Música sugerida para leitura: James Bay - Let It Go
– Isso parece uma cena de guerra – eu sussurrei.
O quarto de Sebastian e Leni estava uma verdadeira trincheira. Tinha caixas e caixas de fraldas, lenços umedecidos e um monte de pano. No meio do caos Agnes e Enzo morriam de rir de alguma palhaçada que Sebastian estava fazendo enquanto Leni tirava um cochilo.
– Filhos, olha quem veio brincar com vocês enquanto o papai dorme?
– Sem essa. Só vim fazer uma visita rápida.
Sebastian e eu nos cumprimentamos e eu me joguei na cama para ficar mais perto dos pequenos. Enzo parecia uma pequeno tanque de guerra. Os olhos atentos a todos os movimentos e um sorriso estampado no rosto. Agnes parecia uma lady sentada. Sua expressão era um misto de "ei, já que veio até aqui trate de me surpreender" com "você não é a minha mãe". Uma verdadeira boneca.
– Celena ainda não falou nada sobre ter filhos?
– Você conhece a sua irmã, ela nasceu pra isso mas vai postergar o máximo que puder.
– Imaginei que com as crianças por aqui ela fosse se animar.
– Por enquanto não. E a Leni? Segurando as pontas de boa?
– Ela é teimosa mas aguenta o tranco. Ter gêmeos realmente é uma experiência assustadora e cansativa mas compensa muito.
– Quem diria que a gente acabaria assim né? Eu amarrado na sua irmã e você pai de duas crianças.
– A Leni mudou completamente a minha vida. Já você e a minha irmã sempre se pegaram, nenhuma novidade.
– Se eu tivesse uma irmã eu não deixaria ela se envolver com você, cara.
– E você acha que eu deixei?
Caímos na gargalhada enquanto Agnes, lentamente, começou a se mover na minha direção. Seus olhos azuis e seu semblante sereno deixando claro que achava aquela conversa entre homens bastante chata. Enzo aproveitava o momento para puxar o cabelo do pai como se não houvesse amanhã.
Sebastian definitivamente tinha se tornado um homem diferente depois que Leni entrou na sua vida. Crescemos juntos, sempre fomos como irmãos mas no fundo eu sabia que ele sentia um vazio difícil de preencher. Ser filho de Zeus era uma responsabilidade tremenda que exigia dele uma postura bem diferente dos demais. Como amigo dele eu tentava ajudá-lo mas às vezes tudo que ele queria fazer era ficar sozinho por um tempo. Foi interessante acompanhar essa mudança de postura assim que a Leni apareceu. Ele com certeza encontrou nela o porto que ele procurou durante boa parte da vida dele e, como amigo dele, eu me sentia tremendamente feliz por isso.
– O que vocês dois estão aprontando hein? – disse Leni levantando da cadeira onde estava cochilando.
– Eles estão brincando conosco, amor – Sebastian explicou.
– Não estou falando das crianças, estou falando de vocês dois.
– Olha só, você já foi mais simpática comigo, Dona Leni. Só porque está dormindo pouco, comendo comida sem graça e tendo que se virar em trinta pra cuidar desses dois você acha que pode me tratar mal? – eu disse implicando.
– Eu só não confio muito em vocês dois cochichando. Da última vez que isso aconteceu você roubou o meu marido durante alguns dias.
– Era a despedida de solteiro tardia dele!
– Se ele já tinha casado não era mais despedida de solteiro. Acabaria sendo a despedida de esposa, no caso, eu.
– Não seja dramática, amor. Só bebemos, comemos besteira e falamos mal sobre essa mania de querer amarrar um homem.
– Querido, eu não sei se você se recorda mas quem me pediu em casamento foi você.
Cai na gargalhada e deixei os dois iniciarem uma troca de alfinetadas enquanto eu me despedia das crianças e seguia atrás de Celena. Só consegui encontrá-la quarenta minutos depois na cozinha ajudando nos preparativos para o almoço. Era engraçado como eu sempre ficava ansioso para encontrar Celena mesmo depois de tanto tempo juntos. Os longos cabelos loiros dela estavam preso em um coque bagunçado, ela usava um avental por cima do vestido preto e justo que ela tanto gostava e seus olhos brilhavam de prazer por poder cozinhar.
– Oi, meu bem! Que bom que veio me visitar – ela disse me recebendo com um beijo.
– Estava com seus sobrinhos, eles estão cada dia mais lindos.
– Estão sim. Eu acho que a Agnes vai ser uma mistura minha com a da Leni.
– Vocês tinham um caso e você não me contou? – eu disse fingindo uma cara de ofendido.
– Não seja ridículo. Agnes tem os olhos do meu irmão, que são parecidos com os meus, mas de resto é idêntica a Leni. Sabe, as vezes fico pensando em como nossos filhos vão ser.
– Eles vão ser? Jurava que você postergaria a maternidade por uns séculos.
– Eu não disse que quero engravidar hoje, Estélio. Mas obviamente quero ser mãe e fico me perguntando como seria. Meu irmão está se saindo um pai exemplar. Você também faria isso ou me deixaria de lado? – ela disse fazendo a melhor carinha de cachorro abandonado.
– Não seja boba. Quando você decidir ser mãe eu já vou começar a te mimar, imagina quando nossos filhos nascerem?
– Eu gosto dessa ideia, meu bem. Gosto muito.
E ali, abraçando a mulher da minha vida eu soube que era um homem de muita sorte.
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PertualanganContinuação do Livro "Melhor Parte" Deixar sentimentos para traz nem sempre é parte mais fácil. A vida é capaz de nos surpreender a cada esquina, cada desvio de rota e nem sempre estamos preparados para tantas mudanças. Isso não significa que precis...