As aulas do colégio estavam todas adiantas pra que terminássemos o ano antes do enem. Ou seja, acabaríamos em setembro. Entretanto, já era final de julho e eu estava totalmente atrasada. E mais, depois da notícia do Iago, eu não tinha condição alguma de fazer nada.
Meus pais conversaram com os diretores e no final do ano letivo, eu faria uma prova com todo conteúdo dado.
Hoje era o funeral do Iago. Minha tia estava inconsolável, minha avó também. Era impossível não sentir uma dor imensa.
Tomo banho, pego um vestido preto e visto, passo a escova no cabelo e o deixo solto mesmo. Calço uma sapatilha qualquer e vou até a sala. Joana tá deitada no colo do Rodrigo e Edu me espera no balcão da cozinha.
Assim que ele me vê, vem até mim e me abraça, beijando minha cabeça.
— Vamos logo acabar com isso.
Digo, respirando fundo.
Descemos, todos quietos, Rodrigo abre o carro e eu entro no banco de trás com o Edu.
(...)
— Carrapato, era assim que eu chamava ele. – respiro fundo e prossigo. — Ele era meu melhor amigo da vida inteira, certamente, será pra sempre. Pra qualquer coisa desse mundo, ele tinha as palavras certas. Ele sabia a hora de me acolher ou a hora de me jogar pro mundo. A hora de alisar minha cabeça ou a de puxar a minha orelha. – limpo as lágrimas que escorrem. — Não há ninguém no mundo capaz de suprir a falta que ele irá fazer, então vou transformar tudo que ele representa pra mim em gratidão e coloca-lo no lugar mais especial que houver dentro do meu coração.
Joana levanta e sai correndo pelo corredor de cadeiras.
— Ele era bom demais pra esse mundo e com certeza, sua missão foi cumprida. Eu queria ter me despedido, mas acredito que Deus sabia que nossa última lembrança era especial demais pra se transformar em dor. Estás eternizado em cada um dessas coraçãos aqui presentes, Iago. E tua vida que será lembrada e não tua morte. Você era precioso demais pra esse mundo, agora você tá no lugar de onde, talvez, nunca devesse ter saído.
Engulo o soluço.
— Com todo amor que houver nessa vida, sua Luluzinha.
Amasso o papel e o jogo no chão, descendo e correndo pra procurar a Joana. Alguém foi falar mais algumas coisas lá.
— Meu amor!
Encontro a Joana embaixo de uma árvore e a abraço.
— Por que tinha que ser ele? – ela diz.
— Nunca saberemos...
— Ele era pra ser meu padrinho! Tá comigo lá no altar! Ver meu filho nascer! Nossa formatura! Iago, seu filho da puta, você não tinha esse direito!
Ela chorava mais ainda.
Levanto ela, ainda abraçadas e voltamos até o funeral. Tiro do bolso um papel de bala e jogo no buraco que estava cavado e já com o caixão dentro. Que cena horrível.
— Nosso último pirulito!
Sorrio fraco.
Dou alguns passos pra trás e Eduardo me abraça novamente, de lado. Volto a chorar como uma criança e parece que cada areia jogada ali é um pedaço de mim que vai embora.
Iago Tavares de Souza.1996 – 2016.
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Sobre o Verão Passado
Romantik"Eu nunca soube bem como funciona o amor, mas acredito que todo tipo de sentimento deve ser vivido intensamente. Eu tinha tudo que sempre quis (ou achei que quisesse) nas mãos, porém por acreditar nesse sentimentalismo barato, me vi jogada numa encr...