Capítulo 19

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  Música sugerida para leitura: Lily Allen - Somewhere Only We Know

– Ai. Meu. Deus.

– Você está me assustando, Leni.

– Positivo. Deu positivo. Sebastian, você pode confirmar aqui? Positivo. Eu vou ser mãe. Ai meu deus. Mãe!

Sebastian deu uma olhada rápida no papel e me levantou em um abraço pouco convencional no meio de uma clínica mas eu achei melhor aproveitar o momento e ignorar os olhares confusos. Um filho. O nosso filho. Não que eu não acreditasse nas Parcas mas não custava nada confirmar. Meu cérebro de mortal exigia esse tipo de burocracia mesmo Sebastian achando uma perda de tempo.

– Vamos pra casa. Meu pai vai querer dar uma festa daquelas assim que a gente confirmar a gravidez.

– Um filho. Sebastian. Vamos ter um bebê.

– Vamos, meu amor. E ele será incrível.

– Ele vai ser um mortal ou um semi-deus?

– Uma ótima pergunta. Mas não faço ideia. Meu pai e Hades devem ter alguma teoria sobre isso mas, sinceramente, o máximo que vai acontecer é precisarmos ir embora do Olimpo e eu não me preocuparia muito com isso.

Certo. Não se preocupar. Parecia uma ideia sensata mas era difícil convencer meu cérebro a seguir nessa linha. No caminho para a Cachoeira da Pedra centenas de dúvidas inundavam minha cabeça. E se o meu filho quisesse se tornar um deus e acabasse em uma missão suicida tal como o pai? E se ele se apaixonasse por uma deusa? E se ele fosse alvo de outra psicótica como a Martha?

– Leni, meu bem, estou falando com você há vinte minutos.

– Me desculpe, amor. Estou um pouco... nervosa.

Sebastian parou de andar e segurou meus braços de uma maneira delicada.

– Você não precisa surtar. Um filho mudará nossa vida positivamente.

– E se a gente estragar tudo?

– Meu amor, como estragaríamos? Você precisa confiar em nós, ok?

Chegar no Olimpo foi como chegar em primeiro lugar em uma competição. Festa. Música. Bebida liberada. Aquela animação tão peculiar dos deuses.

– Eu vou ser vovô! Essa criança será uma benção nas nossas vidas! – Zeus berrava aos quatro ventos.

– E eu seria tia. Já imagino essa criança bagunçando meu cabelo e me mordendo. Vai ser lindo! – Celena comemorava.

– Já pensaram em um nome? – Estélio perguntou.

– Ainda não. Temos muitas opções. Vamos analisar com calma.

– Eu acho que uma homagem para o vovô seria de bom tom.

– Pai, deixa de ser presunçoso. É melhor colocar Sebastian Júnior.

– Credo! Que mau gosto – Celena discordou sem que eu precisasse esboçar minha opinião.

E então a festa seguiu com essas discussões banais sobre fraldas, roupas, nomes e alinhamento estrelar na hora do nascimento. Deuses eram tão animados quanto qualquer mortal quando o assunto era um bebê. Celena e Régia já tinha planejado todos os looks da criança até uns sete anos de idade. perto do anoitecer eu decidi ir para o quarto, tomar um banho e devorar um pote de sorvete. Já estava na cama comendo quando ouvi um barulho e logo em seguida a porta se abriu.

– Que loucura lá fora!

– Hades, você pode me avisar antes de entrar no quarto? Eu poderia estar nua.

– Quanta burocracia! Vim visitar a grávida mais conhecida do Olimpo e você me recebe com essa grosseria.

– Certo, me desculpe. Vem cá.

Hades se aproximou. Me abraçou gentilmente e sentou do meu lado já roubando a minha colher e enfiando uma colher de sorvete na boca.

– Por que veio tão tarde?

– Eu pensei em deixar pra aparecer aqui só amanhã mas surgiu um imprevisto.

– Ah não. Eu detesto quando você aparece do meio do nada falando sobre imprevistos. Desembucha logo.

– Você está muito reativa hoje. Isso fará mal ao bebê. Melhor eu voltar amanhã.

– Hades, você não sai daqui até me contar o que está acontecendo.

– Calma! Eu só queria dizer que a alma de Euro não seguiu o fluxo conforme eu tinha ordenado. Ele se perdeu em algum momento e eu não sei exatamente como.

– Oi?

– Funciona assim: O Aqueronte é o rio da dor, o rio Cócito é do lamento, o Flegetonte do fogo, o Lete do esquecimento e o Estige da invulnerabilidade. Eles fazem a fronteira entre os mundos superiores e inferiores. O pequeno problema é que em algum momento desse fluxo a alma de Euro se perdeu e quando eu digo isso é tradução é: não faço ideia de que porra causou isso mas agora tem uma alma perdida por aí.

– Hades, por favor, me diga que eu não preciso me preocupar com isso.

– Garota, eu juro que eu queria te dizer isso mas eu não sei em que momento a alma dele foi perdida. Se foi depois do rio do esquecimento ele não vai saber quem é. O problema é se foi no início e ele acabar se sentindo prejudicado. Ele decidiu ir para os rios pois você decidiu ficar com Sebastian. A gente sabe que esse tipo de coisa causa certos traumas.

– Vamos para as questões práticas, ok? Se a alma dele está perdida por aí estou interpretando que ele não tem um corpo. Certo?

– Sim. Mas ele conseguiria assumir um corpo muito facilmente. Imagine que uma pessoa sofreu um acidente de carro e está prestes a morrer. Se a alma dessa pessoa sair do corpo e Euro estiver por perto ele pode assumir. Obviamente ele terá que lidar com as dificuldades físicas mas ele é um guerreiro então não seria nada de outro mundo.

– Você acha que pode tentar me fazer algum mal?

– Eu sinceramente não sei, minha querida. O Euro que se apaixonou por você definitivamente não te faria mal algum mas a alma que saiu dos rios e está solta por aí é um mistério. Ele pode pensar em vingança e eu seria um filho da puta se não te alertasse dos riscos.

– Então tirei a Martha do jogo e agora tenho outro preocupação. Esse é o resumo.

– Exatamente. Eu nunca te disse que a vida de um deus seria fácil.  

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