Capítulo 21

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Música sugerida para leitura: The Cranberries - Linger

– Senhora. Oi. Você está melhor?
Finalmente consegui abrir os olhos. Euro estava me segurando e sua expressão eu já conhecia muito bem. Euro. Bem na minha frente.
– Estou. Obrigada.
Consegui me recuperar e levantar. O lugar ainda estava rodando e eu tinha atraído a atenção de todos mas resolvi focar na respiração e tentar sair dali o mais rápido possível.
– Por que a senhora não se senta? Eu vou trazer um copo de água, tudo bem?
– Não... não precisa. Já estou de saída.
– Olha, não quero ser rude mas a senhora está um pouco verde.
– Bem. Aqui tem algum banheiro?
– Claro. Fica na primeira porta a esquerda.
– Ótimo. Obrigada.
Então saí caminhando extremamente rápido para o banheiro. Assim que me fechei na cabine voltei para o Olimpo com a respiração acelerada e com outro destino em mente.

– Que honra receber sua visita! Pensei que meu reino não era mais digno da sua presença.
– Hades, encontrei Euro.
– Boa noite pra você também!
– É sério.
– Ok, ok, ok. Você está cada dia com menos humor. Me diga logo.
– Ele está trabalhando em um cafeteria perto da casa de uma amiga minha. Era ele. Eu tenho certeza que era ele.
– Certo. Podemos ir até lá e conversar com ele. O que acha? Ele te reconheceu?
– Não. Não me reconheceu.
– Isso é uma ótima notícia! Pelo visto ele passou pelo rio do esquecimento.
– Mas e agora?
– Agora seguimos nossa vida e ele segue a dele, ué. O que mais você quer que eu faça?
– Mas é só isso?
– Helen, minha flor, ele escolheu reencarnar. Aparentemente alguma coisa aconteceu no meio do caminho mas ele seguiu em frente. Não podemos nos meter mais. Essa foi a decisão dele, tudo bem?
– Certo. Você se incomoda em deixar isso só entre nós? Euro e eu tivemos nossa história e Sebastian com certeza não vai ficar muito confortável em saber que ele está de volta.
– Da minha boca não sairá nada mas ele é um deus, cedo ou tarde alguém vai acabar falando alguma coisa.

Voltei novamente para o Olimpo com a sensação de ter levado um surra. Todo o meu corpo doía e, definitivamente, eu precisava da minha cama. Já estava quase chegando lá quando Celena apareceu.
– A senhorita não deveria sumir assim.
– Eu estava com Hades.
– Com Hades?
– Sim. Estou ajudando ele com a decoração do submundo.
– Você detesta decoração, nem se interessou pelo que fizemos no seu casamento.
– Não é bem assim. Ele só queria uma opinião.
– Certo. História confusa. Prefiro não me meter. Agora vamos. Régia teve uma discussão horrível com Berilo e precisa do nosso apoio.
– É o segundo casal hoje que passa por problemas. Afrodite está passando por algum problema emocional?
– Aquela ali é bipolar né?  Ela é o amor mas o ego as vezes a transforma em psicótica.

Então respirei fundo e fui ajudar mais uma amiga. Quando chegamos no quarto de Régia as luzes estavam apagadas e um melodia triste enxia o ambiente. Ela realmente sabia ficar na fossa. Várias garrafas de ambrósia e vinho estavam espalhadas pelo chão. Naquele momento eu a invejei por não poder beber álcool.
– Régia, querida, chegamos – Celena nos anunciou.
Régia apenas deu um gemido desanimado para que a encontrássemos sentada no chão com um camisola suja de vinho e o rosto completamente arrasado. Era de cortar o coração.
– Meu bem, venha aqui –  eu me aproximei e sentei no chão para abraçá-la.
– Ele é um babaca! Ele não quer continuar com o nosso relacionamento aberto, disse que quer casar, ter filhos, morar comigo. Eu não posso!
– Calma. Respira. Ele terminou com você por que quer ter um relacionamento mais sério?
– Não. Eu que terminei com ele. Não quero casar!
E então começamos a tentar acalmar Régia como só as amigas conseguem fazer. Por fim deixei ela com Celena, saí do quarto com a desculpa de buscar um chá e fui atrás de Berilo. O encontrei na sala de treinamento.
– Oi Helen. Tudo bem?
– Mais ou menos. Já soubemos da sua discussão com Régia. A pobrezinha está arrasada.
– Ela terminou comigo e ela que está arrasada?
– Berilo, ela só não quer ser pressionada a ter um relacionamento.
– E enquanto isso eu tenho que aceitar ser um namoradinho dela?
– Qual o problema? Vocês são loucos um pelo outro. O que é mais importante: um rótulo ou ficar perto da mulher que é apaixonada por você?
– Não podemos ficar assim por muito tempo, Helen.
– Eu entendo e concordo que eventualmente vocês vão precisar tomar uma decisão mas por que se precipitar? Você poderia conversar com ela e juntos tentarem chegar a um meio termo. Celena sempre foi prometida a Sebastian e só há pouco tempo se viu livre dessa obrigação, entende? Ela só tem medo de perder novamente algo que levou muito tempo para conquistar. Ela com certeza te ama só não quer ser refém de um relacionamento.
– Bem, eu nunca tinha visto isso por esse ângulo.
– Então. Tome um banho. Arrume um chocolate e vá atrás de Régia.

Consegui ter uma noite de sono tranquila depois de me divertir com Sebastian. Felizmente o humor de Afrodite aparentemente não afetou nosso relacionamento. Decidi voltar para a investigação de Bruno com o objetivo de acalmar Lara de uma vez por todas. Apareci no escritório dele no final do expediente e, mais uma vez, precisei ficar esperando. Perto das oito da noite ele levantou e seguiu para o bar. Dessa vez eu sabia que precisava entrar. O lugar era aconchegante e Bruno seguiu para uma mesa nos fundos. Imediatamente eu notei a morena que já estava sentada na mesa ao lado. Os dois trocaram um sorriso tímido e pareciam conversar mas não se olhavam. Ele e ela estavam virados pra frente e conversavam baixo. Não dava pra saber se eles já se conheciam mas depois de duas horas e muitas bebidas os dois já estavam bem íntimos. A morena encarava Bruno com uma expressão animada e ele, agora de costas pra mim, parecia refletir isso. Os dois saíram andando do bar então eu precisei me esconder em um canto escuro. Em seguida eles entraram em um táxi e sumiram na noite. Precisei de alguns segundos para identificar o paradeiro deles e quando me desmaterializei eles estavam na porta de um motel de quinta categoria. Nesse momento eu respirei fundo e enxuguei umas lágrimas que eu nem sabia que tinha deixado cair. Essa tinha sido a parte fácil. O difícil mesmo seria contar isso para Lara.

– Oi amiga! Está meio tarde, acontece algum problema?
– Não. Eu... só vim...
– Certo. Pode entrar mas não fala muito alto por que acabei de conseguir colocar a Maria Clara pra dormir e começar a fazer um jantar romântico para Bruno e eu. Sabe, acho que eu posso mesmo estar exagerando. O pobrezinho já está com problema no trabalho e eu estou problematizando coisas da minha mente. Vou seguir sua dica e me manter firme forte aqui enquanto ele precisar de mim.
– Eu não dei essa dica, amiga.
– Não? Mas é uma boa dica.
– Lara, podemos nos sentar?
A postura dela mudou imediatamente mas ela concordou em sentar comigo. Quando eu a encarei senti um aperto no peito por ter que contar esse tipo de coisa mas sabia que seria cruel omitir algo assim. Contei exatamente o que o suposto detetive tinha visto. Lara ouviu cada uma das minhas frases mas sua expressão era neutra.
– Não podemos tirar uma conclusão 100% objetiva até você conversar com ele.
– Certo.
– Você quer que eu fique aqui até ele chegar?
– Sim.
– Lara, amiga, eu estou aqui, ok? Eu sempre vou estar aqui.
E então ela desabou. Como uma tempestade de verão vi minha amiga cair em um choro realmente devastador. Senti cada soluço e amparei com meu corpo todos os tremores que percorriam o dela. Ter o coração partido é horrível. Ver alguém partir o coração de uma amiga e ainda mais é cruel.

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