Música sugerida para leitura: Feist - Fire In The Water
– Você trouxe o príncipe encantado junto com você. Que fofo – Martha disse enquanto ainda descia as escadas.
– Não se aproxime da minha mulher.
– Você é tão parecido com seu pai. Acha que pode mandar em tudo e todos. Me arrependo amargamente por não ter ficado com Hades. Ele pelo menos não seria um filho da puta.
– Se vocês dois querem participar de uma discussão de família eu respeito mas antes vamos esclarecer uns pontos: eu não tenho porra nenhuma com isso – eu disse realmente cansada daquela ladainha.
– Tão temperamental. Você sabe que homens não gostam de mulheres geniosas desse jeito, não sabe?
Antes mesmo que ela pudesse terminar a frase eu percebi seu movimento com as mãos e me preparei. Martha fez reunião alguma força que provavelmente me lançaria alguns metros longe mas consegui bloquear a energia. Continuei imóvel e encarando o seu olhar surpreso. Ela não contava com isso.
– Eu não vim aqui fazer nenhum teatro, Martha. Eu vim aqui resolver uma coisa muto simples: quero saber qual é o seu problema comigo. Zeus e vocês eram casados. Ok. Você tentou abusar de Sebastian quando ele era adolescente. Ok. Você foi amaldiçoada com esse corpo de criança. Ok. Mas o que eu tenho com isso?
– Eu não tenho que dar explicações para uma mortal que...
Aproveitei o momento de ego inflado para atacar. Em movimento rápido levantei Martha e a segurei pelo pescoço. Seu olhar era um misto de surpresa com nojo. Ela realmente ainda não estava entendendo que eu não tinha medo dela.
– Eu não quero explicações. Eu quero que você entenda que só uma de nós duas vai sair dessa casa. Eu não sei quem é você. Perdi a memória. E estou cansada de olhar para essa sua cara esnobe. Eu estou pouco me importando com as suas opiniões. Nitidamente você está fazendo isso pra chamar a atenção de Zeus mas aqui vai uma dica: ele não se importa.
– Tenho uma novidade: Sebastian vai acabar fazendo a mesma coisa com você mais cedo ou mais tarde, querida – ela disse com a respiração falhando.
– Não ouse envenenar minha mulher contra mim!
– Relaxa, meu bem. Isso é coisa de ex psicótica que não se conforma com o fim e fica arrumando ideia para voltar igual um fantasma e infernizar a vida alheia.
– Como você é burra. Tão bonita e tão idiota. Você sabe que eu posso me soltar e fazer você...
E então eu fiz o que deveria. Em um movimento rápido enfiei o punhal feito por Hades, forjado nas profundezas do seu reino. Martha só percebeu o movimento quando o punhal já tinha perfurado seus órgãos. Ela tentou usar algum feitiço para se teletransportar sem sucesso. Quando percebi que ela tinha parado de se movimentar coloquei o corpo no chão e depois de alguns segundos o corpo amaldiçoado da menina foi substituído pelo corpo de uma jovem senhora muito bonita. Levou apenas alguns segundos para minha memória me inundar. Tudo piscando de forma desordenada. Todos os fatos. A minha vida passando pelos meus olhos em flashes desordenados. E então eu apaguei.
– Amor, acorda.
Meus olhos estavam pesados mas consegui depois de muito insistência. Eu estava na cama, no nosso quarto no Olimpo, e Sebastian estava segurando minha mão.
– Ei. Você me assustou. Sabia que eu acho melhor você controlar sua alimentação? Te trazer no colo até aqui não foi muito fácil – ele disse brincando enquanto eu lançava um olhar realmente ofendido na direção dele.
– Ela morreu?
– Ao que tudo indica sim. As Parcas confirmaram.
– Finalmente livre dessa louca. Eu deveria estar me sentindo mal, algum dilema moral por cometer um assassinato mas na verdade estou muito bem.
– E está coberta de razão. Ela não pararia de ir atrás de você. Quando ela soubesse da sua gravidez ficaria ainda mais complicado.
– Falando em gravidez creio que eu deva procurar um médico para confirmar.
– As Parcas disseram – ele me olhou realmente sério e eu tive vontade de rir.
– Querido, as Parcas não vão me receitar vitamina pré-natal, não vão pedir exame de sangue e com certeza não vão fazer os exames periódicos. Aqui no Olimpo tem algum médico?
– Não precisamos de médicos. Temos alguns curandeiros mas não teremos nenhum apoio laboratorial. Podemos ir para Belo Vale. O que acha?
Belo Vale nos recebeu com um sol tímido. A cidade continuava agradável e com um clima ameno. Sebastian tinha encontrado uma doutora e, novamente usando as Parcas como um Google, chegou a conclusão que ela conseguiria acompanhar minhas gravidez numa boa. A consulta foi rápida mas o exame de sangue ficaria pronto após uma hora então decidimos ir para nossa casa e esperar. O lugar estava limpo e nem parecia o cenário de um assassinato no dia anterior. Estava pensando no quarto seria interessante voltar a morar ali quando meu celular tocou.
– Eu gostaria que você sempre tivesse sinal. Estou tentando te ligar há dias!
– Lara! Que saudade – eu disse sendo extremamente sincera.
– Sua afilhada está realmente brava. Há meses você não aparece aqui, Leni!
– Eu sei. Eu sei. As coisas estão enroladas.
– A sua vida é enrolada né, querida?
– Eu tenho novidades. Eu... casei e acho que estou grávida. Acabei de fazer o exame de sangue para confirmar.
– O QUE?! E você não cogitou me ligar pra falar isso?
– Me desculpe. Eu me sinto um lixo quando você começa a brigar comigo.
– Que bom, senhorita. É pra se sentir mal mesmo. Agora trate de pegar esse telefone e me avisar o resultado do exame antes mesmo de pensar fazer qualquer outra coisa. Vou ficar esperando.
Desliguei o telefone e encontrei Sebastian me encarando com um sorriso no rosto.
– Ela continua bem mandona né? – ele disse se aproximando e me abraçando.
– Sim. Eu a amo exatamente por isso.
– A gente pode visitar eles quando você quiser.
– Acho que depois desse esporro é o mínimo que eu posso fazer.
– Então... ela vai ser a primeira pessoa a saber o resultado do exame ou o pai, no caso, eu, terei acesso a essa informação antes?
– Vou pensar no seu caso. Confesso que fico com um pouco de medo da Lara quando ela me ameaça dessa forma.
– Eu também posso ser bem malvado, você sabe né?
– Tipo malvado ao ponto de me mandar fazer uma dieta deixando explícito que estou acima do peso?
– Que nada, posso ser muito mais malvado.
Ficamos ali, nos beijando e implicando um com o outro enquanto o exame que, com certeza, mudaria nossas vidas não ficava pronto.
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Enviados
AventuraContinuação do Livro "Melhor Parte" Deixar sentimentos para traz nem sempre é parte mais fácil. A vida é capaz de nos surpreender a cada esquina, cada desvio de rota e nem sempre estamos preparados para tantas mudanças. Isso não significa que precis...