Capítulo 23

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Música sugerida para leitura: The Civil Wars - Poison & Wine

Peguei um casaco enorme e decidi ir atrás de Sebastian depois de meia hora sem saber o que fazer. O Olimpo já estava vazio e calmo naquele horário. Caminhei cerca de dez minutos até finalmente encontrar Sebastian no jardim onde nos casamos.

– Você não precisava aparecer aqui – ele disse sem olhar pra mim mesmo eu estando diante dele.

– Eu sei. Só não queria te deixar sozinho.

– Eu quero pensar, Helen. Preciso de um tempo.

– Eu sei ficar quietinha. Juro que não vou te atrapalhar.

Sebastian ficou em silêncio encarnando a noite por alguns minutos. Eu comecei a trocar o peso do meu corpo e ele percebeu minha inquietação mas mesmo assim não me encarou.

– Você vai ficar cansada.

– Eu já aguentei coisas piores.

– Você pode facilitar, Helen? Eu só quero ficar um pouco sozinho. Só isso.

– Fala comigo. Me deixa ouvir o que te incomoda para que eu possa fazer alguma coisa. A gente já brigou tanto e se feriu tanto por conta do nosso orgulho. Vamos simplificar as coisas, meu amor.

– Helen, você aparece no nosso quarto falando que o seu ex morto que, por acaso, eu tinha matado está vivo e é vizinho da sua melhor amiga e espera o que exatamente?

– Eu não tenho mais nada com ele! Euro nem lembra de mim!

– Mas você lembra dele, Helen. A forma como você fala o nome dele me irrita. Essa mania de fingir que não sente nada por ele também.

– Sebastian, eu só estava curiosa e o encontrei totalmente por acaso. O que você quer que eu faça?

– Que pare de ir atrás desse cara. Que coloque na sua cabeça que agora nós somos uma família e não existe motivo nenhum para "ter curiosidade" sobre um homem que não faz mais parte da sua vida.

– Eu concordo plenamente com você, Sebastian.

– Ótimo. Agora, por favor, me deixe um pouco sozinho.


A noite com Sebastian foi esquisita. Ele voltou quase três da manhã, deitou e dormiu. Ou pelo menos fingiu enquanto eu notava sua inquietude. Antes do amanhecer ele levantou e eu finalmente consegui dormir um pouco. Depois que finalmente acordei e decidi ir atrás dele ao abrir a porta encontrei uma Celena realmente irritada.

– Estélio me paga!

– Bom dia.

– Você acredita que ele está cheio de amizade com uma ninfa?! Dá pra acreditar nisso?

– Ele é louco por você, Celena, deixa de ser boba.

– Você já viu um homem ao lado de uma ninfa? Você já viu Sebastian falando com uma delas? Eu vou te dizer uma coisa: é irritante!

– Calma, ok? Que tal a gente tomar um café e tentar respirar um pouco?

– Certo. Vou tomar vinho.

– Não são nem nove da manhã, Celena.

– Meu fígado não sabe disso. Vamos.

Celena seguiu reclamando sobre o quanto os homens eram encantados por ninfas enquanto eu tentava localizar Sebastian. Fomos para a praça principal do Olimpo onde diariamente o café da manhã era servido para todos. Depois de trinta minutos e uma grave crise de torcicolo eu desisti e decidir tomar o café em paz. Já estava engolindo um último pão de queijo da bandeja quando Zeus apareceu, me deu um beijo na testa e se sentou na nossa mesa.

– Meninas, que belo dia não?

– Sim, pai. Um belo dia para pegar Estélio e transformá-lo em uma estátua.

– Que romântico, minha filha. Esse amor é eterno?

– Eterna é a minha vontade de dar na cara dele.

– Como o amor é lindo né? Cadê Afrodite pra ouvir essa poesia? – falei brincando.

– Pai, ele está dando em cima de uma ninfa!

– Celena, meu pequeno raio de sol, você acha que Estélio dá em cima até da samambaia chorona que temos no jardim. O homem nunca demonstrou nenhum tipo de traição.

– Você está defendendo ele, pai?!

E pronto. Se Celena já estava revoltada ouvir o pai apoiando Estélio era tudo que ela precisava pra aumentar sua crise existencial. Aproveitei a tempestade de emoções pra humildemente pegar minha bandeja de pão de queijo para enchê-la novamente. Já estava voltando pra mesa quando finalmente avistei Sebastian. Ele estava com uma expressão abatida e assim que nossos olhos se encontram ele fez um gesto para que eu fosse em direção ao nosso quarto. Munida da minha bandeja de pão de queijo segui atrás dele. Assim que entrei no quarto e o encarei meu estômago se contorceu.

– O que foi?

– Leni, eu...

– O que aconteceu, Sebastian? Que cara é essa?

– Eu... eu fiz uma besteira.

E então ele se aproximou de mim e, por instinto, eu recuei. Alguma coisa estava muito errada e o cheiro de ambrósia e vodka que emanava dele era um ótimo indicio do problema. Quando Sebastian percebeu que eu não queria sua aproximação ele cruzou os braços e me encarou.

– Você já passou por isso, vai me entender. Ontem eu acabei cedendo a tentação e, por raiva, acabei quase indo pra cama com outra mulher. Quase. Acabei desistindo na última hora e indo atrás de você mas não posso esconder o que aconteceu.

– No início você disse que eu te entenderia. Da onde você tirou isso?

– Você foi pra cama com dois homens. Vai me dizer que acha isso não me magoa?

– Vamos lá, Sebastian. Eu realmente fui pra cama com dois homens mas, no caso, eu estava solteira e você tinha sumido da minha vida por uma escolha sua. Eu não fiquei com nenhum outro homem depois que voltamos.

– Você foi atrás de Euro.

– Fui atrás dele pra me certificar da sua segurança e ver com meus próprios olhos que estava tudo bem. Na prática nem eu sei como encontrei ele. São coisas bem diferentes, Sebastian.

– Eu só queria que você se sentisse como eu me sinto.

– Eu vou te dizer apenas uma vez isso, Sebastian, e espero que você entenda: não sou mulher que aceita traição e acha bonitinho. Eu estou comprometida com você desde o momento que decidimos voltar a ficar juntos. Se você não consegue fazer isso e vai atrás de outra mulher depois de cada briga me avise, por favor, que eu sigo a minha vida daqui pra frente.


E então eu sai do quarto entendendo perfeitamente como Lara havia se sentido: um lixo. Sabia que deveria ir até a casa da minha melhor amiga pra saber como ela estava mas com o meu péssimo humor eu acabaria piorando a situação delicada. Decidi ir para Belo Vale, mais especificamente para a Cachoeira da Pedra. Assim que cheguei o lugar estava vazio e os raios de sol estavam tímidos. Me aconcheguei na minha pedra predileta e comecei a aproveitar o dia quando ouvi alguém se aproximando.

– Problemas no paraíso, querida?

– Oi Hades. É estranho eu não me surpreender mais com a sua perseguição?

– Claro que não! Você sabe que eu sou muito sozinho.

– Certo. E qual é notícia bombástica dessa vez?

– Nenhuma. Tudo uma grande calmaria. Mas pela sua cara já percebi que as coisas não estão bem.

– Mais ou menos. Com certeza já passei por coisa pior.

– Vou te dar uma dica: não sofra mais nenhum um dia da sua vida por outra pessoa. Você já passou muito tempo fazendo isso e o resultado foi péssimo.

Concordei com Hades e o abracei gentilmente. Ele tinha razão. Se Sebastian queria continuar batendo naquela tecla era um direito dele mas eu também tinha o direito de me preocupar com outras coisas. Como o nosso filho, por exemplo.

EnviadosOnde histórias criam vida. Descubra agora