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A verdade é que não. Ele não retornaria mais minhas chamadas. Nem aquela, nem nenhuma outra. Nem minha, nem de ninguém.

— Eu não consigo acreditar nisso! – era tudo que saía da minha boca.

Eu não conseguia controlar o choro ou pensar em mais nada, eu queria meu primo e meu melhor amigo ali, agora. Era um absurdo, só podia ser, tudo aquilo que estavam me contando. Era uma brincadeira de mal gosto, aposto que ele planejou tudo pra poder me fazer surpresa, só podia ser isso, né?

Não.

Não era.

Eu vi os telejornais que não me deixaram assistir no dia em que liguei e ele não atendeu, mas eu não percebi o porquê. Eu notei os olhos pesados da minha irmã e o drama do Eduardo em não me deixar ligar pra ele. Ele não ia atender de novo, é claro.

"Melhor não contar pra ela agora"

Todo mundo quis esconder de mim e conseguiram, mas não aguentaram por muito tempo.

Era manchete em qualquer lugar.

"Acidente de carro na BR 101. 3 mortos e um ferido. Motorista de caminhão foge do local."

Ele podia ser o ferido, né? Por que não? Porque a vida é uma fodida e não cansa de nos dar rasteiras.

Três mortos.

Três.

"Jovem que dirigia estava acompanhado de mais dois amigos, um no banco carona e outro no banco de trás. Caminhão perde o controle e atravessa a pista, jogando o carro contra a barreira e esmagando o veículo. Nenhum dos jovens do carro sobreviveu."

— Um dos jovens foi identificado como Iago Tavares de Souza. – li na reportagem. — Não, não, não pode ser. Eu me recuso a acreditar nisso!

Jogo o jornal longe e, o Eduardo deita na cama, me abraçando forte.

— Meu primo não, Du.

Eu soluçava como uma criança de 5 anos.

Pego o telefone e disco seu número.

"Coé, firmeza? No momento não posso te atender, mas deixa teu recado aí. Talvez eu ouça. Flw! Se for mina, manda nudes."

A voz dele, que saudade! Apesar da mensagem da secretária eletrônica ser escrota, eu não conseguia parar de ligar para ouvir aquilo.

— Ele vai me responder, ele vai me atender.

Joana puxa o celular da minha mão e desliga.

— Alina! – ela não aguenta mais segurar o choro e desaba. — Ele não vai atender! A gente tem que aceitar, o Iago morreu!

Ela senta na poltrona e afunda o rosto entre seus joelhos, chorando tanto quanto eu. Suas palavras entram no peito como uma faca.

Olha só, que ironia do destino. Eu finalmente receberia alta e a primeira coisa que iria fazer, era ir enterrar meu melhor amigo.

Desgraça de vida! 

Sobre o Verão PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora