DEIXAR A CASA VELHA e caindo aos pedaços de Vamb foi um tremendo sacrifício. Honestamente? Se o mundo fosse acabar naquele dia, eu não estaria nem aí. Estávamos todos esgotados, anêmicos, frágeis e morrendo de cansaço. Por mais que tivéssemos espadas nas bainhas, não parecia de grande utilidade se não conseguíssemos erguê-las. A morte, no estado em que estávamos, era até cabível. Um caso a se considerar... E, bem, era inevitável para mim depois da maldição que a desgraçada da Rainha Riza lançara na minha irmã - "alguém que você ama morrerá" - Fala sério, que maldição mais idiota. Eu estava vivendo um clichê? Onde rainhas simplesmente determinam se você vive ou morre? Riza era patética. Eu tinha certeza de que, se a maldição tivesse sido lançada por Emire Juuz, ela diria algo como - Alguém que você ama sofrerá durante anos, mergulhando em uma agonia profunda e dor insuportável e, então, você própria acabará sendo obrigada a matá-la.
Sacudi a cabeça me livrando dos pensamentos esquisitos. Eu estava me sentindo exatamente como Quino assim o sono o atingiu. Era como se eu precisasse espancar alguém para sentir paz de espírito - podia ser a Emire? Ela me mataria em dois segundos. Talvez o Stiven? Não, não queria ele me odiando. Perfeito, a chata da Akada!
Não me contive e bufei, cruzando os braços. Estava tão calor, que o suor descia pelas minhas têmporas e o cabelo estava colado no pescoço - desejei umas três vezes ter nascido careca. As roupas que Kolie me emprestara eram confortáveis... Confortáveis para dias frios! Por Dill, eu estava quase tirando tudo e ficando pelada! Sem contar que, acima da minha cabeça voavam uma porção de dragões, planando como aves, como folhas soltas ao vento... Tudo muito lindo, contanto que eles não decidissem cuspir um jato de fogo em mim.
É, definitivamente não era o meu dia.
Para melhorar, Stiven deu-me um peteleco na orelha que ardeu horrores. Eu, que já não estava muito calma, preparei-me para desembainhar a espada, mas ele passou o braço pelo meu pescoço e me puxou para perto, me impedindo de reagir.
- Me solta, seu ridículo, coisa feia! - me debati, ficando cada vez mais irritada conforme ouvia sua risada - Aaaaargh! Eu vou arrancar suas tripas, seu metido!
Ele riu mais um pouco às minhas custas, até finalmente me soltar. Eu estava borbulhante, ofegando pesado. Empurrei de volta a espada na bainha e soltei outro bufo, apertando o passo.
- Ei - ele deu uma risadinha, me acompanhando - alguém aqui está definitivamente de mau humor.
Revirei os olhos.
- Ah, é claro, meu humor deveria estar uma maravilha - ironizei - Afinal, eu estou apenas andando dias a fio para lutar com um monstro que eu nem sei se existe, com um bando de pessoas indiferentes, minha irmã gêmea que está me ignorando, e carregando o fardo de uma sentença de morte assinada pela rainha dos desalmados. Ah, e só para não esquecer - apontei para ele - eu conheço essa rainha desde que lembro, e enquanto Hanna e eu mandávamos ela para o além, você estava na sua casa tentando decidir o que comeria no jantar, não estou certa?
Ele fez que ia responder, mas, nesse instante, o grupo parou de súbito. Forcei-me a tirar os olhos do estrupício loiro diante de mim e fiquei na ponta dos pés para enxergar acima da cabeça de Kolie. Encontrei nada mais, nada menos, que Tooth.
Ele estava parado, com o braço esticado para nos impedir de prosseguir. Uma brisa soprou os cabelos pretos de sua testa, e ele fechou os olhos. Farejava o ar como um predador, o que era intrigante. Emire, que estava diante dele, olhava-o com a cabeça inclinada feito uma criança.
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Missão Secreta - Parte 2
FantasiaEles já enfrentaram coisas que nem imaginariam; estiveram várias vezes entre a vida e a morte; conheceram novos aliados e amigos; e passaram por muitas Terras atrás de uma simples profecia. Agora é tudo ou nada. Com suas memórias restituídas, e, nou...