Capítulo 6

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Música sugerida para leitura: Fink  - This Is The Thing

Acordei as três horas tarde com uma dor de cabeça indescritível mas assim que senti um braço ao redor do meu corpo todo o mau humor escorreu para longe da minha mente.
Lá estava ele, os longos cachos negros, a pele clara, o dorso nu e uma calça preta que deixa amostra seu corpo incrível. Euro definitivamente era um cara lindo que faria qualquer adolescente perder o fôlego, mas não eu. Pela primeira vez eu senti apenas um carinho ao olhá-lo, por mais que a noite anterior tivesse sido incrível eu senti que as coisas não seriam mais iguais, não depois da sua traição. A tese era boa, a intenção talvez fosse, mas o resultado era o mesmo: traída.
Tentei fazer o menor barulho possível, peguei uma calça jeans velha, uma camiseta preta, que não fazia parte do uniforme, enrolei o cabelo e sai do quarto. Assim que alcancei o pátio fui atingida por raios de sol e comecei a me perguntar se nunca chovia naquele lugar. Segui meu caminho com apenas uma certeza: as coisas mudariam definitivamente. Finalmente eu tinha certeza do que deveria ser feito e como só eu poderia fazer aquilo, não adiantaria ficar presa em uma escola, aquela luta era minha e eu precisava me preparar para o que estava por vir.
– Cansada da noite anterior, querida? – a voz de Alexandra escorria ciúmes e eu estava adorando atingi-la dessa forma.
– Um pouco, Euro se esforça para me satisfazer então não preciso fazer muita coisa.
– Sua cachorra! – gritou e em milésimos de segundo me alcançou e levantou a mão para me bater. Então segurei seu pulso com uma força que até então eu desconhecia, pude sentir que ela também foi pega de surpresa.
– Não se atreva a me afrontar! Euro estava comigo quando cheguei e só transou com você por que achava que me esquecendo poderia focar na minha segurança, uma ideia estúpida que ele logo reconsiderou. Você é uma mulher doente que não sabe perder e está tentando me envenenar. Mas eu não tenho medo de você nem de ninguém, agora some da minha frente.
Minha voz saiu como uma autoridade e com um poder tão grande que Alexandra não teve muita escolha. Eu pude sentir o medo em seu olhar, ela realmente estava assustada. Com certeza aquela situação fora estranha para nós duas, da onde surgiu essa força? Aquela mulher era muita mais forte, além de ser treinada e mais alta. Segui com minhas dúvidas enquanto caminhava até o pátio principal.
– Denis, preciso falar novamente com você.
– Claro, no que posso te ajudar senhorita Helen?
– Preciso ir ao Olimpo, o ataque de ontem joga por terra a teoria de Celena e Hades. Não me sinto seguro aqui e temo pela segurança dos demais alunos do Instituto, eles precisam reconsiderar o plano.
– Eu concordo com a sua teoria, também temo pela segurança dos alunos e também não acho que a segurança do Instituto resolva algo nesse caso. Vou informar aos meus superiores e te levo até Celena.
– Obrigada, Denis.
Senti um alivio absurdo por não ter sido tão burocrático quanto eu imaginava. Deitei em um dos bancos do pátio, me deixei esquentar pelo sol e sentir a leve brisa atingir meu rosto. Só precisava esperar a decisão de alguém para seguir viagem e encontrar Celena.
– Você realmente vai embora? – dei um pulo do banco e senti meu coração na boca assim que enxerguei Leandro.
– Deus! Você quase me matou do coração!
– Desculpa – sorriu sarcástico – mas me responda, você vai embora?
– Ontem o terceiro Enviado chegou, no meu quarto, como se nada tivesse acontecido. Esse lugar não é seguro, não se tratando da Martha e seus Enviados. O pior é que eu realmente estava gostando desse lugar e... da sua companhia. Obrigado por ter sido tão gentil comigo.
– Não precisa se despedir, posso ir com você.
– Pode?
– Ninguém é realmente obrigado a ficar aqui, ficamos por opção e por segurança. Eu poderia te acompanhar e te ajudar caso você precise de alguma coisa.
– Leandro, eu agradeço mas não acho que você poderia me ajudar. Além disso tenho o Euro como guardião ou algo assim. Fora que você ficará mais seguro por aqui, eu surtaria se algo acontecesse com você por minha culpa.
– Relaxa, eu entendo. Uma pena, eu realmente gostaria de te ajudar e... bem, passar mais um tempo com você. Já sei da sua relação com o Euro e o lance com o Sebastian, mas sabe como é, a esperança é a última que morre.
Gargalhamos alto e pela primeira vez o abracei de forma gentil. Pude sentir seu corpo rígido pela surpresa, mas logo ele relaxou e envolveu meu corpo com seus braços fortes. Leandro definitivamente era um garoto incrível e gentil, não queria criar qualquer ilusão amorosa, queria apenas que ele soubesse o quanto ele era importante pra mim.
– Desculpa interrompê-los mas estamos partindo.
Euro me olhou de uma forma fria e totalmente arrogante. Não pude conter a vontade de rir, no dia anterior tinha flagrado ele em uma situação muito mais íntima. Definitivamente ele não tinha qualquer direito para abrir a boca e reclamar.
– Boa viagem e trate de não me esquecer completamente.
– Nunca. Se cuida.
Dei um beijo no rosto e pude ver seus olhos brilharem. Me virei e encontrei um Euro rígido e totalmente frio, apenas dei de ombro e segui acompanhando seus passos em silêncio. Uma crise de ciúmes não seria bom para nenhum dos dois.
– Não sabia das suas amizades em dois dias de colégio – disse enquanto subíamos na plataforma de crisólita com rodas que nos levaria até o Olimpo. O céu estava azul e os raios de sol nos cobriam de uma forma quase maternal. Discutir diante daquela paisagem deveria ser proibido.
– Eu não tenho que lhe dar satisfações quanto a isso, pelo que me lembre você e Alexandra também estreitaram laços em menos de um dia no Instituto.
A resposta atravessada foi o suficiente para conseguir o silêncio que eu tanto desejava. Pude finalmente curtir a beleza e a tranquilidade da viagem, deixar as preocupações, dúvidas e incertezas de lado e finalmente me concentrar no que meu coração dizia.
– Vou te levar até Belo Vale, se não se importar.
– O que? Belo Vale?
– Hoje não é o casamento da sua amiga? Você não deveria ser a madrinha?
Deixei de lado todo o ciúme entalado na garganta e lancei um abraço apertado e carinhoso em Euro, ele definitivamente não existia. Nem me lembrava de ter contado sobre o casamento, mas se ele sabia e estava disposto a me levar até lá. Só de pensar em rever a minha amiga, só de pensar em reencontrar Davi todo o meu corpo se estremeceu.
– Eu não faço ideia de como te agradecer.
– Esse sorriso e esse abraço podem ser o pagamento. Me desculpe por Alexandra, me desculpe por quase ter te perdido. Eu juro, juro de verdade, nunca mais vou fazer algo que te machuque ou que coloque em risco o que sentimos. Eu te amo minha menina, não quero te perder de forma alguma.
– Eu fico feliz por me pedir desculpas e entendi sua teria tosca mas eu não sei, Euro. Confiança é uma coisa tão delicada e frágil, não sei o que sinto nesse momento, não faço ideia do quanto eu te amo ou se realmente acho válido continuarmos essa relação. Só te peço um tempo, para esclarecer as coisas e tudo mais.
Sem tirar os olhos do meu ele passou o dedo pelo meu rosto, alcançando a minha boca e gentilmente beijou minha testa antes de dizer: – Eu te espero a vida inteira se for preciso, nunca vou desistir de você, nunca vou desistir de nós.
      

Assim que alcançamos a Cachoeira da Pedra senti aquela sensação de "de volta para casa" tão familiar. Era tão incrível ver o meu lugar de criança e minha pedra predileta. Não contive as lágrimas quando alcançamos o chão e pude olhar a minha volta e ver que nada tinha mudado.
Me despedi de Euro com um beijo no rosto apressado e o deixei murmurando algo sobre me encontrar mais tarde, nada poderia ser mais importante que encontrar a noiva. Segui o mais rápido que pude até alcançar a rua principal e já estava quase alcançando a rua de Lara quando ouvi uma buzina.
– Ei! Nunca ouvi falar de madrinha em fuga!
Me virei lentamente e pude ver a figura saindo do carro preto parado na calçada, lá estava ele, o meu melhor amigo de infância, meu eterno amigo de infância. Bruno estava vestindo uma calça social preta e uma blusa de gola alta azul marinho que só serviu para destacar seus olhos claros como o mar. Ele estava tão homem, tão maduro e totalmente encantador. Olhar para ele me fez relembrar o final do ensino médio, quando ele se declarou para mim e eu fugi por medo. As coisas poderiam ter sido diferentes se nós tivéssemos ficado juntos, talvez eu nunca tivesse ficado com Sebastian, talvez minha vida fosse normal... ou talvez não.
– Eu não acredito! Você está incrível! – o abracei com tanta força e carinho que pude ver seus olhos brilharem. Depois de quase sufocá-lo me afastei sem graça e pude ver seus olhos lindos ainda mais de perto. Pude acompanhar seu olhar quanto ele percorreu rapidamente meu corpo, enxergando minha roupa preta colada e meus longos cabelos que já alcançam o cóccix.
– Eu diria que você também não está nada mal. Que saudade sua, Leni, nossa, que bizarro te reencontrar depois de tanto tempo.
– Nem me fala, Bruno, tantas coisas, tantos acontecimentos. Acabamos nos perdendo por aí. Mas e a faculdade? A casa que vocês estavam procurando? A minha afilhada?
– Você realmente está por fora de tudo isso mas que tal a Lara te atualizar? Detestaria estragar as fofocas.
– Tudo bem, eu já estava indo para lá e me preparando psicologicamente para o drama dela – rimos.
– Que tal um sorvete rápido de morango e creme com calda de chocolate? Aquela sorveteria definitivamente faz parte da nossa história.
Sorri animada e segui caminhando ao lado de Bruno, admirando o centro de Belo Vale que estava abarrotada de turistas e totalmente linda. A cidade sempre fora linda, mas depois de tanto tempo longe tudo parecia ainda mais lúdico. Alcançamos a sorveteria bem rápido e fiquei feliz ao ver que a arquitetura colorida ainda era a mesma, aquele lugar era o reduto das calorias indesejáveis. Pedimos nossos sabores e nos sentamos em um dos bancos da calçada. Pude ver o sorriso escancarado de Bruno e a forma gentil como ele me encarava.
– Você está divina. Mais alta, mais forte, praticando algum esporte?
– Sim, malhando bastante e correndo. Não estou mais na biblioteca o que me permite um tempo extra para praticar esportes e tudo mais. E você? Ansioso para o grande dia?
– Feliz. Feliz pela minha filha, pela Lara, pela nossa casa. As coisas estão funcionando como deveriam, isso me deixa realmente feliz e radiante.
– Você não imagina como eu me sinto vendo os meus melhores amigos casando, nossa, a Lara sonhava com isso desde o primário. Vocês realmente são almas gêmeas.
– As coisas poderiam ter tomado rumos diferentes. Sei que nunca mais tocamos no assunto desde o início do namoro com a Lara, mas sempre fiquei na dúvida, você realmente nunca sentiu nada por mim? – Na mesma hora senti meu corpo enrijecer e minha expressão se fechar, falar do passado já era complicado, ainda mais do amor platônico que Bruno teve na adolescência.
– Eu acho que esse dia não é o melhor para reviver lembranças do gênero. Você vai casar e vai ser pai! Isso deveria ser mais importante que relembrar coisas do ensino médio – sorri sem graça e enfiei uma colher cheia de sorvete na boca.
– Não disse que isso vai mudar algo, Leni, relaxa. Eu realmente era apaixonado por você naquela época, mesmo quando comecei a ficar com Lara. No inicio a usei para tentar fazer ciúmes em você – gargalhou – patético né?
– Muito – forcei um sorriso torto.
– Mas depois eu realmente me apaixonei por Lara e aqui estamos nós. Só queria saber o que passava na mente da garota mais misteriosa e desejada do colegial. Nada demais, se não quiser tocar no assunto vou entender – Bruno me lançou um olhar tão carinhoso e gentil que pude sentir a verdade nas suas palavras, ele realmente era louco por Lara e o passado não faria a menor diferença.
– Eu gostava de você, te achava absurdamente lindo e óbvio que me morri de ciúmes quando vocês dois começaram a ficar. Poxa, tinha perdido meus melhores e únicos amigos! Mas não, eu nunca te amei, não como a Lara te amava.
Recebi um olhar carinhoso como resposta e seguimos conversando sobre o passado, presente e futuro. O papo estava tão deliciosamente bom que só me dei conta da hora muito tempo depois. Me despedi rapidamente de Bruno e segui correndo para a casa da minha amiga e mãe da minha afilhada. Só de pensar em revê-la um sorriso brotou em meus lábios.
   
           
Assim que avistei a casa de Lara e o cercado azul meu coração palpitou e tive que aumentar os passos. Alcancei rapidamente a última casa da rua e resolvi entrar sem bater quando me deparei com uma linda mulher com uma barriga enorme, um vestido florido e uma longa trança loira. Não contive as lágrimas quando avisei a minha grande amiga tão mulher, tão madura e linda. Ela estava realmente divina! A maternidade tinha tornando aquela adolescente espevitada em uma mulher incrível de carne e osso. Assim que me viu Lara abriu os braços e me acolheu enquanto eu chorava compulsivamente e alisava sua enorme barriga.
            – Deus, você me deixou tão preocupada amiga. Está tudo bem?
            Não sei se foi a atitude madura de Lara (eu jurava que ela iria arrancar o meu fígado pelo sumiço) ou se foi a felicidade por reencontrá-la mas não consegui conter as lágrimas que rolavam compulsivamente. Ainda aninhada pelos seus braços fui levada até a sala de carpete azul e uma parede cheia de fotos antigas, incluindo fotos minhas ainda muito pequena.
            – Amiga, fala comigo, você está começando a me assustar. Aconteceu alguma coisa? Está tudo bem?
            – Lara, você está... está... divina! Nossa, eu nunca te imaginei assim, tão linda e tão feliz. Me desculpa pelo sumiço, vou entender se você tiver chamado outra pessoa como madrinha, só de estar aqui e te ver assim já me sinto muito feliz.
            – Deixa de ser boba, óbvio que você é a minha madrinha. Nunca passou pela minha cabeça chamar outra pessoa para o seu lugar.
            – Mas no email eu disse que talvez não conseguiria e até tinha perdido perdão antecipadamente. Eu não pensei que me esperaria.
            – Você sempre foi a minha melhor amiga, ninguém poderia te substituir na cerimônia. Se não fosse você não seria ninguém, simples assim. Além disso eu confio em você, você disse que tentaria e isso bastou para acreditar que você chegaria até aqui. Estou feliz por ter vindo, muito feliz.
            As lágrimas voltaram a cair até que percebi o quanto a sala estava cheia e comecei a me sentir uma idiota alugando a noiva no grande dia. Sorri e ouvi atentamente a ordem de experimentar o vestido e arrumar meu cabelo, precisava estar devidamente arrumada para ser a madrinha. Confesso minha vontade era correr até Lara e alisar aquela barriga linda durante o dia inteiro. Vontade de apenas conversar sobre coisas banais e descobrir as fofocas da cidade. Mas no fundo eu sabia que era o grande dia dela e que eu não poderia alugá-la com minhas futilidades, apenas lancei um olhar carinhoso e segui para um dos quartos que estava servindo como camarim das damas e madrinhas. Ao entrar a onda feminina de mulheres surtando com roupas brilhantes me atingiu em cheio.
       
           
Meu vestido estava em uma das araras, era de um tom vermelho claro que contrastou perfeitamente com meu bronzeado. Assim que o vesti vi as finas alças trançarem minhas costas e o pano alcançar e cobrir meus pés. Na arara avistei minhas sandálias pratas e uma pequena bolsa estrategicamente pequena. Precisava me lembrar de agradecer muito a noiva por ter se lembrado de tudo com tanto carinho. Corri até um dos grandes espelhos no quarto e me encarei. Minha pele estava um pouco mais morena que o de costume, não havia nenhuma marca ou coisa do tipo. Peguei emprestado um gloss rosa claro que estava jogado na penteadeira e prendi o cabelo em um coque desengonçado. Ao me olhar de longe vi uma mulher com um vestido vermelho colado ao corpo, um coque desastrado e um sorriso no rosto bobo por estar no casamento da melhor amiga.
            – Uau! Você realmente sabe me surpreender.
            Quando me virei pude encontrar os olhos esverdeados que eu tanto amava. Lá estava Davi, com uma bermuda velha e uma camiseta preta. Estava tão mais forte e totalmente bronzeado que não me contive e o agarrei em um abraço bem apertado.
            – Que saudade sua! Nossa, você está lindo!
            – Amor... podemos ir?
            Me soltei devagar de Davi e pude ver a mulher que o esperava no corredor. Era alta, cabelos loiros e olhos azuis que me fuzilaram por estar agarrando Davi.
            – Karen? Davi? – perguntei ainda confusa e parecendo uma idiota.
            – Pois é Leni, a Karen e eu meio que estamos namorando. Faz apenas alguns dias, nós estamos nos conhecendo melhor.
            – Nossa... desculpa Karen eu não queria... bem, abraçá-lo daquela forma. Me desculpa.
            – Sem problemas. Amor, te espero no carro. Não demore muito.
             Assim que ela desceu a escada não contive o riso e encarei os olhos mais calmos e o sorriso travesso de Davi.
            – Ela é bem estranha!
            – Deixa disso, ela é bem gostosa. Um pouco possessiva, mas gostosa.
            – Eu nunca te imaginei com uma mulher desse tipo, você merece algo melhor! – brinquei mas fui surpreendida por um olhar triste.
            – A mulher do meu tipo resolveu desaparecer depois que a deixei no apartamento e coloquei um jantar romântico como condição. Ela meio que está vestida para matar hoje mas duvido que vá ficar tempo o suficiente por aqui, sabe como é, vida cheia...
            – Me perdoa? Eu juro que não tive intenção de sumir do mapa. As coisas aconteceram... eu... precisei ajudar um amigo. Não sei como me desculpar.
            Davi gentilmente me envolveu em um abraço gentil e meigo, o que só me fez sentir ainda pior. Ele era tão perfeito, carinhoso e tudo de bom. Por que eu não ficava com ele? Me casava? Arrumava um cachorro e virava mãe? Tudo seria mais simples, mais feliz. Ele era tão... normal.
– Leni, relaxa. Eu entendo seus problemas e tudo mais. Lara me contou assim que recebeu seu email. Não vou ficar bancando o sentimental, entendo que tenha assuntos para resolver. Vamos combinar em seguir nossas vidas, você com seus mistérios e eu com a minha patricinha que está surtando enquanto me espera lá embaixo.
– Me desculpa, é melhor você ir antes que ela me mate com o salto – gargalhamos.
Nos despedimos rapidamente e ao ver novamente aquele brilho esverdeado eu senti pela primeira vez em anos que Davi já não me amava. Ele gostava de mim, muito mesmo, mas ele tinha superado, ele seguira em frente. Algumas lágrimas egoístas caíram involuntariamente, mas no fundo eu sorri por saber que todas as pessoas que eu amava estavam seguindo em frente. Minha amiga e meus dois amigos tinham conquistado vitórias e estavam levando uma vida feliz e normal. No fundo eu sabia que os invejava, essa normalidade, essa arte de ser comum. Por outro lado eu ficava feliz por eles não enfrentarem todos os problemas que eu precisava enfrentar. Enxuguei as últimas lágrimas teimosas e voltei a me arrumar, precisava trabalhar na maquiagem e arrumar o coque desengonçado. Me peguei sorrindo ao sentir uma sensação de lar invadir meu corpo.

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