Rumo ao castelo (Finnie)

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A SAUDADE É UMA COISA ENGRAÇADA. Podemos sentir falta de pessoas com quem passamos poucas horas, e sequer sentir a ausência daqueles que viveram conosco durante toda a nossa vida. O importante é o quão inesquecível esse alguém se torna para você, o quão especial foi cada momento. E eu não estou falando que não senti falta dos meu pai ou da tia Christie durante a jornada. A verdade é que a saudade deles residia em mim desde que meu pai morrera e desde que eu fugira de casa, aos sete. Era só que naqueles dias, eu estava tão apegada àqueles que estavam comigo, o grupo que montamos, e que, como eu, estava destinado a uma possível morte, que imaginei que se algo acontecesse com eles, eu sofreria muito mais. A saudade me machucaria mais intensamente do que a falta que a minha tia e o meu pai faziam. Se Stiven ou Phill, que estavam comigo desde o início, morressem... não sei o que seria de mim. Pra não falar da Hanna, que indiscutivelmente era a que eu mais amava. Ela sabia que eu estava presa a uma maldição, e que morreria mais cedo ou mais tarde. Mas nenhuma de nós duas estava disposta a conversar sobre o funeral.

Seguimos caminho por uma trilha coberta de folhas. Se eu bem me lembrava dos livros que folheara na escola, Khuler era uma Terra pequena e sem muita vegetação; a população era escassa, e não haviam muitos animais por ali. Apesar de hipnotizadores serem caçadores exímios, em sua própria Terra era quase impossível praticar a caça. Eles costumavam peregrinar por qualquer Terra propícia, e que aceitassem forasteiros - no geral, entrando em um acordo de paz. Que mais não fosse, Khuler era lar dos pacifistas; nada de guerras, aldeias pequenas e nenhum Lorde. Era o lado bom dali.

O lado ruim era que a rainha deles havia matado o meu pai.

Tentei não pensar muito sobre isso, afinal, até onde eu sabia, a assassina do meu pai era mãe de um grande amigo meu, o Quino. Eu conhecia aquele moleque, e sabia que o seu coração era imenso. Não passava um dia sequer sem que eu me lembrasse da última vez que o vira, na Terra dos Fantasmas, Ghost, poucos antes dele cair num sono profundo.

Emire e Perio guiaram o grupo; dessa vez, era Perio quem sabia mais, já que ele passara sua vida inteira ali. Eu só me surpreendi quando avistei o enorme castelo.

- Estamos indo para o castelo? - espantou-se Hanna - Por quê?

- Estamos no escuro. - explicou Perio, com a espada preparada para atacar. Emire vinha logo atrás, cantarolando uma música macabra - Precisamos falar com a rainha, descobrir qual direção precisamos seguir para chegar à Afraid.

- O quê?! - protestou a Hanna - Estávamos indo bem até agora!

Phill segurou em seu pulso e murmurou algo. "Vai ficar tudo bem." mesmo de longe, era difícil não saber o que ele havia dito, conhecendo-o como eu o conhecia. Era um tanto quanto cômico olhar para Phill agora e lembrar de como ele era antes, quando o conheci - onde estava o cara abusado e explosivo, cujo maior sonho era socar a cara do menino Quino? O amor muda as pessoas. Seja para o bem, ou para o mal.

O castelo dos reis de Khuler era esplendoroso - não tanto quanto o dos reis de Lick, mas muito mais do que o da rainha Riza. Tinha altas torres de mármore com janelas gigantes de onde balançavam cortinas brancas. Através das grades do portão de ferro, era possível enxergar um jardim perfeito, árvores pequenas podadas, arbustos floridos ladeando o caminho calçado de pedrinhas reluzentes que brilhavam à luz do sol. Quando me aproximei, pude ver ainda um xafariz à esquerda, entre duas árvores - de onde pendiam balanços. Em um desses balanços, estava sentada uma garotinha, balançando-se levemente enquanto lia um livro.

- Ei! - gritou a Emire - Coisinha! Vem aqui rapidinho?

A menina levantou os olhos e, percebendo-nos, saltou do balanço e largou o livro sobre ele. Ela veio correndo até o portão e segurou as grades.

Missão Secreta - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora