Converso com a metamorfa (Phill)

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EMIRE ERA UMA MALUCA transtornada. Eu não demorei nem uma hora para concluir isso. Após o duelo fantástico, ela saiu dali saltitando e rindo como se tivesse ganho um novo brinquedo. Ela seguiu lado a lado com Lorde Ryko e Kolie Schenato, comentando coisas sobre sua irmã, Sizy. "Uma vez eu joguei ela de cara na lama" "Aí, uma noite, ela cortou meu cabelo enquanto eu dormia. Ah, eu fiquei muito revoltada".

Ver ela falar da irmã com tanta empolgação, me fez ter vontade de ter um irmão. Quero dizer, eu sempre fui filho único, então era uma criança um tanto solitária. No geral, meus pais faziam de tudo para suprimir essa falta. Mamãe brincava comigo, papai me ajudava com a tarefa de casa e, ao anoitecer, nos reuníamos para contar histórias de terror na sala. Desde que recobrei minha memória, o sorriso da mamãe é meu principal motivo para seguir em frente.

- Psiu - fez Akada, ao meu lado - você está com uma expressão estranha, sabia?

Eu revirei os olho. Era aquela garota de novo. A menina que não queria ir com a gente, e que só se importava em olhar-se no espelho e pentear os cabelos. Ela me fazia detestá-la, e pelo visto estava me perseguindo.

- O que você quer? - disparei, olhando ligeiramente para baixo para enxergar seus olhos azuis.

Akada, que caminhava ao meu lado, ficou rubra. Ela chutou uma pedrinha no chão, modesta.

- Hm... Nada. - encolheu os ombros - Só queria te acompanhar.

Engasguei uma risada.

- Me acompanhar? - repeti, incrédulo - Ah, por favor. Há poucas horas eu tive que te carregar a força para você vir conosco, e você pareceu me odiar. Ainda dói os socos que você deu nas minhas costas.

Akada ficou ainda mais desconcertada.

- Desculpa - ela disse, e se adiantou, perdendo-se no meio das pessoas.

No passe em que ela foi, Hanna chegou. Agora quem estava envergonhado era eu.

Ah, a Hanna. Tudo nela era lindo; o cabelo liso alaranjado, os olhos verdes intensos, o sorriso. Eu sei, ela era a cópia exata da Finnie, mas eu conseguia achá-la ainda mais bonita.

Seus olhos focaram onde Akada desaparecera, e ela pareceu pensativa.

- Hm... Phill? - ela forçou-se a me encarar - Estive pensando...

- Eu não sou amigo da Akada, ok? - falei de repente, atropelando as palavras - Eu nem gosto dela!

Hanna reprimiu o riso, me fazendo sentir um idiota.

- Tudo bem... mas eu não ia falar da Akada.

Quando ela disse aquilo, meu coração foi parar no estômago. Eu não apenas me sentia um idiota; eu era um idiota. Com todas as letras, sem dúvidas. Mas Hanna estava com um sorriso tão largo, e os olhos tão brilhantes, que eu não tive outra opção senão relaxar.

- Eu ia dizer que andei pensando sobre conversar com a Finnie. - seu sorriso vacilou - Eu sempre soube que ela ficaria irritada quando descobrisse nossa história. Sei que todos foram muito cruéis com ela na infância, e a culpa é unicamente minha. - suspirou, olhando para Finnie, que ria ao lado de Stiven - Por mais que eu aceite que ela tem razão, não gosto de ficar brigada com ela. Somos gêmeas, afinal. Nascemos juntas, crescemos juntas e é doloroso demais pensar na possibilidade de ter esse vínculo quebrado.

Segui o olhar dela. O cabelo de Finnie era uma montoeira de cachos indescritível, e ela estava tão feliz conversando com Stiven, que eu cheguei a cogitar se ela estava realmente sentindo a falta da irmã. Eu fui o primeiro Escolhido que as gêmeas conheceram; me lembro de ter visto duas pessoas totalmente diferentes de hoje. Finnie era insegura, um pouco respondona, e uma amiga e irmã leal. Hanna parecia não gostar de mim nos primeiros dias, mas logo mostrou sua personalidade forte. Para ser franco, eu era muito mais apegado à Finnie, e agora sequer conversava com ela.

Missão Secreta - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora