Capítulo 9

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Música sugerida para leitura: Sia - My Love

A grande sala principal estava devidamente arrumada, todos os móveis estavam limpos e a iluminação era impecável. Pude ver que o tapete estava perfeitamente aspirado e a casa tinha um cheiro de bolo de fubá. Segui caminhando até a cozinha e lá encontrei a pessoa que eu menos esperava.
– Estélio! – pulei em cima dele com um abraço apertado. Ele apenas sorriu e pude ver aqueles olhos azuis brilhando. Estava ainda mais loiro e musculoso. Vestia uma calça bege e uma blusa branca, não usava sapato, tinha um cheiro de loção de barba e almíscar.
– Que saudade, Leni! Eu já estava ficando preocupado. Celena me mandou para cá ontem, fiquei de orientar os guardiões que Zeus liberou para fazer sua guarda aqui em Belo Vale. Os meninos estão fazendo o reconhecimento de campo mas já devem estar chegando.
– Meninos?
– Guardiões... na média de 21 anos, fortes e com testosterona nas alturas. Não lhe farão mal mas podem se deixar levar pelo seu belo corpinho sensual.
Lhe dei um tapa de brincadeira e puxei uma cadeira do balcão. Nossa, guardiões, 21 anos e fortes? Era um clube das mulheres? Antes que eu pudesse organizar minha mente ouvimos a porta se abrir e o hall foi preenchido por algumas vozes grossas e uma briga infantil. Quando o grupo chegou a cozinha quase despenquei da cadeira. Eram quatro homens, altos, fortes e com cheiro de suor masculino. Eram todos... incrivelmente lindos.
– Os gogoboys chegaram! Que honra contar com a presença de vocês. Rapazes essa aqui é Helen e é dela que vocês vão cuidar pelos próximos dias. Favor não se aproximar além do necessário ou Zeus descerá e cuidara pessoalmente de cada um de vocês. Entendido? – os três apenas gesticularam e eu me senti tonta com tanta beleza.
– Como se chama? – perguntei para o mais perto de mim.
– Esse é Alessandro – explicou Estélio apontado para o cara da ponta. Ele era moreno, tinha olhos cor de mel, muito parecidos com os meus, seus braços eram musculosos e usava o cabelo curto no corte militar.
– Prazer, senhorita Helen – ele me lançou um sorriso tímido e eu quase poderia jurar que ele tinha piscado para mim.
– O do meio é André – apontou para o mais baixo. Seus cabelos quase alcançavam a cintura e eram de uma cor avermelhada, seus olhos eram negros e sua pele tinha uma tonalidade rosada. Ele apenas acenou com a cabeça.
– Eu sou Berilo e lidero o trio. Estaremos a seu serviço, senhorita – tive que lembrar de respirar quando seus olhos percorreram todo o meu corpo. Seu cabelo era preto, seu rosto tinha um bronzeado perfeito e seus olhos verdes eram como uma lagoa profunda. De uma forma estranha ele era uma versão melhorada de Sebastian.
– Apresentações feitas eu preciso voltar para o Olimpo. Celena está surtando e não quer me dizer o motivo. Leni, você vai ficar bem com os guardiões. Tenho certeza de que tudo vai dar certo e Martha logo ficará no passado.
– Régia veio me ameaçar mais cedo. Me atacou e exigiu que eu saísse da vida dela. Avise a Zeus que não quero essa louca aparecendo na minha casa. Mande-o dar um jeito na futura nora.
– O recado será repassado. Preciso ir agora. Rapazes, cuidem muito bem da Leni e tratem de não roncar tão alto a ponto de acordá-la.
Os guardiões gargalharam e meu se senti no clube da luta. Forcei um sorriso e me concentrei em subir a grande escadaria e me refugiar no quarto. A janela estava aberta trazendo um vento tímido, sentei na grande cama e me encarei no espelho. Meu cabelo negro já estava muito abaixo da cintura, minha pele tinha uma tom bronzeado e meus olhos cor de mel estavam claros e refletiam o medo que era estar sozinha mais uma vez. Estélio não poderia ficar comigo, Euro não queria olhar na minha cara e Sebastian... Bem, ele tinha uma noiva psicótica.

Tentando encontrar alguma razão pra melhorar meu dia e não me deixar envolver com tantos problemas peguei o celular e liguei para Lara. Fui atendida por Bruno.
– Bruno? Aconteceu algo com a Lara?
– Não. Mas vai acontecer logo... o trabalho de parto começou. Só estou colocando as roupas especiais para poder entrar na sala. Sua afilhada já vai nascer! – a voz dele era uma melodia gostosa de manhã de Natal e véspera de Ano Novo.
– Aonde?! Preciso chegar aí.
– Acho que está longe... estamos na capital, já conseguimos a casa por aqui.
– Me mande o endereço por sms... chego logo aí.
Nem esperei as dúvidas de Bruno e comecei a me arrumar. Tomei uma ducha rápida, embolei o cabelo em um coque desajeitado, coloquei um vestido branco decotado e já estava me preparando para ir até a Cachoeira da Pedra levantar voo quando tive uma ideia melhor. Eu poderia me teletransportar? Eu conseguira voar! Por que não um teletransporte?
Comecei a me concentrar, respirando fundo, limpando minha mente e pensando em Lara, Bruno e na minha afilhada. Mas infelizmente todo o esforço não resultava em nada. Com raiva por ter perdido dez minutos abri a porta com velocidade e me deparei com os olhos verdes de Berilo me encarando.
– Posso te ajudar? – perguntei tentando não gaguejar.
– Não. Mas eu posso. Vamos, eu te levo a Capital.
– Você estava ouvindo minha conversa?! – que absurdo! Quem ele achava que era para bisbilhotar meus telefonemas?
– Você estava invocando uma força que poderia invocar um buraco negro. Tem noção dos seus poderes? Tive que bloqueá-la assim que senti sua tentativa. Você não pode sair testando seus poderes assim.
– Você vai me levar ou não? – soltei um suspiro tímido e fiz uma cara de arrependida. Não fazia ideia do que ele estava falando, só precisava chegar logo na maternidade e ver minha afilhada.
– Vou. Vem aqui, me abraça e feche os olhos. Você precisa focar no lugar aonde quer ir e não nas pessoas que deseja encontrar. Mantenha os olhos fechados e tente relaxar o corpo.

Ouvi cada instrução mas só consegui relaxar quando me aproximei do pescoço de Berilo e senti seu perfume masculino, era forte, sedutor e viciante. Poderia jurar que ele estava segurando minha cintura além do necessário mas antes que eu pudesse reclamar chegamos a algum lugar e ele me orientou a abrir os olhos. Estávamos em um cômodo fechado e claustrofóbico mas assim que Berilo abriu a porta meus sentidos foram inundados pelo aroma hospitalar. Estávamos na maternidade. Lancei um olhar feliz para Berilo mas ele apenas manteve a porta aberta acenando para que eu saísse. Como ele não fez muito esforço para me seguir entendi que ele me esperaria ali.
Comecei a andar pelos diversos corredores em busca de alguma recepcionista quando virei no terceiro corredor vi uma porta com o nome Lara & Bruno. Meu coração acelerou quando bati na porta, mas quando alguém abriu e vi quem estava lá dentro todo o meu corpo relaxou. Lara estava na cama com uma camisola lilás e o cabelo graciosamente desarrumado. Ela estava segurando uma manta rosa e quando me viu seu sorriso se espalhou. Minha amiga, uma menina até então, era uma mulher. Me atrevi a seguir caminhando até visualizar a coisa mais linda que já tinha visto na vida. Ali, naquele delicado pano rosa estava a minha afilhada, ou melhor, estava um anjo.
– Nem quero imaginar o que você fez pra conseguir chegar aqui. Mas estou absurdamente feliz. Vem, pega a sua afilhada.
Lancei um olhar sorridente para Lara e meio sem jeito consegui aninhar aquela pessoinha graciosa que sorria e me encarava com os olhos claros do pai. Sua bochecha era rosada e sua boca tinha formato de coração. Nunca na vida poderia imaginar como um ser desse tamanho seria capaz de despertar tantos sentimentos.
– Ela é um verdadeiro anjo.
– Puxou ao pai – Bruno disse visivelmente babão. Ao olhar para o casal na minha frente tive uma certeza que até então escorria da minha mente: o amor existia. Ele talvez não fosse perfeito como nos filmes, mas ele era incrivelmente belo e radiante. Eles eram o amor naquele momento, puro, sincero e envolvente.
– Vim para uma visita rápida, mas tenho que voltar com um amigo. Assim que fiquei sabendo arrumei uma carona.
– De avião né Leni? Você chegou muito rápido – indagou Bruno.
– Eu disse que chegaria... mas preciso ir.
– Amiga, quando seus problemas vão terminar? Sério, eu entendo, mas sinto sua falta. Você promete que assim que tudo se resolver vai ficar conosco aqui na cidade? A minha filha precisa reconhecer a madrinha!
– Eu juro, Lara. Assim que tudo se resolver eu venho.
Minha amiga me envolveu em um abraço apertado enquanto devolvia a pequena. Pela primeira vez senti um raiva genuína por não ser normal, por ter me envolvido com seres tão perigosos, por ter me apaixonado por um semi-deus, por ter arruinado minha vida por um amor adolescente. Sebastian era culpado por tudo isso e saber que ele seguia a vida numa boa enquanto eu era perseguida por monstros era bem irritante. Ele não tinha perdido a normalidade sua sua vida, ele não matava Enviados, ele iria casar!
Segui envolta pelos pensamentos irritantes e quando voltei para o pequeno cômodo que era um depósito de materiais de limpeza estava com o rosto banhado em lágrimas e com um nariz de palhaço. Assim que me viu, mesmo com a pouca luz do ambiente, Berilo deu um pulo.
– Você foi atacada? Por favor, diga que não está feriada!
– Calma! Estou bem... só estou... triste.
Tentei segurar as lágrimas após essa constatação mas todo o meu corpo começou a tremer enquanto os soluços brotavam. Eu estava triste por ter que deixar minha amiga e minha afilhada, estava triste por nunca poder ter uma filha, triste por ser uma idiota que se apaixonou por um desconhecido. Vendo meu estado lastimável Berilo hesitou um pouco mas lentamente se aproximou e me envolveu em um abraço quente. Ele tinha cheiro de canela e loção pós-barba de hortelã e isso realmente era excitante. Pude sentir seu corpo colado no meu e tentei ignorar as batidas descompassadas do seu peito, como um deus desse poderia ficar nervoso? Tive vontade de ficar ali durante horas, dias, meses... mesmo nos braços de um desconhecido eu senti paz.
– Senhorita, acho melhor voltarmos. Não avisei aos rapazes que sairíamos e eles podem ficar preocupados.
– Tudo bem... me desculpa ok? Só estou em um momento complicado.
– Eu estou aqui para te proteger e se isso inclui de acalmar eu juro que consigo fazer meu trabalho. Agora vamos. Feche os olhos e relaxe.

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