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- Naaaaão... Me solta... O que você vai fazer???? Não.. Isso não... Por favor... Naaaãooo... Aaaahhh...

Acordo sobressaltado e assustado com o meu já frequente pesadelo, que me persegue desde que... Aquela merda aconteceu.

Me sento na cama e olho a hora no celular, ainda é uma hora e cinquenta da manhã, respiro fundo pra tentar me acalmar um pouco e me levanto pra ir na cozinha.

Tento sair de fininho pra não acordar minha mãe que dorme no quarto ao lado, mas quando vou abrir a porta meu lado desastrado se ativa, e eu esbarro na própria porta ao tentar passar pela pequena brecha que eu abri, fazendo ela rangir. Congelo no mesmo instante numa posição que não ajudou muito, ouço apenas o estrondo da porta batendo com toda força na parede. Só então percebo que quando me desequilibrei eu escorei todo o peso do meu corpo nela pra não cair o que só piorou a situação.

Merda.

- Christian que barulho foi esse? Ficou maluco garoto? - ouvi minha mãe gritar do quarto dela.

- Desculpa mãe, eu caí... Vou na cozinha tomar água. - respondo me levantando e sinto minhas costas doerem, graças a meu super equilíbrio.

- Vai logo e vê se não destrói minha casa viu? - ela responde sonolenta.

- Tá bom - reviro os olhos e desço as escadas.

Assim que chego na cozinha me deparo com o jogo de facas da minha mãe, sou bombardeado imediatamente por vários flashbacks daquele maldito acontecimento, pego uma das facas, a maior.

Vou acabar com isso agora mesmo - penso ao encostar levemente a lâmina no meu pescoço, o toque gelado do aço me deu um pequeno choque de lucidez, e acabo desistindo por medo de só piorar a minha situação e fazer minha mãe sofrer, desisto também da água volto pro quarto, me jogo na cama e sou vencido pelo cansaço.

°°°

Acordo com a luz do sol entrando pelas frestas da cortina do meu quarto que infelizmente é virado pra linda paisagem de vários edifícios domésticos, o verão veio mais cedo e um clima gostoso paira no ar.

Demoro mais um pouco na cama mas acabo decidindo levantar e correr, já que faz dias que não me exercito, e meu corpo já tava sentindo falta de fazer exercícios.

Entro no banheiro,  faço minha higiene matinal, procuro minha mãe pra avisar a ela que vou sair, mas encontro apenas um bilhete dela.

"Filho, meu chefe ligou pra eu ir mais cedo porque ele vai viajar com a família e eu vou ficar responsável pela casa deles. Não volto pro almoço, tem comida pronta na geladeira pra você esquentar no microondas. 

Beijos, sua Mãe."

Reviro os olhos pra aquela instrução detalhada e acabo sorrindo enquanto saio de casa.

°°°

- Olha a Bundinha dele Zé, se eu pego uma dessas, eu faço um estrago... AiAi. - ouço um cara falar quando a música acaba, antes de começar a próxima, pauso a música assim que ela começa e foco na conversa dos homens atrás de mim.

- Caralho.. esse rabo é melhor do que o de muita nega hein... - o outro responde.

Me viro pra ver de quem eles estão falando, e sinto meu corpo gelar ao perceber que estão falando de mim, fico paralisado tempo suficiente pra eles me notarem olhando e o que aparenta ser o mais novo assobiar.

- Psiu, Psiu.. Garoto?... - ele chama quando eu ignoro o assovio.

Sinto meus olhos começarem a lacrimejar e eu acelero o passo numa velocidade que nem eu mesmo sabia que era capaz, de respente já estou correndo pra longe deles.

Em alguns minutos eu chego no parque abandonado, o Sweet, como eu mesmo o nomeei depois passei a frequentar ele sempre que me sinto sufocado, ou sinto quando o peso do que aconteceu comigo tenta me esmagar.

O tranformei no meu refúgio secreto onde eu posso fugir do mundo real e aliviar o peso das minhas costas pelo menos por algumas horas.

Assim que entro pela pequena brecha entre duas árvores das várias que escondem o parque e o dá um aspecto de secreto, deixo minhas pernas fraquejarem e me sento no chão coberto por folhas secas e deixo as lágrimas descerem livremente pelo meu rosto, aliviando momentaneamente a amargura que eu carrego comigo.

°°°

Quando chego em casa, já são mais de meio dia, subo pro quarto, tomo um banho quente e revigorante ficando quase meia hora embaixo da água deixando descer pelo ralo todo o torpor daquele momento, e desço pra almoçar.

Deito no sofá e começo a assistir minha série preferida que é "Once Upon a Time" na Netflix, mas acabo dormindo.

E mais uma vez ele esta lá, o pesadelo, aquela voz. Relaxe. Mas eu não relaxo, eu grito pra tentar me livrar da dor, mas ela não me abandona.

Alguém me sacode e eu acordo bruscamente, tentando acalmar minha respiração. Ainda sinto a dor, ainda sinto aquelas mãos asquerosas me apertando forte e arranhando a minha pele, mesmo depois que eu acordo a dor ainda tá aqui. Ela sempre está.

- O que aconteceu Chris? Eu chamei você, e você não acordava, e estava chorando e molhado de suor. - minha mãe pergunta claramente preocupada comigo e eu tento sorrir pra tranquiliza la, mas a verdade é que eu é que preciso de um abraço dela. E é exatamente o que eu faço. A abraço, forte. - o que você viu no seu sonho que te deixou assim? - ela pergunta quando desfazemos o abraço e eu estremeço, odeio ter que mentir pra ela. Pra minha mãe. Mas minha outra opção é contar toda a verdade pra ela, e isso está totalmente fora de cogitação. Então eu minto.

- Um pesadelo qualquer mãe, nada importante. - respondo enxugando as lágrimas com as costas da mão.

- Eu trouxe lanche, já coloquei na cozinha - ela fala se levantando e saindo pra colocar comida pra Lessy, nossa bebê de estimação.

Ela nunca pode saber disso - penso cabisbaixo. - Não posso permitir que ela me ajude a carregar esse fardo.

Subo pro meu quarto e pego o meu celular, que vibra enlouquecidamente na minha mão. Desbloqueio a tela e abro o Whatsapp que está lotado de mensagens da Angel. Minha melhor amiga.

Chris???

Vai no cinema cmg hj? Te amo

Já não amo mais... Pq demora responder?

Christiaaaan??? Respondeee

Affs. Quando vc acordar vê se me responde. Você é mau.

Olho incrédulo pra aquelas mensagens e comparo a hora de cada mensagem e a diferença entre uma e outra é de no máximo dois minutos. Reviro os olhos pro desespero dela e começo a digitar uma resposta.

C - Oiie amore.. Eu estava dormindo acabei de acordar... Oh amore desculpa... Mas não vou com você hoje não. Sorry.

A - Claro que você vai. Cala a boca e se arruma... Vai estrear minha mãe é uma peça.

C - Oi, MAMÃE?

A - Vai logo.

C - Affs chata. Passo na sua casa sete e meia. E esteje pronta.

Bitch. - penso mas sorrio, sair com a Angel é sempre bom, não consigo ficar um minuto inteiro sem que ela me faça rir de alguma coisa. E é exatamente disso que eu preciso agora.

Me levanto e entro no banheiro, tomo banho e começo a me arrumar sem pressa, já que Angel com certeza vai demorar o dobro.

Doce Vizinho. (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora