Capítulo 30

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Música sugerida para leitura: Snow Patrol - Give Me Strength

– Você por aqui, querida?

Hades levantou da mesa dele e veio me receber com um abraço gentil.

– Eu preciso da sua ajuda.

– Eu estou bem, obrigado por perguntar! – ele disse com um sorriso sarcástico no rosto.

– Como vou matar o Euro?

– Tecnicamente "Euro" não existe mais depois que a alma dele seguiu em frente.

– Deixa que reformular a pergunta: como vou deixar um enviado ser o namorado da minha melhor amiga?

– A senhorita está com ciúmes?

– Claro que não! Aquele homem embora tenha a alma de Euro não se lembra de mim e nem da nossa história. Além disso eu amo Sebastian mesmo depois dele ter sido um tremendo babaca comigo.

– Ok, você quer conseguir a sua imortalidade e seus poderes definitivamente mas não sabe como matar um mortal inocente que deu o azar de cair na armadilha de Martha. É isso?

– Exato – eu disse me jogando em uma das poltronas confortáveis do escritório de Hades.

– Você quer dicas de armas ou venenos? Não sei exatamente como te ajudar, meu bem.

– Eu esperava alguma solução do tipo "ei, você não precisa mais matar um inocente!".

– Sinto muito, querida.

Voltei para o Olimpo depois da conversa infrutífera com Hades. Eu sabia que precisava tomar uma decisão o mais rápido possível pois Lara e Maria Clara estavam correndo perigo ao conviver com um enviado. E então aconteceu. Eu tentei ir do Olimpo para Belo Vale e não consegui. Não consegui particionar minhas moléculas e me mover pelo ar até o lugar desejado. Eu sabia que meus poderes acabariam de forma definitiva mas não imaginava o quanto seria assustador. Depois de ter acesso a esse tipo de poder era bastante claustrofóbico ficar totalmente vulnerável. A outra questão era: sem meus poderes eu não poderia ficar muito tempo no Olimpo. Decidi ir atrás de Sebastian para explicar a situação e, felizmente, o encontrei no caminho para o nosso antigo quarto.

– Oi. Acho que perdi meus poderes definitivamente.

– Ah Leni.

Sebastian me abraçou de um jeito carinhoso e algumas lágrimas teimosas caíram sem a minha permissão. Eu precisava ir embora do Olimpo. Baco logo apareceu para se juntar a reunião e pensar em como continuaríamos trabalhando com as atividades e metas para conseguir minha imortalidade. A decisão foi relativamente simples: Baco e Sebastian se mudariam junto comigo para Belo Vale. Para a mesma casa. Tudo relativamente simples exceto por alguns pontos:

1) Euro teria que lidar com a presença de Lucas

2) Baco precisaria controlar seus vícios na frente da Lara e da Maria Clara

3) Eu teria que controlar meu pânico por receber um enviado como convidado

Seria divertido, com certeza.

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1 mês depois

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Minha barriga estava BEM maior. Eu estava me arrumando para mais uma ultrassonografia quando Lara entrou no meu quarto.

– Amiga, qual é o problema do seu marido?

– O que ele fez dessa vez?

– Ele foi pra cima do Lucas só por que o coitado pegou uma foice para dar um jeito no mato que acaba fechando o caminho até a cachoeira.

– Lucas está bem?

– Sim. Sebastian pediu desculpas e disse que se assustou.

– Acontece...

– Posso fazer uma pergunta esquisita?

– Claro, Lara.

– Esse seu tio Dionísio tem algum problema comigo? Toda vez que tento falar com ele só recebo respostas monossilábicas.

– Óbvio que não, Lara. Meu tio só gosta de ficar na dele.

– Certo. Ele separou da mulher ou algo assim?

– Ele nunca casou. Gosta da liberdade dele.

– Entendi. Bem, vou tentar me aproximar com mais calma então. Ele tem um olhar que parece dizer tanto mas nunca fala nada.

– Você está interessada no meu tio, Dona Lara?

– Não! Claro que não! Imagina! Eu gosto muito do Lucas, você sabe.

– Sei. Está entediada com o namoro, acertei? – Lara revirou os olhos mas eu já sabia que era exatamente esse o problema. Melhores amigas tem esse tipo de poder.

– Mais ou menos isso. Sabe, a gente está juntos há pouco mais de um mês e não sinto como se ele quisesse evoluir o relacionamento. Eu sei que ele precisa trabalhar então só consegue aparecer aqui nos finais de semana mas fica um negócio meio esquisito né. Tenho a impressão que ele tem uma vida completamente desacoplada e só me encaixa quando tem tempo.

– Já contou isso pra ele?

– Não. Estamos juntos há pouco tempo, não quero pressioná-lo.

– Bem, eu vou te dar uma opinião totalmente sincera: aprenda a se comunicar. Em um mês realmente não dá pra noivar e casar mas de fato dois adultos só ficarem juntos quatro vezes por mês é esquisito. Tente falar com ele de forma clara.

– Eu vou tentar. Mas não estou paquerando seu tio! – ela disse me fazendo dar uma gargalhada.

Um mês atrás Baco, Sebastian e eu voltamos para a casa de Belo Vale. Precisei inventar que Baco era um tio até então afastado que se chamava Dionísio (dã) e passaria um tempo comigo. Desde então os dois moravam ali comigo. No final acabou sendo uma decisão ótima pois dessa forma conseguíamos proteger Lara e Maria Clara de Lucas. Vez ou outro Sebastian, Baco e eu quase atacávamos Lucas sem querer mas ela parecia não levar para o lado pessoal. Lara pensava que era algum tipo de brincadeira interna.

– Está nervosa, amor?

Sebastian e eu tínhamos conseguido não nos atrasar para a ultrassonografia em uma clínica no centro da cidade. A médica passou uma gosma gelada na minha barriga e em seguida começamos a ver o contorno do nosso filho no monitor. As batidas do coração eram ritmadas e incríveis de ouvir. Até que, depois de aproximadamente dois segundos, ouvimos e vimos no monitor algo esquisito. Não tinha o contorno e as batidas de apenas um bebê. Sebastian e eu ficamos olhando para o monitor com uma expressão confusa até a doutora olhar pra gente e com um sorriso largo no rosto dizer:

– Parabéns em dose dupla, querida. Provavelmente o outro feto não estava tão desenvolvido na ultra anterior por isso acabou passando desapercebido. 

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