Capítulo 38

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Música sugerida para leitura: Danny Elfman - The Little Things

O cara tinha quase dois metros de altura e era absurdamente assustador. Seus olhos eram de uma frieza tão absurda que por um momento pensei que estava lidando com um robô. A escopeta continuava apontada na minha direção.

– Se você se aproximar eu atiro nela.

A voz do homem era totalmente monocórdia e isso tornava tudo ainda mais assustador. Sebastian estava a uma distância pequena dele e, obviamente estava cogitando se aproximar para tentar desarmá-lo. Ficamos todos dentro do quarto parcialmente destruído prendendo a respiração.

– O que você quer? – eu disse finalmente já agoniada com a situação toda.

– Você vem comigo.

– O senhor deve estar me confundindo com alguém.

O homem fez uma expressão que deveria ser um sorriso mas se tornou uma careta esquisita. Nós dois sabíamos que eu era a pessoa certa. Eu conseguia sentir a energia do Enviado emanando dele como a porra de um raio de sol.

– Não tenho tempo. Pegue o casaco da cadeira e vamos cair fora. Se o seu namoradinho tentar alguma coisa idiota eu atiro nele ou em você. Vamos.

– É o segundo sequestro em menos de uma semana. Eu sou uma mulher grávida!

– Isso significa que você tem preferência? Chega de papo. Temos que cair fora.

Sebastian me encarava com uma expressão desesperada e o fato de Zeus aparentemente estar inconsciente me fez sentir culpada por tudo. Com uma lerdeza acima da media eu coloquei o casaco e fiz um gesto para Sebastian que dizia "ei, fica calmo". Eu precisava sair de um ambiente tão pequeno e tentar alguma coisa fora dali. Quando chegamos no corredor eu respirei fundo e comecei a preparar meu corpo para uma luta difícil e dramática quando senti uma picada dolorosa no meu pescoço.

– Bons sonhos, boneca.

O filho da puta tinha me dopado. Acordei sozinha em um quarto com cheiro de mofo, amarrada em uma cama imunda e sentindo uma sede fora do comum.

– Ei! Eu já acordei – gritei e logo o homem abriu a porta como se tivesse esperando isso do lado de fora há muito tempo. Ele entrou com uma bandeja com uma jarro de água e uma marmita.

– Coma e beba alguma coisa. Não tente nada idiota.

Ele desamarrou uma das minhas mãos e ficou segurando a bandeja. A marmita tinha macarrão com salsicha e ovo cozido. Eu nunca tinha comido nada tão delicioso quando aquilo.

– Isso está ótimo. Você comprou aonde?

– Você acabou de ser sequestrada e quer indicação de restaurantes? – ele disse com uma expressão divertida.

– Com ou sem indicação você não vai me soltar.

– Tem razão. Eu que fiz a comida.

– Uau. Está muito bom. Não sei nem fritar um ovo.

– Não confio em gente que não sabe cozinhar.

– Bem, você sabe cozinhar e acabou de me sequestrar.

– Não se faça de sonsa. Quem precisa dos seus filhos é Martha e você sabe disso. Ela quer a energia vital das crianças. Eu não sei se você tinha parado para pensar mas elas são netas de Zeus. Esses remelentinhos vão ser estigmatizados pelo resto da vida.

– A alma de Euro não migrou com a sua. Você é apenas o Enviado – eu disse ficando realmente preocupada em como tudo estava dando fodidamente errado.

– Sim. A alma daquele homem não tinha magia nenhuma. Se perdeu por aí.

– Ela quer usar meus filhos pra voltar a vida?

– Alguma coisa desse tipo. Mas não será da sua conta. Depois que as crianças nascerem eu vou te matar.

– Eu não posso ficar presa aqui. Preciso de vitaminas. Preciso de uma alimentação balanceada e consultas médicas.

– Eu posso arrumar tudo isso. Não se preocupe. A vida das crianças é prioridade – ele disse com um sorriso presunçoso.

O homem de dois metros saiu do quarto com a bandeja vazia depois que prendeu meu braço novamente. Meu primeiro instinto foi tentar me soltar para acariciar minha barriga. Isso é quase uma obsessão para mulheres grávidas. Quando finalmente percebi que não conseguia me soltar eu me permiti derramar todas as lágrimas que estavam acumuladas há dias. Um misto de desespero e medo. Pela primeira vez eu não fazia ideia de como sair daquela situação.

EnviadosOnde histórias criam vida. Descubra agora