Enviados

Capítulo 26

Música sugerida pra leitura: Radiohead - Fake Plastic Trees

Acordei na minha cama. A noite já tinha caído e um vento gelado entrava pela janela do quarto. Sebastian estava sentado me olhando de longe. Sua expressão me fez sentir um arrepio no corpo.

– O que aconteceu? – perguntei já levantando da cama

– Leni.

– O que aconteceu, Sebastian?

– Eu acho melhor você sentar.

– Fala de uma vez, Sebastian.

– Você está voltando a ser humana. Com a morte de Martha os "poderes" que ela tinha te passado através dos Enviados estão perdendo a força. Meu pai e Hades acham que essa teoria doida faz sentido.

– Então voltarei a ser uma pessoa normal, envelhecer e tudo mais?

– Provavelmente sim. Não tem nenhum manual. Meu pai está tentando buscar esse conhecimento mas não tem muitos casos assim documentados.

– Então eu vou envelhecer e você vai continuar sendo um deus jovem e bonito?

– Você sempre será linda, meu amor.

Sebastian deu um passo pra se aproximar mas eu dei um passo para trás.

– Você está ouvindo suas próprias palavras?

– Estou. Eu me apaixonei por você quando você ainda era uma humana, eu sabia desse pequeno detalhe e mesmo assim quis ficar com você.

– Tecnicamente você desapareceu e apagou a minha memória um pouco antes do nosso casamento.

– Leni, por favor. Eu sou completamente louco por você e se essa teoria se confirmar eu mudaria pra cá e nós criaríamos o nosso filho aqui numa boa.

– Você quase morreu em uma batalha pra se tornar um deus e agora você vai morar aqui comigo e deixar o Olimpo pra trás?

– O que você quer que eu faça, Leni?!

– Que você seja sincero, Sebastian! Você acha mesmo que vai me amar quando eu ficar velha ou quando eu estiver prestes a morrer? Como o nosso filho ficará frustrado por ter que ficar preso ao mundo mortal ao invés de curtir o Olimpo com todas as maravilhas que tem por lá? Como você acha que vou me sentir sabendo que você vai acabar com outra mulher de qualquer forma?

– Meu amor, você precisa respirar.

Segui o conselho de Sebastian e comecei a tentar me controlar. Mesmo depois de morta Martha conseguia infernizar a minha vida. Tentei controlar a minha respiração e me manter calma e então me dei conta.

– Cadê a Lara e a Maria Clara?

– É aniversário do Bruno. Lara achou que você estava apenas descansado por causa da gravidez e deixou um bilhete lá embaixo avisando que foi levar a Maria Clara para a festa que a empresa ofereceu pra ele.

– Ela volta hoje?

– Não. Disse que vai passar a noite na casa de um... qual o termo mesmo? Ah, lembrei. Paquera.

Dei uma gargalhada agradecendo a minha amiga por me fazer rir mesmo diante da situação maluca que eu me encontrava.

– Certo. O que acha da gente ir até Hades? Aquele ali sempre tem ótimas ideias.

Assim que chegamos lá e explicamos a situação pra Hades a reação dele foi de incredulidade.

– Bonitinha, tá pensando que eu sou um guru?

– Hades, você é o ser mitológico mas inteligente que eu conheço.

– Eu sou bastante inteligente, amor – Sebastian disse me encarando com uma expressão magoada.

– Seu rostinho é bonito mas o meu cérebro é maquiavélico. Bem, vamos as minhas apostas:

1) podemos tentar te transformar em uma deusa e acabar te matando

2) podemos tentar fazer um feitiço com enviados pra tentar repetir o feito de Martha e acabar te matando

3) podemos te matar logo de uma vez e conduzir sua alma pelo rio das almas

– Credo, Hades! – eu disse realmente ofendida.

– Eu disse que seria inútil, meu amor.

– Eu não sou inútil, príncipe de meia tigela, mas também não sou o senhor de todas as respostas. E vamos deixar claro que nós ACHAMOS que isso está ocorrendo e confirmamos através das Parcas.

– Vocês consultam essas senhoras como as pessoas normais consultam o Google.

– Sim, a diferença é que o Google não te diz o dia da sua morte.

– Certo. Então não tem jeito. Vou voltar a ser humana e o meu filho será um semideus como Sebastian foi um dia. Na prática ele vai precisar cumprir aquelas missões idiotas e quase morrer para se tornar um deus, correto?

– Exatamente, querida. Sinto muito – Hades disse com uma expressão triste.

Encarei Sebastian e finalmente encontrei o olhar que eu queria: medo. Ele sabia o quanto tinha sofrido para se tornar um deus. Ele sabia o quanto seria arriscado para o nosso filho mesmo que isso só fosse acontecer muitos anos no futuro. Ele se aproximou de mim, me puxou pela cintura e sussurrou no meu ouvido.

– Nós vamos pensar em alguma coisa. Eu te prometo, amor.