Capítulo 17

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  Música sugerida para leitura: Amanda Seyfried - Little House

Na madrugada sonhei com Martha e acordei gritando. Sebastian levantou do colchão que estava no chão, me abraçou e tentou me acalmar. Era estranho como o meu corpo respondida tão bem ao seu toque mesmo meu cérebro não o reconhecendo. Ele era lindo.

– Vai ficar tudo bem, ok? Já estamos estudando a melhor forma de reverter esse quadro. Você vai recuperar a memória, tudo bem, amor? – ele disse enquanto me abraçava na cama.

– Eu estou com medo. O que eu posso fazer pra me proteger dessa mulher? Você disse que sou poderosa então o que posso fazer para bloquear essa mulher?

– Que tal começarmos com um exercício básico de respiração. Com isso começamos o nível básico para a meditação que ajuda muito nesse tipo de bloqueio mental. Vamos começar?

Enquanto Sebastian e eu inspirávamos e expirávamos lentamente meu coração foi desacelerando e minha mente foi se acalmando. Era engraçado ver o corpo responder tão bem a um exercício relativamente simples. Em poucos minutos eu estava quase adormecendo.

– Que tal ficar sozinha na cama e descansar um pouco? – Sebastian disse baixo ainda comigo nos seus braços.

– Você... pode ficar aqui comigo?

– Claro que sim, meu amor. Eu vou ficar aonde você achar melhor.

Acordei bem tarde e sozinha no quarto. Consegui tomar um banho quente e já estava ficando com fome quando a porta do meu quarto se abriu. O senhor com cabelos vermelhos entrou com uma expressão séria e quando eu pensei que ele me daria uma bronca ele simplesmente me abraçou.

– Por Zeus! O que eu vou fazer com você?! – ele falou em um tom realmente triste.

– Eu estou bem. Na medida do possível né? – eu dei de ombros.

– Essa Martha precisa pagar por isso! Zeus fica arrumando essas desequilibradas e depois nós que sofremos com isso. Acredita que ele e Sebastian me proibiram de te visitar? Eles disseram que você ficaria assustada comigo. Logo comigo!

– Você é meio assustador por causa do tamanho e desse cabelão mas estou bem tranquila – eu disse sorrindo e segui na direção de um dos sofás do quarto chamando-o para se juntar a mim.

– Eu sou muito bom com feitiços, Helen. Muito mesmo. E estou trabalhando desde ontem em algum forma de reverter o quadro mas não está sendo fácil. Você consegue me ajudar? Consegue me dizer em que data você mais ou menos está situada?

– Eu me recordo de ainda estar no ensino médio, no terceiro ano. A Lara e o Bruno eram os meus melhores amigos. Meus pais tinham falecido e eu morava com a minha avó, Dona Agnes. Basicamente é isso.

– Certo. Então de fato Martha trabalhou pontualmente para apagar tudo depois que você conheceu Sebastian. Vou conversar com ele e pedir para que ele te conte detalhes mais específicos sobre como vocês se conheceram. Creio que dessa forma a gente possa talvez conseguir algum gatilho para a sua memória. Tudo bem?

– Sim.

– Ótimo! Sebastian está sendo paciente com você? Se ele estiver te forçando a alguma coisa ou ser inconveniente mande ele catar coquinho e venha para o meu reino, ok?

– Você é Hades. Você mora no submundo, certo?

– Sim! É lindo lá. Muito mesmo. Quando quiser dar um passeio eu mesmo te levarei para um tour.

– Obrigada. Por tudo.

– Tem uma coisinha a mais que eu não sei se é o melhor momento de te falar mas vou arriscar. Soube que as Parcas deixaram correr por aí que você num futuro muito próximo estará grávida. As Parcas tecem os fios da vida, elas conseguem prever o rumo da vida dos mortais e importais. Não sei quem já sabe disso mas esse Olimpo é pior do que programa de fofoca. Recomendo que você fique atenta a sua alimentação e evite muito esforço. Agora preciso ir, meu bem. Assim que tiver novidades eu aviso.

E então Hades saiu do meu quarto como se tivesse acabado de me avisar que tinha uma tempestade a caminho. Coisa simples. Nada muito impactante. Apenas um filho. Um filho que as Parcas anunciaram. E isso tudo morando no Olimpo! Casada com um deus. Mais um dia normal na vida de uma pessoa normal.


– Oi amor, conseguiu sair do quarto hoje? – Sebastian voltou pouco depois de anoitecer e me encontrou jogada na cama.

– Não. Mas recebi algumas visitas. Celena. Régias. Hades.

– Que bom! Amanhã podemos tomar café com todo mundo?

– Acho que talvez não seja uma...

Antes de concluir a frase a primeira ânsia de vômito apareceu. A expressão surpresa de Sebastian refletia muito bem o que eu estava sentindo. Fiquei uns 20 minutos colocando pra fora toda e qualquer substância presente no meu estômago até conseguir voltar para o quarto. Fiquei em silêncio esperando Sebastian falar alguma coisa sobre as Parcas mas ele permaneceu em silêncio. Só quando fechei os olhos ele conseguiu falar comigo.

– Isso pode ter sido alguma coisa que você comeu? – ele perguntou sentando na cama, afundando o colchão com seu peso.

– Pode ser.

– Vou sair e tentar buscar alguma coisa pra você melhorar, tudo bem?

– Hades falou sobre uma gravidez anunciada pelas Parcas. Você está ciente disso?

Sebastian gelou e me encarou. Um lado meu ficou com pena. O outro me fez querer socá-lo por querer esconder alguma coisa de uma pessoa sem memória.

– Nós... eles... a gente... ele não deveria ter comentado isso agora.

– Ele não parece muito bom em guardar segredos. Mas vamos as questões práticas: uma criança muda completamente essa história. Eu perdi a memória. Estou aqui igual uma banana perdida na minha própria vida. Não quero uma criança nas mãos dessa louca. Precisamos de um plano de ação factível para pegar essa mulher e colocá-la no seu devido lugar.

– Eu posso pensar em alguma coisa com meu pai mas muito provavelmente a sugestão principal envolverá te colocar como isca. Eu não me sinto confortável com isso, Leni.

Me aproximei de Sebastian e gentilmente segurei seu rosto. Eu nunca havia invadido tanto seu espaço pessoal mas senti que ele precisava de uma confirmação física da minha decisão.

– Eu não sei quem você é e nem o que construímos juntos mas eu tenho uma certeza: meu filho não vai ficar na mão dessa louca.


A estratégia de ataque não foi muito bem aceita por todos mas a maioria concordou. A ideia era simples: eu iria para Belo Vale servir de isca para Martha. No Olimpo ela não conseguiria me alcançar fisicamente então eu precisava estar fora de lá. Sebastian e Zeus eram os mais preocupados e Celena estava visivelmente desconfortável com o planejamento da captura da sua mãe. Varamos a madrugada pensando nas melhores estratégias e nomes de pessoas que eventualmente poderiam nos ajudar. As quatro da manhã eu segui viagem junto com Sebastian para Belo Vale. Voltar para a minha Cachoeira da Pedra foi uma emoção incrível. O lugar banhado pela luz da lua era mágico. Seguimos por um caminho curto até uma casa realmente incrível. Sebastian me contou um pouco sobre a história mas eu estava tão focada em encontrar Martha que só conseguia pegar fragmentos da história.

Quando finalmente entramos na casa e encaramos o lugar arrumando ouvimos alguns passos no andar superior. Quando Martha começou a descer a imensa escadaria principal eu comecei a me concentrar em todas as orientações. Olhar para uma mulher presa naquele corpo de criança só me fez ter uma certeza ainda maior do quanto eu precisava colocar um ponto final naquela história. Uma de nós duas sairia viva daquela casa. Eu não me contentaria com nada além disso.

EnviadosOnde histórias criam vida. Descubra agora