? - Phill surgiu ao meu lado esquerdo.

Alternei olhares entre um e outro, e então bufei, me afastando e virando-me para vê-los. Apesar de Phill e Stiven não se darem bem, era inevitável pensar neles como uma dupla perfeita. Stiven e seus sarcasmos, Phill e seu pavio curto... eles me estressavam.

- Sim - suspirei, colocando as mãos nos bolsos e evidenciando meu desinteresse no assunto - Maky e eu somos amigos, e eu acho que já falei isso antes.

- Oh, é claro! - ironizou Stiven (o que não era nem um pouco surpreendente). Ele estava vestido com uma blusa de manga cinzenta e bem larga que pertencia a Ryko, e calças de tecido fino pretas e igualmente grande demais - Que tal eu perguntar à Emire, rainha dos leitores de mentes?

Phill revirou os olhos. Suas roupas eram mais justas, tanto a regata branca quanto a calça azul-marinho. Ainda que ele tivesse as mesmas intenções que Stiven - as de me atormentar - ele simplesmente detestava os sarcasmos dele.

- Não posso impedí-lo de fazer isso. - dei de ombros - Vá em frente.

Nesse instante, Emire surgiu no corredor, acompanhada da Rainha Solitária. Todos paramos para vê-las chegarem.

Emire era quem vinha na frente, com seu sorriso enorme de sempre. Ela parecia bem confiante naquela roupa grossa e branca, e com aquela longa espada embainhada em seu cinto. A Rainha Solitária, ao contrário, caminhava lentamente; seu manto vermelho farfalhando atrás de si, rastejando pelo chão. Seu olhar não era confiante, mas sim autoritário. Como se ela fosse a coisa mais importante, maior e perigosa do mundo.

Emire olhava para cima ao andar, com as mãos entrelaçadas às costas - por seus pés serem um tantinho tortos para dentro, ela acabou tropeçando neles.

- Emire! - fizeram Kolie e Finnie ao mesmo tempo.

Contudo, Emire não era do tipo que caía; ela podia tropeçar várias vezes e não cairia. Ela se arrumou, praguejou alguma coisa indistinguível e depois reabriu seu lindo sorriso, que combinava com os olhos brilhantes. A Rainha Solitária nos observava ao longe, parada feito uma estátua.

- E então...? - perguntou Ryko, gesticulando para que Emire começasse a falar.

Emire deu de ombros.

- Eu fechei negócio, claro. - disse ela, agora estudando suas unhas. - A Solitária vai soltar a loirinha.

Prendi o fôlego, enquanto vários de nós soltavam exclamações e suspiros de alívio. Eu só conseguia pensar que aquilo estava fácil demais.

- Emire - falei, sobre as vozes dos outros. Emire voltou seus olhos castanhos animados para mim - o que a Rainha vai querer em troca?

- Ah, nada demais. - ela fez um aceno com a mão, descartando a pergunta. Os outros se calaram para ouvi-la melhor - Ela só quer um duelo.

Missão Secreta - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora