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Demorei quase duas horas no banho. Este com certeza é o banho mais longo que já tomei em toda a minha vida. Por sorte, minha mãe mandou instalar uma banheira no meu banheiro, caso contrário, a conta de água seria altíssima. Me sinto relaxado, como se a água realmente lavasse minha alma. Estou mais leve, embora esteja com frio.

Coloco uma calça jeans escura e uma camisa branca. Desço as escadas correndo e só então me lembro que Lipe estava me esperando. Corro para a sala, mas ele já tinha ido embora.

Merda, praguejo mentalmente. 

Minha barriga reclama e corro para a cozinha, começando a fazer um sanduíche.

Depois de comer, subo para o meu quarto e encontro minha mãe no corredor, indo em direção ao meu quarto.

– Achei que estivesse no seu quarto, – ela diz, surpresa ao me ver no corredor.

– Estava com fome e fui comer, – respondo dando de ombros.

– Queria falar com você? – ela parece receosa de que eu não aceite ouvir seus conselhos.

– Claro, mãe, vem, – digo entrando no quarto, com ela logo atrás de mim.

– Pode falar, – começo a ficar tenso com o silêncio dela.

– Bom... eu queria falar sobre... humm... seu namoro com o filho da Paola, – ela baixa a cabeça em seguida.

– Estamos bem, – respondo simplesmente.

– Eu percebi que você aceitou a proposta de voltar a morar aqui assim que viu ele entrar na rua, aconteceu alguma coisa entre vocês? – ela pergunta.

Respiro fundo antes de contar a ela tudo o que tem acontecido entre nós desde que começamos nosso relacionamento. Assim que termino, percebo que ela está com os olhos marejados, o que faz as lágrimas que estou segurando rolarem.

– Você o ama, não é? – minha mãe pergunta, segurando minha mão.

– Sim, amo. Infelizmente, eu o amo, – digo suspirando e enxugando as lágrimas.

– Por que infelizmente? – ela pergunta, e eu a olho como se ela fosse uma aberração. Não é óbvio?

– Porque seria tudo mais fácil. Eu não sofreria se não o amasse, – tento esconder a tristeza na minha voz, mas é minha mãe que está ali, ela me conhece melhor que ninguém.

– Eu entendo como se sente, bom... eu acho que entendo. Mas você o ama e isso não pode mudar. E você sabe que não vai poder fugir dele para sempre, não é? – ela levanta meu queixo para me fazer olhá-la.

– Eu sei, mas por enquanto não quero vê-lo, – sou interrompido pela porta do quarto sendo aberta bruscamente.

– Mas vai ter que me ouvir, – Robert fala, olhando para mim, ainda irritado mas com a voz calma.

– Sai daqui, Robert, – estalo os dedos, mas ele faz exatamente o contrário e se ajoelha ao lado da minha cama.

– Só me escuta, – ele pega minha mão, mas eu a puxo e ele abaixa a cabeça.

– Fala e vai embora, – digo, e minha mãe já está na porta, piscando para mim antes de sair. Eu apenas sorrio para ela.

– Quando quiser - falo sarcástico.

– Me perdoa, por favor...

– Robert, estou cansado de você pedir perdão. Como vai ser? Toda vez que você faz uma burrada, só sabe dizer 'me perdoa, meu amor, me perdoa?' É a única coisa que sabe falar? - explodo com ele, mas sei que minha voz sai mais magoada do que com raiva, e ele percebe.

– Você devia me entender, meu amor. Por favor, eu me sinto inseguro. Você nunca fez nada para provar que me ama, isso me deixa inseguro, você sabe... - ele começa a se explicar, mas o interrompo.

– O que? Como assim nunca fiz nada para provar que te amo? Você acha pouco eu me assumir por você, enfrentar o desprezo da minha mãe, quase morrer por você porque te amo? Você é cego ou míope ou o quê? Hein? - grito indignado. Como ele pode dizer que não fiz nada para provar que o amo?

– Isso não é suficiente...

– NÃO É SUFICIENTE? O QUE VOCÊ QUER QUE EU FAÇA? QUE EU PULE DO DÉCIMO ANDAR DE UM PRÉDIO, OU QUE EU ME JOGUE NA FRENTE DE UM CAMINHÃO, OU QUEM SABE ENTRE NUMA PISCINA COM UMA PRANCHA LIGADA E MORRA ELETROCUTADO, É ISSO QUE VOCE QUER QUE EU FAÇA? RESPONDEEE.... É ISSO QUE VOCÊ QUER? - as lágrimas já rolavam pelo meu rosto, eu nem queria e nem conseguia mais conte-las, de alguma forma elas aliviam a dor, que só aumenta a cada momento.

– Não... Eu não quero que você morra... Mas eu não confio no seu amor por mim, EU NÃO CONFIO... - ele gritou na minha cara, e foi como se uma segunda faca fosse cravada em mim. O pior é que a ferida da primeira facada nem tinha cicatrizado ainda.

– Sai daqui - falei limpando as lágrimas e respirando fundo, mas ele não se moveu, continuou parado chorando. - SAI DAQUI... SAI... SOME DAQUI, ROBERT... FORA DA MINHA CASA... SAI... - gritei totalmente fora de controle, empurrando-o pelo corredor afora. Eu estava fora de mim, só me dei conta do que fazia quando senti o impacto da queda de Robert ao empurrá-lo na escada.

– Saia da minha casa, Robert. Agora - falei descendo a escada lentamente enquanto ele se levantava e corria para fora, chorando. 

Eu desabei em todos os sentidos da palavra, deslizando minhas costas pela parede até chegar ao chão, onde fiquei chorando até que minha mãe apareceu. Eu a puxei para o chão comigo e começamos a chorar abraçados, até sentir meu corpo cada vez mais pesado, e apaguei.

Doce Vizinho. (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora