Missão Secreta - Parte 2

Uma história (Finnie)

ALGUNS INSTANTES ANTES da rainha começar a falar, me peguei pensando se eu deveria mesmo estar ali; se queria mesmo ouvir o que ela tinha a dizer. De alguma forma, ela havia assassinado o meu pai, e eu nunca soube nada além disso - não estava certa se estava preparada para descobrir. Os minutos que viriam a seguir mudariam toda a minha perspectiva, me fariam enxergar a morte do meu pai de um jeito diferente, e era isso que me assustava.

Com o canto do olho, eu observava Hanna. Seus olhos faiscantes sequer piscavam enquanto ela encarava a rainha; ela trazia no rosto uma expressão tão determinada que me fez lembrar de quando éramos crianças. A Hanna sempre havia sido assim. Comprando minhas brigas, atraindo olhares, brilhando. Desde muito nova já se podia notar que ela tinha potencial, e ela sabia disso, só não demonstrava para não me chatear. Eu não guardava ressentimentos dela por ser melhor do que eu, ou por ser a favorita. Minha mágoa se resumia a um dia especial, quando eu quase morrera por sua causa e ela ainda jogara a culpa em mim, pouco antes de sermos Escolhidas.

Voltei a atenção para a rainha de Khuler, que agora finalmente abrira a boca para começar a falar.

- Sei que irão me odiar ainda mais depois do que eu vou dizer.

- Você não faz ideia - disse Hanna, num sussurro melodioso.

Me surpreendi ao ver o sorriso gélido no rosto da minha irmã, cheio de veneno. Os cabelos ruivos desciam em cascata pelas costas, jogados para trás dos ombros; sua camisa do Templo de Mestre estava um pouco suja em algumas partes - algumas desvantagens da cor branca.

Sra. Pofiket apenas assentiu, pesarosa.

- OK. Tudo bem. - suspirou - Imaginei que fosse dizer isso. Agora ouçam...

"Silvian e eu nos conhecemos na escola, aos dezessete anos. Ainda éramos jovens e imaturos demais, passávamos as tardes praticando arco e flecha e matando pássaros, e no final do dia, ficávamos conversando e vendo o sol se despedir. Era lindo. Eu ainda não entendia direito quais eram meus sentimentos por ele, mas, fosse o que fosse, não era recíproco. Silvian estava apaixonado perdidamente por uma moça chamada Tenni e pretendia desposar com ela.

"Me lembro de sentir como se meu coração fosse arrancado do peito, quando ele finalmente me confessou. Eu sabia que não podia sofrer para sempre, então encontrei outro homem, um príncipe, com quem namorei. Mas o coração... ah, esse não podemos enganar. O meu ainda pertencia à Silvian, então continuei a me encontrar com ele, cada vez mais. Nós ficamos juntos. Ele finalmente havia entregado sua alma à mim."

Hanna me olhou com a maior cara de nojo que eu já tinha visto, e eu apenas dei de ombros. A rainha parecia sonhadora, devaneando sobre um sonho bonito... até que, de repente, seu rosto foi consumido por algo obscuro que ofuscou o brilho dos seus olhos.

- Era uma fantasia bonita demais. - disse, monótona, a rainha - Mas não teve um final feliz. Poucos meses depois, Silvian casou-se com Tenni, e eu não vi outra alternativa senão me casar também. Foi quando Tenni foi Escolhida por Dill, que nos revemos outra vez. Ele estava me contando sobre fidelidade, e que não deveríamos mais nos encontrar porque éramos comprometidos agora e eu, era uma rainha... eu nem mesmo tive a chance de dizer a ele que estava grávida, que ele seria pai...

- Espera! - interrompi imediatamente.

- O que?! - Hanna disse, em seguida.

De repente o clima ali naquela sala havia se tornado denso e abafado demais para se suportar. Remexi na cadeira desconfortável, fazendo o possível para não olhar diretamente no rosto sério da rainha.

- Nós tínhamos um irmão? - sussurrei - Um irmão em comum com o Quino?

A rainha assentiu lentamente.