Capítulo 35

2K 178 7
                                    

Música sugerida para leitura: Cary Brothers - Ride

– Chegamos.
Lucas me informou visivelmente cansado e abatido pela viagem. Percorremos centenas de quilômetros e, por fim, chegamos em um casa no meio do nada. Lucas me pegou no colo e me levou até a porta principal da residência. Com os braços e pernas amarrados eu não tinha muito o que fazer então decidi apenas esperar ele me soltar para tentar alguma coisa. O lugar cheirava a mofo e tinha tanta poeira que nós dois começamos a espirrar assim que entramos.
– Você não vai poder ficar aqui desse jeito – ele disse mas eu decidi ficar em silêncio.
Ele me levou até um sofá igualmente sujo e cheio de poeira e me colou sentada ali.
– Eu vou te soltar pra você ir ao banheiro mas não quero que você tente nada idiota, certo?
– Você sabe que eu vou tentar algo assim, Lucas.
– Então vou ter que te levar ao banheiro.
– Lucas, por que a gente não tenta ter uma conversa? Eu posso te ajudar.
– Eu não quero a sua ajuda. Eu quero os seus filhos.
– Seja razoável, por favor. Você não precisa dos meus filhos. O Enviado que está no seu corpo que está te induzindo a fazer e querer esse tipo de coisa cruel e sem propósito.
– Enviado?
– Sim, querido. Senta aqui que eu te explico tudo.
E, para minha total surpresa, ele sentou e me ouviu. Falei detalhadamente cada ponto e expliquei sem nenhum tipo de problema a nossa história. Falei um pouco sobre o que eu sabia da vida de Euro e deixei claro que embora a alma dele tivesse sido enviada para me matar ele não tinha culpa nenhuma. A única filha da puta daquela história era Martha. Ao final da minha longa narração Lucas me olhou confuso e desconfiado.
– Eu sinto coisas, entendeu? Alguma coisa dentro de mim me faz ter a necessidade de cumprir essas ações. Eu sei que foi um erro sequestrar a Maria Clara mas eu simplesmente precisava fazer isso.
– Eu entendo, Lucas. De verdade. Um Enviado é extremamente poderoso. O trabalho que Martha fez foi extremamente bem feito. Você não tem culpa de nada.
– E como eu vou me livrar dessa coisa?
– Tecnicamente ainda não sei como te ajudar mas se você tentar fazer alguns exercícios de respiração quando tiver vontade de me matar acho que já será bem positivo.
– Eu sei que deveria te levar agora mesmo pra casa mas alguma coisa mais forte que eu não permite isso – ele disse visivelmente envergonhado.
– Tudo bem. Me deixa apenas avisar que estou bem.
Lucas me deixou enviar uma mensagem mas me manteve amarrada quando saiu pra comprar comida. Me senti aliviada por ele finalmente ter escutado a história completa mas eu sabia da força de um Enviado. O fato dele saber da história não significava que ele me manteria viva e, acima de qualquer coisa, a minha prioridade era proteger meus filhos. Ele voltou com uma quantidade realmente enorme de comida e, por fim, soltou minhas mãos para que eu pudesse comer.
– Eu sei o quanto isso tudo é errado. Me desculpe – ele disse em meio as garfadas.
– Eu queria tanto que você tivesse acesso as memórias de Euro. Tecnicamente essa alma que está aí dentro é dele. Nunca existiu alguém no mundo mais preocupado em me proteger do que ele.
– Nem Sebastian?
– Sebastian é o homem da minha vida mas a minha história com Euro foi intensa e bem sincera. Quando Sebastian me abandonou e eu acabei sendo raptada por Hades encontrei em Euro a segurança que eu precisava.
– E como Sebastian lidou com isso depois que vocês voltaram a ficar juntos?
– Ele não era muito fã de Euro, obviamente. Eu fiquei sabendo por Hades sobre a decisão de Euro de ir para o Rio das Almas. Fiquei arrasada mas entendi a decisão dele.
– Deve ser difícil ver a mulher que você ama voltando para o ex.
– Sim. E eu me senti um lixo por N motivos.
– Se arrepende de ter ficado com Sebastian e não com Euro? Pelo que você me contou ele morreu no mínimo umas vinte e cinco vezes por sua causa – ele disse com um sorriso no rosto.
– Não me orgulho do que fiz mas não me arrependo. Fiquei com dois homens depois que Sebastian me largou e deixei isso muito claro pra ele quanto decidimos voltar a ficar juntos. Vivi duas histórias enquanto ele estava em busca da sua imortalidade e não escondi isso dele. Foi uma decisão de Sebastian ficar comigo depois de saber disso.
– E se Sebastian tivesse feito o mesmo? Você aceitaria ficar com ele?
– Sinceramente? Sim. Não que eu goste de sofrer ou queira algum tipo de casamento aberto mas eu acho que o destino tem um jeito esquisito de nos ensinar algumas coisas. Eu amo Sebastian e eu agradeço diariamente por ele estar comigo, me proteger e ser o pai dos meus filhos. Porém também amei Euro e agradeço muito por ele ter cuidado de mim, me amado e me apoiado em momentos tão difíceis.
– Eu queria lembrar disso.
– Eu também adoraria que você se lembrasse, Lucas. Eu amei muito a alma que está aí dentro. Eu espero que, de alguma forma, a gente consiga despertá-la e mandar esse enviado pra puta que pariu.

EnviadosOnde histórias criam vida. Descubra agora