A casa de Vamb (Stiven)

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DENTRE TODOS ESSES ESQUISITOS que andavam comigo, Vamb era o melhor exemplo de "adolescente normal". Ele nunca respondia uma pergunta sem uma boa dose de sarcasmo, usava roupas largas demais e exalava autoconfiança por todos os poros - coisas típicas da idade. Sem contar que, desde que havíamos passado por Kalixa, ele sequer olhou na nossa cara. Nos guiava pela floresta, focado na trilha diante de si, nos ignorando completamente.

- Eu já estou cansada. - reclamou Akada - Não vamos chegar nunca não, é?

Vamb enfiou as mãos nos bolsos da jaqueta, contendo um suspiro, mas mantendo o ritmo apressado de seus passos.

- Se está cansada, problema é seu. - ele deu de ombros - Pode sentar aí e esperar um dragão te devorar. Mas, caso queira vir, é melhor você calar a boca.

- O quê...? - Akada não conseguiu conter a indignação.

- É sério. - afirmou Vamb - Sua voz é tremendamente irritante e aguda, como o som de um Calist com dor de barriga.

Akada bateu o pé e voltou para o final da fila, resmungando sobre o quanto isso não fora nem um pouco educado. Eu estava mesmo com vontade de rir, afinal Vamb era uma versão mais nova e mais imprudente de mim. Ele tinha todo o meu respeito.

A casa de Vamb ficava entre duas árvores bem grandes e robustas, com copas espessas. Era um barraquinho de telha, paredes de madeira empobrecida e uma porta meio fora do lugar. Me admirava que a casa ainda permanecesse em pé com toda aquela fragilidade, porém, para mim, era a visão do paraíso. Eu dormira tantas vezes sob as estrelas, que um teto não me cairia mal - isso se não caísse em cima de mim.

Por dentro também não era grande coisa. Havia uma mesa bamba na cozinha, uma poltrona puída e um armário muito velho. A gente mal coube na cozinha, portanto metade de nós se adiantou para os outros cômodos.

Assim que entrei, deixei-me cair no chão mesmo. Não estava nada limpo, mas eu estava exausto demais para me preocupar com isso. Eu queria dormir. Queria dormir por décadas até estar recuperado desse cansaço devastador.

- Ei, garota - Vamb ia falando enquanto atravessava a cozinha. Ele apontou para Emire, que estava sentada em um canto segurando um livro - você não vai gostar de ler isso, acredite em mim.

Emire colocou lentamente o livro de lado e engoliu em seco antes de sorrir.

- Menina irritante - ele apontou para Akada, que estava recostada sobre a mesa - se você continuar encostada aí, a mesa vai desmontar e você vai cair. Preciso dessa mesa.

Akada se afastou, carrancuda.

- E vocês! A ruiva e a loira - dessa vez, ele falava de Maky e Hanna, que bisbilhotavam seu armário - Não vão encontrar nada aí. A comida fica debaixo da minha cama, podem ir lá e pegar.

Ele andou até sua poltrona e desmontou nela, parecendo exausto. Não vi o momento em que Hanna e Maky saíram, pois estava intrigado demais para isso.

- Guarda sua comida debaixo da cama? - indaguei, incrédulo.

Os olhos de Vamb piscaram duas vezes; na primeira, estavam roxos escuros, mas, logo em seguida, retomaram seu usual azul cintilante.

- Por quê? - disse ele - Não posso proteger o que eu tenho de mais valor?

- Eu ficaria curioso sobre você considerar sua comida o que tem de mais valor - comecei - mas prefiro perguntar de quem ou de que você está se protegendo.

Vamb desviou o olhar, avaliando o que os demais estariam fazendo. Por um instante, cheguei a pensar que ele estaria preocupado.

- Hippies. - disse - Alguns acabam virando ladrões. - ele baixou a cabeça e conteve um suspiro - Eu, particularmente, detesto qualquer tipo de peregrino. Ainda mais quando eles entram na minha casa para roubar minha comida.

Missão Secreta - Parte 2Onde histórias criam vida. Descubra agora