41

286 52 14
                                    


Acordei me sentindo mais pesado que o normal. Esforço minha memória um pouco, mas não consigo me lembrar de nada do que aconteceu. A última coisa que lembro é de ter conversado com minha mãe sobre meu relacionamento com Robert. Ignoro essa repentina falta de memória e me levanto, faço minha higiene matinal, apesar de me sentir extremamente cansado. Desço para tomar café e minha mãe já está na mesa.

– Bom dia, mãe – digo, pegando um pedaço de bolo e me sentando em seguida.

– Bom dia. Que disposição é essa? – ela pergunta, surpresa, como se esperasse que eu acordasse de mau humor ou algo do tipo.

– Acordei de bom humor, por quê? Deveria acordar mau humorado? – questiono, arqueando a sobrancelha.

– Você não está chateado com o que aconteceu ontem? – indaga, parecendo completamente surpresa com minha reação.

– O que aconteceu ontem, mamãe? – pergunto, estranhando todo aquele interrogatório dela.

– Você não se lembra? – ela pergunta, chocada.

– Parece que não. O que aconteceu de tão importante para você ficar nervosa assim, dona Dulce? – minha mãe não consegue mentir; basta um pouco de pressão e ela solta a língua.

– Tem certeza que não se lembra? – pergunta mais uma vez, e minha paciência vai pelos ares.

– Já conseguiu acabar com meu bom humor. Agora vai falar ou não? – falo, levantando-me completamente irritado.

– Vocês e o Rob brigaram feio on... – e eu já não escuto mais nada do que minha mãe fala. Sou bombardeado com todas as imagens da minha briga com Robert, e sinto as lágrimas surgirem novamente enquanto me sento novamente na cadeira, sentindo aquela dor voltar, e o pior é que ela está bem mais forte do que antes.

– Eu me lembrei, mamãe... Lembrei de tudo – digo, e ela já está ao meu lado me abraçando.

– Estou aqui com você – ela fala, e as lágrimas só aumentam, junto com a dor que essas palavras me causam, voltando em proporções muito maiores do que antes.


                    Dulce Pov.

Já se passou uma semana desde que Robert e meu filho tiveram aquela discussão. Christian passa o dia todo no quarto chorando. Sempre que bato na porta com algo para ele comer, ele apenas grita um "vai embora, mãe", e então ouço seus soluços dentro do quarto.

Meu coração se parte cada vez que o vejo. Ele perdeu peso consideravelmente e está com olheiras horríveis de tanto chorar.

Não posso simplesmente deixar meu filho afundar em um poço sem fundo por causa de um garoto, por mais que eles se amem. Um não pode se destruir pelo outro; isso não é amor.

Todos os dias, os amigos dele vêm aqui, e só nesses momentos conseguem arrancá-lo do quarto. Isso porque Angel o arrasta à força, mas consegue arrancar algumas risadas dele, embora sempre haja tristeza em seu olhar. Sempre que o namorado dele tenta falar com ele, eu o expulso. Mas está na hora de resolver essa situação. Não vou permitir que meu filho entre em depressão.

– Angel, posso falar com você? – chamo-a em um domingo que ela veio visitar Chris sozinha.

– Sim, Dulcinha – depois de me ameaçar caso eu magoasse meu filho mais uma vez, ela começou a me chamar de Dulcinha, e até gosto disso.

– Precisamos fazer algo. Não podemos deixá-lo assim – falo, e ela concorda.

– Concordo. Tenho um plano. Vou falar com aquele idiota do Robert. Ele é o único que pode conseguir alguma coisa com o Chris – diz confiante, fazendo uma careta ao mencionar Robert. Eu a proibi de tentar algo com ele, mas é difícil, já que ela quer quebrar o maxilar dele toda vez que o vê, e está cada vez mais difícil controlá-la.

– Tudo bem. Mas vai logo – falo, e ela me imita com uma careta antes de correr para a casa do Robert.

Dez minutos depois, ela volta puxando Robert pelo braço, e ele está com os olhos vermelhos. Eu sei que ela disse umas verdades para ele, pois ele está chorando, mas é o mínimo que ele merece. Sorrio quando Angel pisca para mim.

– Suba lá em cima e resolva o que fez. Se piorar as coisas, você terá problemas comigo – falo, e ele assente.


                    Chris Pov.

Estou um pouco magoado com meu pai por não ter vindo me visitar, mas ele ligou avisando que vai viajar com Felipe, e não tive coragem de contar o que aconteceu. Sem dúvida, ele cancelaria a viagem, e não quero fazer isso com ele, não tenho esse direito.

Estou perdido em pensamentos quando a porta é aberta lentamente, revelando aquela figura magra e deprimida à minha frente. Abro um sorriso ao vê-lo ali, mas logo ele murcha ao perceber que estou sendo muito duro por fraquejar novamente.

– O que você quer aqui? – pergunto frio, já sentindo um nó se formar na minha garganta.

– Falar com você – responde, já chorando. Sinto pena vê-lo naquela situação, mas Angel aparece atrás dele com um cartaz enorme escrito "seja duro, não baixe a guarda", e acabo ativando minha máscara fria novamente.

– Não quero falar com você, sai daqui – falo, o encarando, mas a porta é fechada com força antes que ele saia, e tenho certeza de que foi a Angel.

Agora terei que ouvi-lo me magoar novamente.

Doce Vizinho. (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora