Capítulo 47

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Música sugerida para leitura: Lily Allen - Somewhere Only We Know

3 meses depois - Manhã do Parto

– Eu não aguento mais! – eu disse de forma bastante sincera quando mais uma contração chegou como a porra de um trem bala dentro de mim.

– Meu amor, vamos contar comigo, você precisa controlar sua respiração.

– Sebastian, são duas crianças! O que eu tinha na cabeça quando decidi ter parto normal?

– Você disse que queria viver essa experiência de maneira plena.

Sebastian disse com um sorrisinho no rosto que me deu vontade de socá-lo contudo uma nova contração me inibiu. Nós estávamos na nossa casa no Belo Vale, tínhamos um pequeno exército trabalhando no meu parto e dezenas de amigos e familiares conversando e se divertindo no andar debaixo enquanto eu paria duas crianças. De fato mais perto do fim da gravidez eu tomei essa decisão no calor do momento, achei que seria como naqueles filmes de comédia romântica onde depois de poucos minutos sai uma criança linda e com carinha de anjo. Eu estava em trabalho de parto há 2 duas horas e já estava profundamente arrependida. Naquele momento entre a dor e o desespero me veio na cabeça o quanto eu gostaria que a Dona Agnes estivesse ali comigo. Com certeza ela teria algumas dicas místicas além daquela calma que emanava dela e deixava qualquer ambiente mais tranquilo.

Eu conseguia ouvir o barulho do povo lá embaixo provavelmente se empanturrando de comida e bebida enquanto eu dava todo o meu ser para parir meus amados descendentes. Régia e Celena deviam estar tomando drinques com guarda-chuvinhas coloridos e Lara deveria estar rindo com Baco sobre alguma piada safada. Mais uma contração chegou me arrebatando para oura dimensão e apenas as mãos de Sebastian me prendiam naquela realidade. Ele estava ali do meu lado há horas e sua expressão era de amor puro e genuíno. Era engraçado olhar para os olhos dele e ver o quanto ele estava comovido, com medo e ansioso com aquilo tudo.

– Eu te amo – ele disse com a voz ligeiramente embargada enquanto eu era mais uma vez jogada no vértice de dor e segurava na mão dele como se só aquilo fosse capaz de me salvar.

A pequena Agnes foi a primeira a sair. Com o pulmão funcionando perfeitamente ela chorou com todo a entrega que uma atriz digna do Oscar teria. Os olhos eram idênticos ao de Sebastian, azuis como o mar do Caribe e atentos a tudo ao seu redor. Quando as enfermeiras embrulharam a nossa filha e entregaram aquele pacotinho pra ele as lágrimas dele finalmente caíram. Eu adoraria participar daquele momento mas tinha que trazer ao mundo o gigante Enzo. Eu chorava, Sebastian chorava e até a Agnes chorava enquanto o nosso gigante se ambientava ao mundo. Enzo tinha os olhos mais escuros, uma boca em formato de coração e uma bochecha enorme. Era nítido que era ele que ficava me chutando a noite inteira. A enfermeira embrulhou o meu pacotão azul e me entregou o Enzo. Sebastian me entregou a Agnes e eu fiquei ali segurando dois embrulhos com uma expressão de exaustão e amor genuíno por ter duas criaturas tão lindas, delicadas e fofas nas minhas mãos.

– Eles são simplesmente perfeitos – Sebastian disse pegando o Enzo e percebendo a enorme diferença de peso entre ele a Agnes.

– Seu pai vai surtar quando ver essas crianças, eles são a sua cara.

– Amor, eles tem cara de joelho mas são os joelhos mais lindos que eu já vi na vida.

Recebemos algumas visitas, todos extremamente animados e sussurrando o quanto as crianças eram lindas. Celena chorou quase tanto quanto eu. Lara estava tão feliz e radiante que contagiava todos ao seu redor. Maria Clara amou os bebês mas nitidamente devia pensar que eram mais umas das suas bonecas. Zeus e Hades competiam em deixar claro quem era o mais feliz. Os dois estavam tão irritantemente animados com a ideia de criar aquelas crianças que eu e Sebastian e precisávamos reforçar que ainda éramos os pais.

– Isso é um mero detalhe, bobinha! – Hades disse de maneira pretensiosa.

– Deixa de bobeira seu velho enrugado, meus netos vão se divertir comigo – Zeus retrucou animado.

Foi extremamente delicioso receber nossos amigos e parentes contudo, em um determinado momento, eu estava tão exausta que acabei pegando no sono. Fui acordada horas (ou minutos) depois para amamentar as crianças. Os dois estavam mais espertos e olhavam para o quarto com uma curiosidade enorme.

– Eles dormiram por um tempo mas logo começaram a chorar. Essa menina é pequena mas chora que é uma beleza – Sebastian me explicou rindo.

– E o Enzo? Descansou?

– Ele cochilou um pouco mas estava atento a tudo.

Depois que os dois estavam satisfeitos Sebastian pegou a Agnes no colo e foi sentar na cadeira perto da minha cama. Enzo e eu ficamos na cama até os quatro, por cansaço, pegarem no sono. Pela primeira vez na minha vida em muito tempo eu tive a sensação de ter paz e um amor tão grande que era capaz de apagar toda a história conturbada que tinha me levado até aquele momento. Toda noite sem sono, toda lágrima derramada, todo perigo. Se eu tivesse que passar por tudo aquilo outra vez pra ter aquele momento com meus filhos e meu marido eu faria.

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