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- Christian. Acorda, já é quase seis e meia. - minha mãe chama batendo na porta do quarto e eu esfrego os olhos numa tentativa de espantar o sono.

Me levanto e entro no banho, fico algum tempo pensando na minha vida, e fico feliz ao me dar conta que não tive o maldito pesadelo essa noite.

Graças a Deus.

Quando termino de me arrumar desço pra tomar o café da manhã, e quando termino já são sete horas da manhã.

Putz.

Saio de casa correndo pra chegar na escola o menos atrasado possível, já que não tem como eu não atrasar.

Mas quando chego no colégio já estou mega atrasado, procuro então minha sala que fica no andar de cima, quando eu finalmente a encontro me arrependo imediatamente de ter subido as escadas tão rápido. Mas sorrio.

Lá está ele saindo da minha sala, lindo e com o caderno embaixo do braço.

Mas que droga ele veio fazer na minha turma. Me escondo atrás do zelador que tá passando pelo corredor na mesma direção que eu, até ele sair do meu campo de visão.

Mais o que foi isso Christian? Você não tem porque se esconder dele. Ai. Acho que sou louco. - brigo comigo mesmo, e entro na sala, assim que o faço todos os olhares caem sobre mim.

Affe. Nunca me viram não? - penso incomodado com aquela atenção toda. Mas é o que se ganha por chegar atrasado.

Me sento no fundo da sala, atrás de Angel, e a aula de biologia começa. Já que a professora, uma mulher baixinha de cabelos vermelho berrante, também se atrasou.

Observo minha turma e percebo que só tem um garoto novo.

- Angel? - cutuco ela com a ponta do lápis e ela pula de susto.

- Que foi? - ela pergunta sem se virar pra não chamar a atenção da professora.

- Quem é o novato ali? - pergunto e nem preciso apontar, pois só tem ele de novo na sala.

- É o Eduard. - responde ela sem interesse, e volta a se concentrar na aula.

- Ata - resolvo não perguntar mais nada, pra evitar que ela comece a imaginar coisas que não existem.

No intervalo, eu e Angel nos sentamos na nossa mesa de sempre, poucos minutos depois chegam Anna e Amy. Nossas amigas que estudam em outra turma.

E então nossa mesa vira uma zona, todo mundo se abraçando e gritando. Quando olho ao redor percebo que estamos sendo observados por todos no refeitório, inclusive Eduard que está na mesa ao lado sozinho. Anna faz uma careta engraçada e começa a mandar beijos em todas as direções.

Louca. Acho que é por isso que nos damos tão bem. - sorrio ao pensar nisso, e observo as pessoas voltarem aos seus assuntos e amigos.

Anna é completamente inconseqüente, faz as coisas sem pensar e depois se arrepende.
Ao contrario de Amy que faz as coisas sem pensar as vezes, mas raramente se arrepende.

Estamos em uma conversa super animada sobre as férias quando do nada Angel decide falar sobre o que aconteceu comigo no cinema.

- Chris, você ainda não me contou porque saiu correndo do cinema aquele dia. - sinto uma vontade quase incontrolável de esganar essa garota aqui mesmo.

Vaca.

- Por nada, só queria tomar ar. - tento enrolar ela, mas Angel sempre consegue o que se propõe.

- Você não me engana meu bem, eu vi que estava rolando um clima entre você e o boy lá. - minha boca se abre instantaneamente em um perfeito O ao ouvir o que ela diz.

Será que estava mesmo rolando um clima?

Não, não podia estar rolando na...

- AAAAAA. Como assim Chris conta tudo. Não creio. - Anna grita eufórica e bate palmas.

- Você tá louca Angel. Não tem nada pra contar Anna, só que tinha um rapaz... hmm.. Até bonito lá, mas é só isso. - reviro os olhos pra elas e coloco língua.

- AAAAAAAAA - ela grita do nada e me faz tomar um susto - nunca imaginei você falando isso. Hmm aí tem coisa. Desembucha. Pode contar tudo.

- Ai meu Deus, deixa de ser ridi... - sou interrompido pelo sinal que berra altíssimo bem acima de nós, e sou obrigado a tapar os ouvidos.

Uffa. Salvo pelo gongo.

Voltamos pra sala e a aula de inglês começa, minha aula preferida. Foco na aula.

°°°

Uma coisa super comum entre eu e a Angel é voltar da escola fazendo as performances dos nossos clipes favoritos na rua. Eu sempre faço o boy o que evita que eu performe muito. E fora alguns olhares de repugnância, como se fossemos menos apenas por dançar na rua, nunca aconteceu nada demais. Até hoje.

Quando estamos voltando da escola, ao som de "Crazy in Love da Beyoncé com o Jay-Z" percebo que um carro preto nos segue devagar, quase parando. O pânico toma conta de mim por alguns segundos, mas eu o descarto, pois estamos em meio a uma multidão de pessoas e não tem como nada de ruim acontecer. Começo a cantar quando começa a parte do Jay.

Quando passamos em uma calçada que está livre o carro, uma Hilux preta, encosta ao nosso lado e eu percebo que é Eduard que está no banco do carona, sorrio aliviado. Bato com o cotovelo no braço de Angel é indico o carro com a cabeça quando ela me olha.

Angel para de andar e aproxima do carro pra conversar com ele e eu permaneço parado na calçada, olhando pro carro lutando contra a luz do sol que reflete no parabrisa, tentando identificar quem é o motorista. E quando finalmente percebo quem é sinto um arrepio pelo meu corpo e prendo a respiração. Lá está o rapaz do cinema me encarando de volta através do vidro. Desvio o olhar, e começo a andar.

- Chris, me espera. - Angel grita correndo atrás de mim, pra me alcançar.

- Você fica enrolando e eu preciso muito ir ao banheiro. - minto.

- Então vamos. - ela responde e eu solto a respiração que eu nem tinha percebido que tava prendendo, ela se vira pra trás e acena. O carro acelera, e vai embora.

°°°

Passo na casa de Angel pra pegar um filme emprestado pra eu assistir a tarde, e acabo convidando ela pra ver comigo.

Subo a rua andando distraidamente e ouvindo música no fone. Deixo os pensamentos fluirem livremente enquanto sussurro o refrão de "Best thing i never had da Beyoncé" e de repente me dou conta que estou agindo como um garotinho de seis anos que tem medo de palhaço. E foge quando vê um.

Mas não é o rapaz que me dá medo, mas sou eu. Medo de que o arrepio que eu sinto quando o vejo, ou quando ele sorri pra mim se torne algo mais forte, mais quente.

E então tomo uma decisão, não vou mais fugir, não é uma atitude madura. Mas vou fazer com que ele se afaste antes mesmo de se aproximar e terminar de ferrar com a minha vida.

Quando viro a esquina na rua da minha casa, levanto o olhar e vejo um caminhão de mudança, parado em frente a minha casa, do outro lado da rua. são os novos moradores que chegaram, reviro os olhos já imaginando se serão vizinhos chatos e monótonos e passo direto de cabeça baixa pra entrar em casa, mas quando subo na calçada ouço um "psiu". Ignoro e pego a chave no bolso da calça, e quando enfio a chave na fechadura ouço outro "psiu".

Me viro pronto pra mandar o dedo do meio pra quem quer que seja, mas minha mão para no meio do caminho quando eu vejo quem é o dono dos assovios.

O cara do cinema me encara do outro lado da rua, e abre um sorriso radiante quando percebe minha expressão de choque. Mas eu não sorrio de volta.

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Doce Vizinho. (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora