Rucca Morviliz (Finnie)

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MINHA PRIMEIRA REAÇÃO foi a surpresa; nunca, em toda a minha existência, eu vira alguém tão bela e que expirava uma auto confiança tão invejável quanto a mulher que nos olhava naquele instante. Ela tinha uma aparência jovem, um sorriso presunçoso e uma face tão inocente e dócil que me fazia odiá-la ao mesmo que desejar ouvi-la. Depois de análisá-la, desde o seu vestido longo de flores amarelas, até seu cabelo preto dividido ao meio, meus olhos encontraram os seus e eu tive minha segunda reação: raiva. Estava obvio para mim - aquela mulher era uma Desalmada, de Senger. Vale ressaltar que meu passado na Terra dos Desalmados não era o que podia-se considerar "agradável". Tinha os irmãos Midthy e sua história macabra, a rainha Riza e sua obcessão em me matar, e o idiota do Stiven me lembrando constantemente de que eu não deveria falar com nenhum deles - obrigada, Stiven. Com certeza essa Rucca era tão desprezível quanto Riza e sua corja, indigna de qualquer atenção.

Ela gingou até nós; a cauda de seu vestido farfalhando sobre a grama e as folhas secas, me fazendo imaginá-la como uma criatura asquerosa. Tooth, juntamente com a líder do grupo, Rainha Emire, adiantou-se.

- É admirável que tenha se esquecido tão facilmente dos seus bons modos, querido. - disse Rucca, sorrindo maliciosamente - Por incrível que pareça, conservo por você um respeito enorme. Cada conversa que compartilhamos foi especial, de alguma forma.

Tooth soltou uma risada seca, daquelas que antecedem uma frase sarcástica.

- Até quando me persuadia a matar minha amiga?

- Samier era inútil. - ela arfou, como se o assunto a deixasse entediada - De qualquer modo, você também acabou sendo...

Emire alternava o olhar de um ao outro, segurando o punho da espada, pronta para atacar. Mas eles não pareciam notá-la. Na verdade, nenhum dos dois parecia notar ninguém além deles próprios.

- O que você quer, então? - ele arqueou as sobrancelhas, com seu sorriso debochado - Quer convencer alguém a me matar? Que tal a jovem Emire? Ouvi dizer que ela é o soldado ideal.

Emire arregalou seus olhos castanhos.

- Ei, como é?!

Mas Rucca apenas irrompeu em gargalhadas.

- Ouvi boatos sobre essa garota - ela lançou uma rápida olhadela à Emire - Ah, não, seria uma ameaça a alguém como eu...

Ouvi uma risadinha vinda de algum lugar entre nós, e então Vamb começou a falar. Seu cabelo escuro estava ainda mais desarrumado, suas bochechas estavam encardidas e os olhos azuis, rodeados por olheiras. Suas vestimentas eram básicas, apenas uma camisa preta sob sua jaqueta marrom e calças gastas.

- Ela? - e riu mais um pouco - Emire é só uma criança. Vamos falar sobre o que você faz aqui.

Assim que Emire ouviu o que Vamb dissera ao seu respeito, sugou todo o ar que conseguiu e inflou as bochechas. Fiquei com medo de ela tentar prender o ar até morrer, mas ela só cruzou os braços e virou-se, voltando a se misturar entre nós. Rapidamente, seu rosto pálido adquiriu um tom escarlate, e eu só podia presumir que a última coisa que a "mais poderosa rainha" queria ouvir era que ela era uma criancinha. Ao longe, Perio a olhava como se quisesse consolá-la, ou como se a atitude da rainha o tivesse decepcionado um pouco.

- O que eu faço aqui? - repetiu Rucca, parecendo finalmente ter nos notado - Só estou entediada. Um pouco deprimida, na verdade. Depois que você me deixou, querido - ela assumiu um ar triste ao olhar para Tooth - tenho estado tão solitária...

Então ela se aproximou ainda mais de Tooth, lentamente. Quando ele a olhou nos olhos, pude notar alguma partícula de hesitação em se afastar dela, o que me deixou profundamente intrigada sobre o passado dos dois. Rucca ergueu ambas as mãos, e no momento em que seus dedos tocaram o rosto de Tooth, ele saiu do transe e segurou com força os punhos da mulher.

Missão Secreta - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora