- ELA DISSE QUE VOCÊ teria que morrer? - Rogi falou.
- Não tecnicamente, meu amigo. - discordou Tooth - Ele só morrerá se a tal da Alie ficar viva.
- Mas então...
- Ele vai ter que...
- Matar a Alie! - disseram em uníssono.
Sacudi a cabeça. Eu estava quase completamente arrependido de ter contado meu sonho para os dois caras mais chatos do mundo. Eles falavam tanto sobre coisas que eu não entendia, que estavam me enlouquecendo.
Havíamos gasto boa parte da nossa manhã e tarde andando pela floresta, com pausas ocasionais para reabastecer. Felizmente, Perio caçara um delicioso jumbro, e Kolie, mesmo relutante, acabou ajudando com o fogo. Todos comemos pequenos pedaços, já que éramos muitos para um bicho tão pequeno. No fim, ainda estávamos com fome, mas ninguém se atreveu a dizer isso.
Olhei para Rogi à minha direita e, em seguida, para Tooth à minha esquerda.
- Vocês têm certeza de que não são irmãos? Porque...
Rogi coçou o queixo.
- Para ser franco, eu não posso dizer com certeza, já que não conheci meus pais - ele deu de ombros - no entanto, de acordo com meus cálculos...
Ergui as mãos.
- Sem cálculos, por Dill! - pedi - E, olha, voltando ao assunto inicial, eu jamais mataria alguém, principalmente se for uma garota!
- Pensando assim - Tooth devaneou - você não sabe se ela é de fato uma garota. Poderia ser um dragão chamado Alie. Um monstro chamado Alie. Um zumbi chamado Alie. As opções são infinitas.
- Concordo com ele - disse Rogi.
Estreitei os olhos para Rogi. Ele parecia visivelmente muito melhor do que da primeira vez em que eu o vira, na Mansão de Gost. Suas olheiras eram quase invisíveis, e a pele estava um tantinho mais corada. Até o cabelo castanho, que estava sempre sebento graças à falta de banho, parecia mais arrumado.
- E quando é que você não concorda com ele? - falei, sarcástico. E então lancei as mãos para o alto - Ok, vocês podem ter razão! Mas se Alie for um dragão, ou um monstro, não vai ser tão fácil assim descobri-la, né? Afinal, dragões não falam.
- Ele tem um ponto - observou Tooth.
- O único jeito é tentar chamar qualquer coisa por Alie. - Rogi sugeriu - Se atender, é porque é ela.
Revirei os olhos.
- Não é tão simples. - suspirei - Observe: - e então uni as mãos em concha aos lados da boca e gritei - ALIE!
A maioria das pessoas do grupo que estavam à frente se viraram. Alguns até balançaram a cabeça e me chamaram de doido.
- Ele tem dois pontos - disse Tooth.
Digamos que Tooth ainda parecia um cara estranhamente afeiçoado pela cor preta. Seu cabelo preto ainda caía sobre a testa, e seu moletom era preto, assim como a calça comprida. Os olhos escuros eram sagazes, mas irritantes, como se ele pudesse ler seus pensamentos só em te olhar. Eles dois ainda eram a dupla estranha, a qual eu imaginava saltitando por aí e conversando sobre a arte culinária.
- Vai saber o que fazer, caro Phill. - Rogi bateu a mão em meu ombro, enquanto que com a outra, me entregava algumas bolinhas minúsculas - Eu sei que vai.
Avaliei o que ele tinha me dado, erguendo-as na altura dos olhos e pressionando uma delas cuidadosamente entre os dedos. Eu me lembrava daquilo nitidamente. Do dia em que Rogi nos ajudara a escapar do palácio da rainha fantasma, jogando essas coisinhas no chão e criando um verdadeiro nevoeiro. Vendo-as novamente de perto, eu fiquei pensando no quanto coisas insignificantes podem ser de suma importância.
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Missão Secreta - Parte 2
FantasíaEles já enfrentaram coisas que nem imaginariam; estiveram várias vezes entre a vida e a morte; conheceram novos aliados e amigos; e passaram por muitas Terras atrás de uma simples profecia. Agora é tudo ou nada. Com suas memórias restituídas, e, nou...