Vermelho é uma linda cor, não acha? (Perio)

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EU NÃO PUDE FAZER NADA.

Fiquei em choque, assistindo ao momento em que aquele homem arrastou Emire pelos cabelos e a forçou a sentar na cadeira, passando a corda em torno do seu corpo. Ela ria e tamborilava os dedos nas coxas, olhando para ele de uma forma divertida.

— Nós vamos brincar? – disse ela, e então o homem apertou ainda mais a corda, fazendo-a soltar um gemido – Ai! Eu não gosto dessa brincadeira!

Ah, Emire...

Saindo do meu estado de transe absoluto, eu voei para cima do homem, que era duas vezes maior que eu. Ele apenas riu, desviando do meu ataque e prendendo meus braços atrás do corpo, forçando-me a encarar Emire.

Ela estava emburrada, com as bochechas infladas e um bico enorme; olhava para o lado, como uma criança pirracenta. Eu arfei algumas vezes, tentando inutilmente me desvencilhar e correr até ela. Ela estava amarrada! Eu não sabia o que poderia acontecer dali para frente...

— Ora, ora – o homem disse, entre risadas – Veja o que temos aqui! Emire Juuz, a mais poderosa rainha, presa em uma masmorra! Me sinto emocionado.

Emire bufou, virando a cabeça ainda mais para o lado. Seu rosto começava a ficar vermelho.

— Cala a boca, homem mau. – Retrucou ela – Você puxou meu cabelo, isso doeu.

Eu me sentia desesperado e inútil. O homem puxou ainda mais meus braços, ocasionando em uma dor intensa que me fez arquejar.

— Solta ela! – implorei – Não faça nada com ela, por favor! Ela não está em seu melhor estado mental, não a machuque!

A risada que se seguiu ecoou por todo o cômodo, aumentando meu pânico ainda mais. Ele me empurrou e eu cambaleei até Emire, caindo bem ao seu lado. Ela me olhou com um sorriso iluminado e inocente que cortou meu coração.

— Você vai ficar bem, Lekso – ela sussurrou, entusiasmada.

Mas eu não estava prestando atenção. Eu só fitava aquele homem e suas passadas lentas na direção de Emire, que trazia um sorriso psicótico e olhar faiscante. Os fios úmidos de seu cabelo loiro gudavam-se em seu rosto e desciam pelos ombros, emaranhados. As bochechas eram encovadas, e ele exibia olheiras profundas que combinavam com seu porte magro e esguio. Apesar de ele me parecer assustador, Emire não estava intimidade. Ela nunca se intimidava, e isso era preocupante.

— Não está em seu melhor estado mental, hm? – ele se inclinou sobre a cadeira, ficando com o rosto a centímetros do de Emire, quase ao ponto de poder beijá-la. Emire não desviou o olhar, fixou nos olhos castanhos profundos do homem, inexpressiva – Não parecia nem um pouco alucinada há quatro anos, não é mesmo... rainha?

Eu estava confuso. Emire continuava inexpressiva, mas aquele homem... seu olhar trazia algo além de raiva, algo além de maldade. Eu consegui enxergar... tristeza. Mágoa. Em matéria de reconhecer sentimentos, eu era incrivelmente bom, pois meu pai me treinara a vida inteira para ser um bom caçador. Estudar expressões faciais era uma das lições, afinal isso podia entregar o que a vítima estaria pensando, se era inocente ou não. E naquele momento, olhando aquele rosto, eu tive certeza de que o homem não havia nos sequestrado apenas por diversão; ele fizera por vingança. Trazia uma mágoa profunda de alguma coisa que Emire fizera no passado.

Com meu coração saltando descompassado, eu me levantei e encarei aquela cena. Ele agora estava com uma faca em sua mão esquerda, pressionando-a levemente sobre o ombro de Emire; a mesma ficava olhando para o rosto dele como se estivesse perplexa.

— Quatro anos atrás? – eu me pronunciei – Emire era apenas uma criança! Quantos anos ela tinha? Onze? Doze?

Ele soltou outra gargalhada seca e sem o menor humor, afastando-se do rosto de Emire para voltar-se para mim.

Missão Secreta - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora