Rainha Solitária (Rogi)

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CHEGAR ATÉ O CASTELO não foi problema nenhum; a grande dificuldade estava em entrar nele. E não, não haviam muros, cercas ou qualquer barreira que nos impedisse - quem dera se fosse.

Logo que chegamos, avistamos imediatamente o grupo de pessoas conversando alegremente nos jardins do castelo, todos com olhos vermelhos e presas afiadas. Se eu não soubesse que eram vampiros perigosos que protegiam o castelo de penetras como nós, provavelmente os confundiria com estudantes discutindo sobre uma prova.

Ryko recuou, deixando Emire tomar a frente da situação. Como rainha, Emire era quem mais teria chances de conversar com os guardas. Assim que ela ultrapassou os limites do palácio, com a mão displicentemente pousada no punho de sua espada embainhada, uma jovem moça de exuberantes cabelos brancos em marias-chiquinhas tratou de barrá-la. Agora, olhando bem, eles todos estavam uniformizados - as meninas com saias rodadas e casaco de botões, ambos brancos, e os meninos todos trajando preto.

- A senhorita não pode passar - disse a jovem vampira, com sua voz doce e bela, como ela.

Emire soltou o punho da sua espada. Por ela estar de costas para mim, não podia dizer ao certo, mas supus que ela sorria.

- Obrigada pelo tratamento. - disse, animada - Lorde Ryko deveria aprender algumas coisas com a senhorita.

- Lorde Ryko? - repetiu a vampira, sem se mostrar surpresa - A lenda de Mont?

- Gostei dessa vampira - comentou Ryko, rindo.

A vampira não sorria, e aparentemente não sabia fazê-lo. Seu rosto belo era sério e sereno, a expressão de quem jamais poderia ser enganada com algumas palavras. Atrás de si, o grupo de adolescentes parecia não dar a mínima para o que a colega estava fazendo, pois continuavam a conversar.

- Desculpe - disse a vampira - mas as senhoritas e os senhores não podem passar.

- Ora, ora - Emire diminuiu o tom de voz, aproximando-se mais dela - vamos fazer um acordo, está bem? Você me diz seu nome, e eu digo o meu.

A vampira recuou um passo, mas não deu indícios de que recusaria.

- Rakela - disse ela - Rakela Ramiel. Uma das mais poderosas vampiras, líder do exército de Viper.

Emire nos espiou por cima do ombro e, colocando as mãos na cintura, endereçou-nos uma piscadela divertida. Então tornou a voltar-se para Rakela.

- Você já deve ter ouvido sobre mim, não é, Rakela? - falou - Sou tão famosa, em tão pouco tempo, que é impossível uma figura importante como você não saber sobre mim. Me chamo Emire Juuz, a mais jovem e poderosa rainha de Liberty!

Rakela hesitou, cerrando os punhos. Seus olhos vermelhos ficaram enormes de perplexidade.

Ouvi um bufo ao meu lado.

- Às vezes eu penso que a Emire se acha - comentou Finnie, que era quem havia bufado. Me inclinei para ela.

- Ela não se acha. - murmurei - Ela é.

Finnie rolou os olhos e se afastou de mim. Tooth foi quem tomou o lugar dela, mas não parecia afim de conversar - estava ocupado assistindo o desfecho dessa situação.

Rakela abriu a boca para falar, mas trancou o maxilar. Quando tornou a abrí-la, sua voz soou monótona e rígida.

- Lei n° 35, livros dos vampiros, página 5. Jamais deixar pessoas visitarem a Rainha Solitária, a menos que com sua permissão.

- Ah, ok, que garota chata! - Emire jogou as mãos para cima - Não precisa falar com essa voz de zumbi. Ok. Eu...

Mas Emire se calou, porque, nesse exato momento, uma mão pousou no ombro de Rakela.

- Tudo bem, Ramiel - disse uma voz feminina, cheia de autoridade.

Rakela, relutante, se afastou, revelando a mulher parada atrás dela. Enquanto Rakela voltava para o seu grupo, a mulher encarava Emire com uma superioridade inacreditável.

- Olá, Emire. - disse ela - Há quanto tempo.

- Não seja exagerada, Solitária. - disse Emire, aborrecida - Fazem apenas três anos.

A Rainha Solitária era uma mulher morena, vestida com um manto farfalhante cor de sangue. Seu cabelo preto e liso era tão longo, que quase arrastava no chão, e seus olhos eram de um vermelho ainda mais vívido do que qualquer um que eu havia visto. Os lábios estavam pintados de vermelho, dando contraste à suas presas proeminentes branquíssimas. Como eu imaginei, ela era linda. Talvez tivesse passado dos trinta anos, todavia permanecia linda.

- O que houve há três anos? - quis saber Ryko, adiantando-se. O cabelo escuro dançando às suas costas.

Sua aproximação repentina desviou a atenção da Rainha Solitária, que acabou sorrindo.

- Hm. Quem seria esse homem?

Emire suspirou exasperada, olhando para Ryko também. De longe, eu podia ver que seu olhar estava bem irritado.

- Volta para trás, seu mané!

Ryko alternou olhares entre as duas rainhas.

- Lorde Ryko! - chamou Kolie.

Mas a Rainha não perdera o interesse pelo Lorde, ao que parecia. Ela olhava-o como se quisesse beijá-lo - ou sugar seu sangue. Ryko, meio desnorteado pela beleza da Rainha, acabou recuando, e Kolie puxou-o pelo braço.

- Você é detestável. - Emire cerrou os punhos - Quantos você matou? Dezenas? Qual era a sensação do sangue deles descendo pela sua garganta?

- Prazerosa. - a Rainha Solitária sorriu - Para que serve um marido, senão para ser refeição?

- Hm... vou pensar nisso. - comentou Emire - Mas não viemos para falar sobre seus relacionamentos comestíveis. Viemos resgatar uma moça que você aprisionou.

A Rainha, que era só calmaria, piscou lentamente.

- Você não deveria ser cruel comigo, Emire, querida. - falou -Ambas sabemos sobre o que você tirou de mim, há três anos, e da dívida que tens comigo. Aquela moça é a vampira mais poderosa depois de mim, não por beber sangue, e sim por natureza. Eu cometi canibalismo por anos; e se eu bebesse o sangue daquela jovem? Poderia eu ser mais poderosa que você?

Vi a mão de Emire rapidamente agarrar o punho da espada, mas então ela se deteve e respirou fundo.

- Saia logo da frente, Solitária! - ordenou Emire - Você está cansada de saber que eu sou melhor do que você! Que eu sou uma das poucas que podem matá-la!

Por um instante, eu podia jurar que o rosto da Rainha Solitária havia se transformado em fúria. Mas, no seguinte, ela tornou a se abrandar.

- Tudo bem. Vocês podem entrar.

Já estávamos nos movendo na direção do castelo, quando a Rainha Solitária ergueu uma mão.

- No entanto - disse - solicito uma conversa particular com Emire. De rainha para rainha. Se Emire me convencer, soltarei Maky Guipe. Caso contrário, matarei a todos vocês!

Com esse aviso final, a Rainha Solitária saiu do caminho para que passássemos. Emire cantarolava outra vez, aquele cântico estranho sobre espada no coração, a vida se esvaindo, sei lá. Eu só esperava que Emire fosse tão boa em conversar quando era em ser estranha.

Missão Secreta - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora