Perdidos no nada (Hanna)

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VISTA PELO LADO DE FORA, a casa de Tooth não passava de uma cabaninha muito antiga, cujas paredes estavam cobertas de musgo. O mais interessante é o lugar onde ela se encontrava.

Meu queixo caiu. Estávamos, aparentemente, num pedaço de terra no espaço, cercado por árvores e por um vasto céu azul. Diante de mim, havia um penhasco... E depois, nada. Meu coração ficou apertado com a possibilidade de nunca mais sair dali. Xinguei Dill mentalmente, torcendo para que ele pudesse ler mentes a distância.

- Uou. - falou Phill - Isso é incrível!

- Incrivelmente fascinante, você quer dizer. - Rogi comentou - Devo admitir que William tem um gosto peculiar para passeios turísticos...

Olhei para ele, percebendo que todos os outros também olhavam - até mesmo Maky, que não podia ver. Rogi franziu o cenho, sem entender.

- Que foi? - ele ainda perguntou.

Rolei os olhos.

- Argh, o que vamos fazer? - bati o pé - A menos que algum de vocês tenha um dragão, sair daqui é impossível! Tooth...

Tooth estava descascando uma fruta com uma faca, quando ergueu seus olhos escuros para mim.

- Você é quem viveu a mais tempo aqui. Tem alguma sugestão?

Tooth encolheu os ombros, voltando ao que fazia.

- Isso nem sempre foi ilhado - disse - faz pouco tempo. E além do mais, se eu nunca saí daqui antes, seria agora que eu sairia?

- Ele tem um ponto - Stiven observou.

O céu estava escurecendo, e eu decididamente não queria saber o que acontecia naquela ilha a noite. As nuvens se dispersavam, dando vez a lua grande e brilhante, e o vento morno só tornava a situação mais assombrosa.

Andei até a borda do penhasco, logo seguida de Rogi e Tooth. Eles pararam cada qual a um lado meu, e olharam para mais além.

Como eu esperava, lá embaixo só havia escuridão e mais nada. Tooth se abaixou e pegou uma pedra, lançando-a ao espaço em seguida. Minutos depois, veio o baixo e distante som da pedra batendo em algo que parecia água. Rogi bufou e colocou as mãos nos bolsos.

- Seria mais fantástico se não a ouvíssemos cair. Porque assim teríamos certeza de que estamos perdidos no nada.

Franzi o cenho para Rogi, sem acreditar na tranquilidade com a qual ele encarava a situação. Ainda havia um pequeno corte na base de sua garganta, mas estava bem melhor agora. Aquela marca era apenas um lembrete do que Dill era capaz de fazer para se divertir.

Rogi deu outro passo, balançando-se perigosamente na ponta do penhasco. Meu estômago embrulhou ao imaginá-lo caindo, e eu agarrei seu braço e puxei para trás.

- Não. - pedi - Não faça isso.

Tooth sorriu torto antes de lançar outra pedra.

Os olhos de Rogi se tranquilizaram. Ele recuou, e retornou aos outros gingando. A noite agora já se fazia presente, arrepiando cada fiozinho da minha nuca. Quando olhei para os rostos de meus amigos, tive certeza de que nossos pensamentos estavam interligados. Se havia um monte de Carinhas Invisíveis conosco, sem dúvidas a noite era seu horário favorito.

Tooth agora mordiscava sua fruta tranquilamente, no passo em que Rogi cochichava alguma coisa com Maky. Os dois eram igualmente vazios de sentimentos, e estavam sempre calmos, não importa o que houvesse.

Foi então que alguém me empurrou e eu cambaleei na pontinha do penhasco. Tooth foi rápido o bastante para segurar meu pulso, mas não rápido ao ponto de evitar que eu caísse.

- Hanna! - berrou uma voz, que claramente era a de Finnie.

Felizmente, todos estavam próximos o suficiente para correr até nós e segurar Tooth, pois a força do impacto quase o levou para a morte comigo. Sua mão escorregou de meu pulso e agarrou minha mão, que suava, enquanto que com a outra, eu lutava para segurar o pedaço de terra a minha frente. O rosto de Phill apareceu, esverdeado pelo susto. Seus olhos negros estavam enormes, e gotículas de suor se acumulavam em sua testa. Outros rostos foram surgindo, inclusive o de Finnie, que estava completamente pálido.

- Ei, Hanna - falou Phill; sua voz tremulando. - fica calma.

- MINHA MÃO ESTÁ ESCORREGANDO! - berrei, esganiçada. - EU VOU CAIR!

A sensação de estar pendurada a mais de mil metros do chão foi a pior que já experimentei em toda a minha vida. Meus dedos estavam suando... estavam suando! Minha boca mudou de sabor.

Phill estendeu a mão para mim. Talvez seu raciocínio tenha ficado meio lento, considerando que eu estava caindo. Com minha outra mão, agarrei a dele.

Tooth e Phill me puxaram para cima, com dificuldade. Tooth era tão magro, que achei que não conseguiria, mas para minha sorte eu fui içada com sucesso.

Quando caí de bruços em terra firme, eu rastejei para longe, com o coração na garganta. Todos me olhavam preocupados; Phill abaixou-se ao meu lado.

- Tudo bem? - ele perguntou.

Girei no chão, ficando de barriga para cima. Minha respiração estava tão densa, que eu fiquei com medo de sufocar. Meu coração estava tão agitado, que achei que pararia subitamente.

- É claro que estou bem! - Ironizei. - Eu só fiquei pendurada em um precipício! Isso acontece todos os dias!

Phill caiu sentado, surpreso com minha irritação. Ele me olhou como se não pudesse acreditar que eu estava ali.

- O.K. - falou lentamente.

Tooth se aproximou, arregaçando as mangas da sua blusa preta. Ele balançou a cabeça para afastar os cabelos negros da testa, e depois se ajoelhou.

- Eles estão aqui - disse. - Digo, os Carinhas Invisíveis. Sugiro que fiquem longe do penhasco, se não quiserem ser empurrados lá para baixo. Melhor entrarmos

Várias risadas se misturaram, vindas de diversos lugares.

- Isso não vai adiantar - sussurrou uma voz desconhecida, fazendo-me sentar imediatamente.

- Não, não vai adiantar! - concordou outra voz, e dessa vez todos olharam ao redor.

- A gente estrangula vocês.

- A gente mata vocês.

- Não entrem na casa!

- Ah, não, não entrem na casa!

Tooth dá de ombros. Observando todas as nossas expressões de susto.

- Querem chá?

Missão Secreta - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora