Música sugerida para leitura: Goo Goo Dolls - Iris
São três da manhã. No Olimpo a temperatura agradável de sempre traz algumas lufadas de ar para dentro do quarto. Nosso antigo quarto de casal virou uma espécia de centro de comando maternal. Minha mulher está dormindo, o sono pesado e merecido depois de mais um dia tendo que lidar com uma lista imensa de tarefas. As vezes tenho a sensação de que a Leni jamais conseguiria entender o tamanho do meu amor por ela. Desde o primeiro encontro alguma coisa me dizia que aquele garota que eu eu quase atropelei mudaria a minha vida e, principalmente, me mudaria. Antes de conhecê-la eu precisava entrar no Olimpo, me tornar um imortal e conquistar o respeito do meu pai. Depois que ela entrou na minha vida eu percebi que nada daquilo tinha tanta importância se eu não pudesse dividir com ela. Precisamos lutar tanto pra ficar juntos. Fui covarde, babaca e filha da puta em tantos momentos mas, no fundo, eu só tinha um medo absurdo de machucá-la ou perdê-la. As três da manhã, velando seu sono, eu acho que mesmo com todos os atalhos nós conseguimos chegar exatamente aonde sonhamos. Foi sofrido, custoso e perigoso mas valeu muito a pena.
Um choro baixo me tirou dos meus devaneios. Enzo era enorme mas chorava com uma calma tão grande que parecia apenas uma forma dele dizer "ei, eu sou grandão mas preciso de atenção". Peguei o meu filho no colo, cada dia mais cheio de dobrinhas e pesando cada vez mais. As mãozinhas dele foram direto para o meu rosto e eu o embalei calmamente tentando distraí-lo um pouco antes de acordar a Leni para amamentá-lo.
– Ei garotão, a sua mão precisa dormir mais um pouquinho. Você sabe que ela é a mulher mais incrível do mundo né? Ela é gentil e amorosa mas sabe fazer uns golpes de luta muito irados. Quando você crescer tenho certeza que ela vai ensinar tudo isso pra você e pra sua irmã.
Enzo dava uns sorrisinhos enquanto eu sussurrava mais um pouco sobre a mãe dele. Eu esperava que meu filho acima de tudo tivesse saúde e fosse cercado por todo o nosso amor. É engraçado como eu só consegui assimilar a paternidade quando peguei meus filhos pela primeira vez no colo. Acho que durante a gravidez eu estava tão preocupado com a saúde da Leni que não sobrou muito tempo para pensar nisso. Segurar meus filhos pela primeira vez foi um misto de alegria plena e um medo tremendo. Eu precisaria protegê-los, amá-los e ensiná-los e isso era extremamente assustador. Ainda me pego morrendo de medo do futuro mas sempre que olho pra Leni e ela está toda sorridente e feliz eu fico mais tranquilo. É ela que me faz acreditar no futuro e no fato de que criaremos os nossos filhos da melhor forma possível.
– Não precisa ficar com pena de me acordar, Sebastian – Leni disse com um sorriso enquanto sentava na cama e estendia a mão para pegar o Enzo.
– Eu estava trocando uma ideia com esse menino. Ele já é um rapaz – eu disse entregando o nosso filho, sentando ao lado dela da cama e a puxando para perto.
– É mesmo. Os dois estão crescendo tão rápido, nem parece que vão completar um mês daqui a alguns dias.
– Vai querer fazer alguma festinha pra comemorar? Provavelmente Celena e Régia já organizaram tudo.
– Elas são umas fofas né? Nitidamente as duas estão loucas pra ser mãe.
– Você acha? Minha irmã parece que não tem muito jeito pra isso não.
– Bobagem. As duas levam o maior jeito com crianças. Espero que Estélio e Berilo entendam o recado – ela disse rindo e eu fiquei ali admirando a minha mulher com cara de bobo.
– O que foi? – ela perguntou séria.
– Você é tão linda, meu bem.
– Você está falando isso só por que quer mais três filhos. Eu já disse: preciso de um tempo – ela disse implicando comigo mas falando com total propriedade sobre o meu desejo de aumentar ainda mais a família.
– Eu não vou te pressionar, Leni. Teremos os próximos somente quando você quiser. Tudo bem?
– Tudo ótimo, amor. Quem sabe a gente não monta um time de futebol?
– Seria cansativo e lucrativo também.
Nesse momento Agnes percebeu que estava perdendo a festa em família e abriu o berreiro. Essa menina com certeza teria futuro como cantora de ópera. Levantei para pegá-la no berço e, em seguida, voltei para cama enquanto a Leni terminava de amamentar o Enzo.
– Oi filha, seu irmão já está acabando – Leni falou fazendo carinho na barriga da Agnes.
Como se entendesse perfeitamente a situação nossa filha parou de chorar e me encarou com uma expressão séria que nitidamente dizia "você não é a mamãe". Era engraçado olhar para os olhos de Agnes e me ver ali. Os olhos azuis eram tão claros quanto os meus. Era como ver uma versão minha absurdamente melhor.
– Dá um medo danado né, amor? – Leni falou com uma expressão cansada e um sorriso no rosto que parecia ter sido fixado ali desde o nascimento das crianças.
– Muito. Mas a gente com certeza vai tirar de letra. Nossos filhos terão um futuro incrível.
– Tenho certeza que sim. Obrigada pelo apoio, eu não faço ideia do que faria sem você aqui pra me ajudar.
– Provavelmente chamaria Celena ou Régia – eu disse rindo.
– Sim mas essa duplinha aqui já ama o pai em um nível absurdo. Você está sendo incrível, de verdade.
– Eu te amo, Leni. Faço qualquer coisa por você e por eles. Isso inclui esperar o seu "tempo" antes de termos mais filhos.
– Não força a barra, querido – ela disse rindo e me beijou.
E ali com minha filha no colo e minha mulher segurando meu filho eu tive certeza do que era o "felizes pra sempre" dos filmes. Era um misto de amor, alegria e uma sensação inexplicável de felicidade. Definitivamente eu era um homem de muita, muita sorte.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Enviados
مغامرةContinuação do Livro "Melhor Parte" Deixar sentimentos para traz nem sempre é parte mais fácil. A vida é capaz de nos surpreender a cada esquina, cada desvio de rota e nem sempre estamos preparados para tantas mudanças. Isso não significa que precis...