Conhecemos o Mestre (Finnie)

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TEMPLOS EM LIBERTY ERAM ilegais, e por essa razão, raríssimos; criar um templo era como desafiar um rei, desejar ser seguido e adorado em seu lugar, comandar alguma parte do mundo sem permissão. No geral, apenas pessoas poderosas e corajosas, dispostas a aceitar o risco de ser perseguido até a morte, se atreviam a erguer um templo. A diferença básica de um rei para um dono de um templo era a dedicação ao povo; simplificando, um templo servia para abrigar jovens e crianças órfãos e treiná-los - um orfanato-escola. Donos de templos defendiam o povo, davam tudo de si por pessoas que nem conheciam direito - coisas que os reis eram ocupados demais para fazer.

Eu, particularmente, admirava toda a história por trás de templos. Eu sabia que a maioria desses corajosos haviam morrido na tentativa, tiveram seus templos incendiados ou demolidos por súditos do rei, e até mesmo por Lordes. Se o Mestre, que além de criar um templo, ainda tinha entrado sorrateiramente em uma outra Terra por meios ilegais, permanecia vivo, eu só podia presumir que ele era incrível. Fillians estava recheada de Lordes sanguinários, e era uma das Terras com a política mais severa dentre todas. Mestre deveria ser realmente implacável; eu estava ansiosa para conhecê-lo.

Levamos horas para chegar ao destino; foi uma caminhada tortuosa e agonizante, já que nossos suprimentos de água e comida estavam escassos. Nossa opção mais lógica era não conversar, e evitar pensar em água enquanto andávamos... mas não podíamos fazer nada a respeito do som dos nossos estômagos. Eu sentia como se meu estômago tivesse virado ao avesso; minha barriga doía de um modo que era quase impossível andar ereta. A fome era tanta, que me imaginei comendo as flores do vestido de Rucca - o que parecia absurdo e doentio.

Quando finalmente chegamos, já havia anoitecido; o céu estava encoberto por núvens carregadas, indicando um temporal; talvez eu pudesse impedir a tempestade usando o meu dom, se minha cabeça não latejasse só de pensar.

O templo de Mestre era fascinante. Para quem nunca havia visto um templo, essa era uma bela primeira vez. Paredes altas de mármore estendiam-se, num tom semelhante ao da areia da praia; dois pilares, um em cada extremidade, erguiam-se envoltos por uma fina linha metálica em forma de espiral e, no topo, encontravam-se bandeiras brancas com a ilustração de uma pena negra - eu não era expert em cores e símbolos, mas até onde eu sabia, o branco simbolizavam a paz, enquanto as penas negras eram sinônimo de liberdade (por esse motivo, penas negras enfeitavam a bandeira de Liberty). O templo não tinha janelas na frente, apenas grandes portas duplas douradas em forma de arco. Era como a miniatura de um castelo.

- Vamos, pequenos pássaros. - disse Vamb em tom sarcástico, com um sorriso. Seus olhos, dessa vez, estavam cinzentos - A gaiola é nossa.

Ninguém lhe deu atenção, e não era como se ele se importasse com isso. Ele simplesmente afundou as mãos nos bolsos e seguiu ao nosso lado, rumo ao grande templo e seguindo a desalmada.

Rucca estava numa tranquilidade que dava ódio só de olhar. De acordo com ela própria, durante anos ela vinha tentando matar Tooth - e que forma mais fácil ela teria, senão obedecendo Dill? É claro que ela estava adorando. Se eu sobrevivesse, com certeza ajudaria Tooth a matá-la lenta e dolorosamente.

Assim que ela chegou às portas, apoiou suas mãos, uma em cada porta, e empurrou ambas ao mesmo tempo, abrindo passagem para um grande espaço - o hall.

O hall era um lugar extenso e vazio, exceto pela única mesa ao lado de um corredor amplo, e tripés com tochas acesas bruxuleando. Havia uma mulher sentada atrás da mesa, organizando papéis e murmurando coisas indistinguíveis, e foi à ela que nos dirigimos.

Ali dentro, fazia um frio anormal; todos os pelos dos meus braços nus se eriçaram, e eu me arrependi de não ter trago qualquer um dos casacos que eu já tinha usado nessa jornada. Considerando que a maioria de nós usava camisetas ou blusas de tecido leve, eu não era a única sofrendo por ali; os mais sortudos eram a Dama de Fogo, Kolie, Vamb, que tinha sua jaqueta, e Emire, que parecia nunca se afetar com nada.

Missão Secreta - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora