Tooth, o enigma (Finnie)

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ERA A SEGUNDA VEZ que eu via uma desalmada ser assassinada e, honestamente, eu não sabia o que pensar. Na primeira vez, eu estava quase morrendo pelas mãos daquela louca da Riza... não foi uma experiência muito legal, se acrescentarmos a maldição que ela jogou em mim quando disse que a pessoa que a Hanna mais amava seria morta. Eu tinha certeza que Rucca representava algo parecido para Tooth, já que, segundo ele próprio, ela o fizera sofrer, manipulando-o e jogando com seus sentimentos.  Mestre a matara tão repentinamente, que a imagem não saía da minha cabeça.

Carreguei todos esses pensamentos enquanto seguia com o grupo ao longo do corredor pouco iluminado; Mestre ia à frente, junto com Stiven e Phill, que não cansavam de elogiá-lo. Que o cara era uma lenda, nem é preciso dizer. Mas o problema era de qual lado ele estava, porque até então eu não fazia ideia.

Com o canto do olho, vi Tooth debruçar-se sobre a parede, arfando. Imediatamente, parei de andar e fui ao seu encontro.

- Ei, tudo bem? - perguntei, encostando a mão nas costas dele.

O grupo seguiu caminho, nos deixando para trás. Tooth encostou a testa na parede, e suspirou profundamente. Seu cabelo preto estava grudado nas laterais do rosto suado, o que parecia impossível dada a baixa temperatura do ambiente.

- Você acha que está tudo bem? - retrucou ele - Eu acabei de ver a Rucca ser morta! Eu sei que deveria estar aliviado, mas a verdade... a verdade é que eu estou sufocado. - então ele se virou e escorou as costas na parede. Seus olhos escuros se abriram, e estavam marejados - Eu conheci Rucca em uma fase complicada da minha vida. Estava com um complexo de inferioridade bem avançado e pensava que a culpa era da minha melhor amiga, Samier.  - ele puxou a gola da camisa, como se estivesse sem fôlego - De alguma forma, Rucca me fez sentir... ela me fez sentir como se eu fosse... especial.

Baixei o olhar para minhas sandálias de couro, aquela coisa horrorosa que eu usava desde Mont. Algo na história de Tooth me fez pensar na minha própria. A sensação de inutilidade... desde pequena eu lidava com isso. Ver Hanna ser exaltada, enquanto eu não era nada; todos olhavam para mim como se eu fosse um verme, comparado ao que ela era. A preferida; a amada; a menina prodígio. Eu não podia julgar Tooth por se aliar a alguém que finalmente o ouviu, que o fez sentir poderoso. Não podia afirmar que não faria o mesmo no lugar dele.

- Eu te entendo - sussurrrei.

Para minha surpresa, Tooth não sentiu-se melhor ao ouvir isso. Seu rosto assumiu um ar de completa incredulidade, e algo em seus olhos dizia que ele estava mesmo zangado.

- Ah, é mesmo? Você me entende? - ironizou ele - Eu acho que não. Ver Rucca morrer foi angustiante, mas sabe qual é a angústia maior? Saber que eu me deixei ser controlado, há cinco anos atrás. Que mais um segundo e eu teria enfiado aquela faca na minha melhor amiga. Que eu odiei Samier. - ele se endireitou e passou a andar na minha direção, apontando para o meu rosto. Assustada, comecei a recuar. - Eu alimentei uma vingança insana durante dias, e quando finalmente ia realizar, percebi que estava sendo tolo. E sabe o que Samier fez? Ela não me odiou. Ela não me odiou nem por um instante. Ela simplesmente me perdoou!

Eu agora estava encurralada contra a parede, com meu coração a mil. Tooth permanecia enraivecido, tão próximo que poderia me dar um soco.

- Samier e eu jamais nos abandonamos, porque existia algo além de qualquer briguinha. - ele diminuiu o tom de voz - Existia amor. Nós somos irmãos, mesmo sem qualquer laço de sangue. E quer saber o que está me deixando irado? - Tooth colocou a mão na parede bem ao lado do meu rosto. - Eu sou obrigado a ver você ignorar a sua irmã todos os dias. Passar por ela e fingir que ela é uma desconhecida. Olhá-la como se o maior pecado do mundo fosse o fato de ela existir.

Missão Secreta - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora