Missão Secreta - Parte 2

Bônus - O Passado de Emire 1

O SOL MAL HAVIA NASCIDO e Emire já estava de pé, pronta para mais um dia de trabalho. Terminava de ajustar a mochila nas costas, quando seu olhar parou na irmãzinha, que dormia de boca aberta; seu cabelo loiro esparramava-se pelo travesseiro e a colcha de retalhos estava enrolada em uma das pernas. Emire suspirou.

Sizy Juuz era tudo o que ela tinha e, desde os cinco anos de idade, o único objetivo de Emire fo protegê-la. Ela jurou a si mesma que faria tudo pela irmã mais nova, nem que custasse sua vida. Desde os onze anos de idade, Emire se metia em duelos para conseguir éreas. Ela era a duelista mais famosa de todo o mundo de Liberty, portanto, pessoas de várias Terras, importantes guerreiros, vinham duelar com a famosa garotinha, que nunca perdia. Ela estava há dois anos duelando, e nunca houvera alguém que pudesse ganhá-la - nem generais de exércitos, nem majestades. Quando perguntavam-lhe como ela conseguia ser tão boa no que fazia, Emire apenas dava de ombros e atribuía suas vitórias à Sizy.

Como de costume, ela beijou de levinho o rosto pálido e meio amarelado da irmã, ajeitou a colcha sobre ela e saiu. Espada na bainha, mochila nas costas e uma mente determinada a conquistar tudo o que ela tanto almejava - o dinheiro suficiente para construir um futuro para Sizy e para ela.

Ao chegar à praça pública de Beaut, Terra dos Leitores de Mentes, ela foi recebida pelas mesmas pessoas de sempre - Risel, o general do exército de Beaut, e Tymbe, a moça dos lanches. A praça já estava abarrotada de pessoas; Emire comeu alguns biscoitos com geléia e bebeu bastante água antes de entrar na área livre, no centro da multidão. Seu oponente seria, dessa vez, um rapaz um tantinho mais velho, cujos cabelos lisos e castanhos roçavam em seu pescoço e formavam uma franja desarrumada. Os olhos do rapaz eram vermelhíssimos, de um jeito que Emire jamais havia visto.

Ela fez um esforço para ler sua mente, como em todas as lutas anteriores. Ele se chamava Lekso, era um vampiro e tinha 15 anos. Emire se surpreendeu - ela nunca lutara contra alguém com menos de vinte anos. Geralmente, seus oponentes eram bem mais velhos e experientes que ela. Mas Lekso era apenas dois anos mais velho... O que ele tinha na cabeça para enfrentar uma duelista tão poderosa quanto ela? Emire forçou-se a esquecer isso. Em dois anos de duelos, aprendera que sua mente deve estar livre de pensamentos, ou isso pode ser fatal. Pode definir se você perde ou ganha.

O duelo se iniciou quando Lekso correu em sua direção, desembainhando a espada. Em duelos, utilizar seus dons é sinônimo de perder; é a única regra válida. Afora isso, só se perde um duelo se a pessoa conseguir deixá-lo inconsciente, ou se alguém desistir.

Aparentemente, nem Emire, nem Lekso desistiriam.

Emire atacou, e as duas espadas se chocaram. Ela acabou se distraindo momentaneamente por causa do olhar enfurecido que Lekso endereçava-lhe. Ela sabia que ele estava levando aquilo muito a sério, que talvez a mataria. Esses poucos minutos de distração foram vantagem para ele, que, com um movimento, conseguiu desarmá-la. Emire desviou o olhar para sua espada, que caíra a poucos metros, e então sentiu a bordoada em sua cabeça.

Ela desmaiou.

Emire nunca havia sido ganha - por absolutamente ninguém. Nem pelos guerreiros mais valentes. Como um garotinho de 15 anos conseguira vencê-la em tão pouco tempo? Num segundo, ela havia perdido a espada e, no seguinte, estava desmaiando.

Quando acordou, a plateia havia sumido, e só quem ainda permanecia ali era Lekso e Risel. Ela estava ali sentada, sua cabeça latejando fortemente, algo grudento descendo dentre os cabelos para a orelha... seus olhos inundaram.

Ela cobriu o rosto com ambas as mãos, soluçando. Sabia que havia fracassado. Quando vazasse a notícia de que a tão poderosa Emire Juuz havia sido vencida em segundos por um garotinho, ninguém iria querer duelar com ela, e ela jamais conseguiria alimentar sua irmã. As duas morreriam de fome.