Capítulo 40

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Música sugerida para leitura: Flocks And The Lookout - Hills And Valleys

– Meu bem, você precisa levantar dessa cama.

Sebastian tinha razão. Eu estava realmente em um ciclo vicioso entre cama > banho quente > comer > cama. Eu tinha voltado para a minha casa perto da Cachoeira da Pedra e era incrível o tamanho da felicidade que eu sentir simplesmente por estar deitada na minha cama. Meu quarto era banhado pelos raios de sol durante o dia e uma brisa gostosa fazia o ar circular. Sebastian aparecia pra me fazer companhia e Lara sempre trazia a Maria Clara para brincar comigo mas, de fato, eu não tinha planos que envolveria sair daquele loop gostoso de atividades. Sebastian entendeu esse meu comportamento nos primeiros três dias mas, depois de uma semana, ele estava começando a ficar bastante inquieto.

– Querida, o que você acha de conversar com Celena e Régia? Elas estão doidas pra te visitar.

– Ainda não. Eu só quero me recuperar, tudo bem?

– Claro, Leni. Só não acho saudável você ficar muito tempo presa e sozinha.

– Eu vou sair dessa, ok? Só me dê mais uns dias. Eu entendo sua preocupação, Sebastian, mas passei por tantas coisas nesses últimos dias que só quero ficar um pouco na minha.

– Certo, querida. Vou descer e trazer alguma coisa pra você comer.

Aproveitei o momento sozinho para refletir sobre a o quadro geral. Eu estava bem fisicamente, as crianças estavam saudáveis e isso era extremamente surpreendente diante de tanto estresse. Contudo na minha cabeça se eu fizesse qualquer coisa errada alguma coisa sairia do planejado e eu entraria novamente no loop de novela mexicana. Eu tinha medo de sair da minha cama e esbarrar com um enviado ou ter que lutar novamente pela minha vida. De uma forma esquisita eu achava mais segura ficar quieta, parada e em silêncio para evitar qualquer desvio de rota que me levaria a mais uma batalha. Meu lado racional sabia que era besteira mas meu lado emocional considerava genial. Estava totalmente absorta nesses pensamentos quando Baco entrou no quarto com um sorriso no rosto.

– Oi – eu disse.

– Você está cada vez mais pálida. Vai precisar sair desse casulo mais cedo ou mais tarde.

– Sebastian acabou de sair daqui falando a mesma coisa. Estou ciente disso, Baco.

– Ótimo. Esse cara te ama de verdade e olha que eu já tive muitos amores ao longo da minha vida. Ele é completamente obcecado pelo seu bem-estar.

– Ele é incrível mesmo. As vezes acho que não sou tão gentil ou romântica o suficiente. Acho que não sei demonstrar meus sentimentos tão bem quanto ele.

– Por que não faz uma surpresa pra ele? Você já está bem barriguda mas consegue pensar em alguma coisa sexy e divertida pra vocês.

– Baco! Se controle.

– Me desculpe – ele disse caindo na gargalhada – mas fica a dica.

– Certo. Mas e você e a Lara? Ela não me falou mais nada sobre essa história.

– Estamos, como se diz mesmo por aqui? "Nos conhecendo". Ela é maravilhosa.

– É sim. Ela ainda te chama pelo nome fictício?

– Não. Eu expliquei que meu apelido era Baco, por motivos óbvios, e ela gostou.

– Que bom. Toma cuidado dela, ok? A minha amiga é o único elo que tenho com minha antiga vida.

Conversamos mais algumas banalidades até Baco decidir me deixar descansar. Era engraçado como uma mulher deitada há uma semana ainda era considerada apta para "descansar". Decidi aproveitar minha cama e o vento gostoso que entrava pela janela. Adormeci daquela maneira gostosa que só um cochilo no meio do dia consegue proporcionar. Estava tudo normal e agradável até que eu percebi que um sonho se formava no meu subconsciente. Alguém estava tentando se comunicar comigo.

– Olha só você.

A voz eu reconheceria em qualquer lugar. O sonho tomou forma e eu meu vi na Cachoeira da Pedra encarando a mesma menina. Martha. Ela estava sentada em uma das pedras e me encarava com uma expressão divertida e assustadora. Na minha mente eu só consegui sentir raiva pelo fato de ter matado aquelas mulher uma vez não ter sido o suficiente.

– O que você ainda quer comigo, Martha?

– Bem. Você estragou meus planos, bonitinha. Meus poderes estão acabando.

– Isso é uma despedida então? Devo chorar de emoção?

– Você sabe que os seus filhos serão deuses, certo? Já parou para pensar nas implicações disso?

– No momento eu só quero pensar no fato de nunca mais precisar olhar pra sua cara.

– Não seja revoltada. Estou levantando um assunto importante. Você conseguiu cumprir o seu objetivo: matou o enviado. Seus poderes logo estarão de volta e você será aceita no Olimpo mas e quanto ao futuro? Celena me odeia e eu sempre fui uma mãe muito atenciosa.

– Você assediou o meio-irmão dela.

– Isso foi apenas um detalhe. Só estou querendo te dizer que o Olimpo não é aquele mar de rosas que você pensa que é. Os deuses e serviçais podem ser traiçoeiros. A fome pelo poder pode destruir até as relações mais bonitas.

– Certo. E a troco de que você está preocupada comigo? Você mandou um enviado me matar e agora vem me dar dicas de sobrevivência. Você não consegue enxergar sua insanidade?

– Eu sei. Eu só estou te dizendo isso pra você não cometer os mesmos erros que eu. A minha história vai chegar ao fim em breve. Só estou querendo dizer que a sua história pode acabar da mesma forma se você não tomar cuidado.

E então eu acordei com o coração na boca. Eu tinha aprendido a lição de não acreditar plenamente em profecias mas alguma coisa no olhar de Martha me fez pensar. Eu protegeria meus filhos e saber que agora eles seriam aceitos no Olimpo era um alívio muito grande. Finalmente decidi sair da cama, me enrolei em um roupão e fui em direção ao térreo. Eu precisava seguir em frente e começar a planejar a minha vida.

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