Capítulo 28

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Música sugerida para leitura: Of Monsters and Men - Silhouettes

Encontrar Baco foi a parte fácil. Difícil mesmo foi esperar ele ficar sóbrio. Ele estava em um bar do Olimpo cercado por ninfas e totalmente embriagado. Tive que pedir ajuda a de Sebastian para arrastá-lo até o nosso antigo quarto para dar um banho e colocar Baco pra dormir um pouco. Enquanto esperávamos ele acordar Sebastian me encarava com uma expressão neutra.

– Você sabe que está se metendo em uma furada, certo?

– Pelo amor de Zeus! O cara é o deus do vinho, qual o problema dele estar um pouco alto?

– "Um pouco", Leni? Quando chegamos lá ele estava prestes a depilar uma sobrancelha em troca de mais uma taça de vinho.

– Ele é o deus do excesso. É compreensível.

– Bem. Se você quer arrumar desculpas pra ele o problema é seu mas vou te explicar uma coisa bem importante. No processo para se tornar uma divindade você precisa do apoio do respectivo deus ligado a você. Nunca ouvi histórias sobre Baco ajudar qualquer tipo de descendente dele.

– Sua postura negativa está me irritando um pouco, Sebastian.

– Leni, eu só estou tentando ser razoável.

– Certo. Vamos esperar esse senhor acordar e aí podemos conversar melhor. Quero deixar bem claro que essa atitude louca que estou tomando na verdade tem um objetivo muito bem definido: garantir um futuro tranquilo para o nosso filho.

Sebastian se calou diante do meu tom pouco amigável então passamos duas horas encarando o chão e o teto até Baco acordar. Ele tinha um corpo grande, uma barba escura enorme, cabelo cortado no estilo militar e olhos castanhos. Era um pouco intimidante.

– Aonde estou? – ele perguntou levantando da minha antiga cama.

– Estamos no meu quarto, Baco – Sebastian explicou.

– Não vá me dizer que fiz sexo com você.

– Não, Baco. A minha esposa e eu te trouxemos aqui pois precisamos conversar.

Quando ele me encarou seus olhos me trouxeram uma sensação boa. Aquele tipo de coisa que você sente quando você acaba de conhecer alguém e tem a sensação de já conhecê-la de outras vidas. Baco me encarou e eu finalmente comecei a explicar toda a história pra ele desde o começo. Quando acabei sua expressão era completamente neutra. Depois de três minutos de silêncio eu precisei falar alguma coisa.

– Você ouviu o que eu disse?

– Sim, querida. Nunca ajudei nenhum descendente a passar por esses testes e se transformar em um deus. Eu precisaria conversar com Zeus e tentar entender exatamente como funciona.

– Eu posso ajudar vocês também – Sebastian se prontificou.

– Ótimo. Vamos até Zeus e definir uma estratégia factível.

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2 meses depois

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Minha barriga já estava ligeiramente aparente mas eu continuava com meus exercícios físicos e uma alimentação saudável. Baco e Sebastian me ajudavam a descobrir e realizar todas as atividades loucas da lista de itens. Basicamente eu precisava cumprir determinados objetivos. Coisa bem sem noção pra ser bem sincera mas nada absurdamente louco. O objetivo final era de conhecimento de todos: matar um inimigo. Como tecnicamente Martha já estava morta eu tinha um objetivo ainda mais esquisito: descobrir quem era o inimigo. E isso estava levando mais tempo do que eu tinha planejado. Minha barriga crescia cada dia mais e meus movimentos ficavam cada vez mais limitados enquanto Sebastian, Baco e eu tentávamos descobrir quem era o tal inimigo. Por fim a ansiedade de Zeus falou mais alto e ele foi consultar as Parcas, ou melhor, o Google Olímpico como eu tinha apelidado. Quando ele voltou da reunião com elas estava pálido e visivelmente abatido. Eu estava terminando alguns exercícios quando ele entrou na academia do Olimpo e me encarou.

– Eu... não podemos seguir com esse plano.

– O que aconteceu, pai? O que elas disseram?

– Martha deixou um último Enviado solto por aí. Apesar da sua morte o feitiço permanece e agora ficou extremamente claro o motivo da alma de Euro ter desaparecido misteriosamente no Rio das Almas.

– O que você quer dizer com isso, Zeus? – perguntei sentindo minha garganta se fechar.

– Martha pegou a alma dele e criou um Enviado, em seguida o jogou novamente no mundo dos mortais. Por isso você foi atraída "magicamente" até ele. O poder de Martha ainda estava no seu corpo então vocês estavam conectados como qualquer outro Enviado já havia se conectado a você.

– Eu falei com Euro. Nós conversamos e ele não parecia disposto a me matar.

– Você conversou com Euro? – Sebastian me encarou com uma expressão de nojo mas eu decidi ignorar.

– Helen, não sabemos que tipo de feitiço Martha usou. Ela pode ter orientado o Enviado a te enganar. Não lembra que ela enviou uma cópia de Sebastian que quase te matou? – Zeus me explicou.

– Mas olha, se os meus poderes estão ficando cada vez mais fracos o feitiço que Martha colocou na alma de Euro também pode estar perdendo a força. Não é?

– É uma boa teoria mas não sei dizer. Como eu disse: não sei qual foi o feitiço utilizado. Posso pedir a ajuda de Hades para tentar descobrir. O fato é que as Parcas me passaram esse cenário: Euro é o seu inimigo. Ao matá-lo você finalmente consegue se tornar uma deusa legítima sem qualquer vínculo com o feitiço de Martha.

– Mas a alma de Euro nem se lembra de mim! O corpo dele é de um humano completamente inocente. Como vou matar uma pessoa desse jeito?!

– Bem, pelo menos conseguimos descobrir um caminho. Agora a decisão é sua.

Zeus saiu da academia depois de me dar uma braço. Sebastian saiu sem se despedir visivelmente incomodado pela minha aproximação com Euro. Baco continuou me encarando até falar.

– A sua vida é sempre esse dramalhão ou é só uma fase ruim?

– Eu realmente espero que seja só uma fase, Baco. De verdade.

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