Capítulo 25

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Música sugerida para leitura: Counting Crows - Colorblind

Algumas semanas depois

A casa em Belo Vale precisava de uma faxina então Lara e eu ficamos trabalhando nisso enquanto Maria Clara brincava no jardim. Encontramos um rádio disponível e colocamos pra tocar enquanto trabalhávamos. Era engraçado perceber que mesmo depois de tanto tempo e distância a minha amizade com Lara continuava a mesma.

– Então o Bruno concordou com todas as minhas condições só pediu pra visitar a Maria Clara nos finais de semana – ela me explicou enquanto terminava de tirar o pó de uma estante.

– Era o mínimo que ele poderia fazer né, Lara.

– Eu fui traída menos de um ano depois do casamento. Nada nesse mundo me surpreenderia, amiga.

– Traição é muito delicado e mesmo que a gente aceite as desculpas é difícil apagar a dor que sentimos.

– Sim. Muito. Mas acredita que já estou com uma paquera?

– Ai meu deus, Lara! "Uma paquera". Você falou igual a minha avó agora.

– Mas é uma paquera ué.

– Chame de pretendente, caso, futuro marido, qualquer coisa menos paquera.

– Certo, novinha! Bem, não cogito me relacionar com ninguém com a Maria Clara tão pequena e logo depois desse casamento traumático mas quem sabe no futuro né? É bom saber que alguém ainda tem interesse.

– Não vale bobagem, Lara. Você é gata demais. A gente poderia marcar uma despedida de marido pra comemorar o seu novo estado civil.

– Eu concordo plenamente!

Lara e eu continuamos trabalhando na faxina até o anoitecer em seguida ela foi com a Maria Clara de carro até o centro para comprar o nosso jantar. Tomei um banho, coloquei um vestido confortável e decidi ir para o lado de fora aproveitar a noite. Assim que passei pela porta percebi que não estava sozinha.

– Oi Sebastian.

– Oi Leni.

Ele estava com uma blusa social preta e uma calça jeans. O cabelo preto perfeitamente arruma e os olhos mais intensos que eu já vi. Ele era lindo. Mesmo depois de estar casada com ele ainda me surpreendia com isso.

– Eu pensei que a gente poderia conversar, Leni.

– Sobre o que exatamente?

– Sobre nós. Sua barriga está cada dia maior. Eu não quero perder a sua gravidez, Leni.

– Você poderia ter pensado nisso antes de quase ir pra cama com outra mulher.

– Leni, eu...

– Sebastian, por favor. Eu já disse que você jamais terá acesso restrito ao nosso filho mas eu preciso respirar, ok? Você já falou centenas de vezes que não consumiu o ato com essa mulher mas isso não muda a gravidade da situação. Nós estamos casados. Eu merecia mais do que isso.

– Eu concordo! Eu me arrependo muito daquela noite mas não posso mudar o passado, Leni! Por favor. Não estou te pedindo pra me perdoar e fingir que nada aconteceu mas essa distância está me matando. Eu quero estar aqui pra te ajudar. Eu quero estar aqui quando você tiver o primeiro desejo. Eu quero acompanhar você perdendo todas as suas roupas por conta da gravidez e aturar suas mudanças de humor por causa dos hormônios. Eu fui um babaca e nada do que eu diga vai mudar isso. Estou pedindo pra você confiar em mim quando digo que isso nunca mais voltará a acontecer.

– Eu não vou te perdoar tão cedo, Sebastian, e eu definitivamente preciso do meu espaço. O que exatamente você quer?

– Alguns dias comigo. Só me deixe estar aqui alguns dias. Comer alguma coisa, ver televisão, só conversar. Eu só quero te ver.

– Eu vou pensar nisso, tudo bem? Eu não quero me comprometer com algo que depois me fará sofrer ou a criar dilemas.

– Você quer se separar definitivamente, Leni? – ele me perguntou com uma expressão de cortar o coração.

– Vamos ter um filho, Sebastian. Esse vínculo nunca vai permitir uma separação definitiva. Além disso não me imagino entrando em outro relacionamento tão cedo. Se você quiser uma separação definitiva vou entender.

– É claro que não, Leni. Mas eu estou desesperado. Eu não sei como fazer pra te trazer pra perto de mim. Estou há dias pensando mas nada parece razoável. Eu sinto a sua falta.

– E você acha que eu não sinto? Você realmente acha que eu não quero estar com você? Você acha que todo aquele sentimento incrível foi jogado fora? Não foi, Sebastian. Mas é muito difícil me aproximar de você e te imaginar com outra mulher. É muito complicado aceitar me aproximar e pensar que na próxima briga você vai procurar outra pessoa pra se vingar de mim. Acima de tudo eu tenho medo de me magoar novamente. Entre medo e saudade eu prefiro ter só saudade.

Sebastian me encarou, se aproximou e ajoelhou diante de mim. Suas mãos seguraram minha cintura e apoiou a cabeça na minha barriga ligeiramente inchada. Percebi quando seu corpo começou a tremer um pouco e minhas lágrimas começaram a cair em sincronia. Ele estava tão arrasado quanto eu. Ficamos ali algum tempo. Os dois perdidos nos seus medos.

A manhã seguinte começou quente. Lara e Maria Clara foram para a cachoeira mas eu decidi ficar em casa lendo alguma coisa. Já estava quase na hora do almoço quando alguém bateu na porta e, para minha surpresa, era Davi.

– Que surpresa! Sua namorada te deixou sair por aí sozinho? – brinquei dando um abraço apertado nele.

– Não seja implicante. Karen é um amor só que precisa de certa atenção.

– Por "precisa de certa atenção" eu entendo "chata".

– Encontrei Lara com a Maria Clara na cachoeira. Uma princesa aquela criança.

– Ela é linda demais. Mas entra, senta aqui na cozinha enquanto eu preparo o almoço.

Enquanto eu começava a preparar algumas coisas Davi batucava na mesa e parecia confortável.

– Vou me casar com Karen no final do ano.

– Parabéns! Ela é uma sortuda.

Eu estava prestes a responder quando meu olho começou a ficar pesado e tudo ficou escuro. Antes de apagar completamente só tive tempo de colocar a mão pra proteger a minha barriga.

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