O "grande Senhor dos Kirqs" (Finnie)

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QUANDO A PORTA FOI ABERTA, meu queixo caiu. Imagine o Senhor dos Kirqs como um homem alto e robusto, de ombros largos e um cavanhaque. Agora apague imediatamente esse pensamento, porque ele era exatamente o oposto disso. Ele era um garoto. Um simples garoto que não aparentava ter mais que dez anos.

Ele estava sentado no centro da sala, em pose de meditação - o que me fez lembrar de Riza na primeira vez em que fui ao seu castelo. Era um menino franzino e careca, porém com bochechas tão grandes quanto as de Emire, senão maiores, que faziam sua boca parecer ainda menor. Tentei não associá-lo a um bebê estranhamente grande, mas não fui capaz de bloquear tal pensamento.

- Esse é o Grande Senhor dos Kirqs? - espantou-se Rethes. - Tá de brincadeira...?

Mestre nos olhou seriamente, um daqueles olhares que intimidavam qualquer pessoa. Então, sem dizer nada, ele pegou Akada pelo braço e, num instante, estava pressionando uma faca sob seu queixo. De início, Akada engasgou, mas depois apenas soltou uma série de palavrões que não valem a pena serem mencionados.

- Mestre - disse o menino, imóvel - eles chegaram?

Mestre não disse nada, portanto o menino abriu os olhos. Honestamente, eu preferia que ele tivesse mantido-os fechados. Eram olhos negros e grandes tão profundos que arrepiavam os fios da minha nuca. Encará-los nos fazia sentir como se não pudéssemos lutar contra uma criaturinha tão inofenciva. Me dava vontade de ir até ele, abraçá-lo, pendurá-lo em meu ombro e levar pra casa. Apartar suas bochechas até meus dedos doerem.

Então Hanna deu um passo à frente, desembainhando sua espada, e eu caí na real. Estávamos em uma situação onde lutar contra essa coisinha fofa era nossa única alternativa. Hanna duelaria com ele, e só o que eu podia fazer era torcer por ela.

O menino levantou-se. Suas roupas eram um tanto peculiares; ele usava uma tiara vermelha na cabeça pelada, sua blusa branca com aquele emblema da pena negra ia até os seus joelhos e, até onde eu podia ver, estava sem calças e sapatos. Eu até quis rir do moleque, mas o tinir das espadas sendo desembainhadas, tanto por ele, quanto por Hanna, desviaram minha atenção.

- O nome dele é Nins Liotre. - anunciou Emire, que não estava muito longe de mim. Seu rosto estava particularmente corado, e seus braços continuavam cruzados - Tem o dom incomum de mover coisas com a mente. Sua idade é nove.

Hanna moveu um pouco o rosto, atenta ao que a rainha dizia. Seu rosto estava livre de expressão, e seu cabelo estava todo jogado para trás. Eu conhecia a Hanna desde que nascemos, sabia quando ela ia lutar para valer. Cá para nós, eu achava Hanna fantástica, dona de um poder absurdo, mas... digamos que ela não era muito boa quando sua única arma era uma espada.

Hanna tinha aprendido muito quanto ao uso de espadas, desde que perdera o arco e a aljava com as setas. Contudo, sinceramente, qualquer um poderia duelar melhor que ela. Se erramos na escolha? Óbvio. Mas eu não diria isso à Hanna, é claro.

Hanna e Nins vieram um ao encontro do outro, e suas espadas começaram a acertar-se repetidamente. Para uma criança de nove anos, o bochechudo era um excelente espadachim. Ele lutava como se passasse por isso diariamente, como se fosse apenas um passatempo. Hanna, ao contrário, dava tudo de si, ignorando a total falta de expressão no rosto do menino. Na verdade, parecia que a luta o estava deixando entediado.

Com raiva por não estar conseguindo causar nenhum dano, Hanna soltou um grito e, erguendo a espada, desceu-a a toda força em direção à careca do garoto.

Eu tive um mini ataque cardíaco, quando pensei que o cérebro de Nins seria dividido em dois, todavia, por incrível que pareça, Nins foi rápido o bastante para defender-se do golpe, colocando sua espada entre a dela e sua cabeça. No instante seguinte, a espada de Hanna saiu tiritando pelo chão e Nins apontou a dele para a testa da minha irmã, que caiu de joelhos.

Missão Secreta - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora