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- Como eu vim parar aqui, senhor? - pergunto de cabeça baixa, quase sussurrando completamente envergonhado. Talvez por estar quase nu na casa de um desconhecido e de frente a um homem maduro. Mas estranhamente ele não me causa medo.

- Você dormiu no meu jardim, e eu pedi que te trouxessem pra cá. Dormir numa cama é bem mais confortável que a grama do meu jardim, não é? - ele reponde calmamente e eu fico ainda mais envergonhado, se é que isso é possível.

Como eu pude dormir no jardim desse senhor? De repente me lembro do motivo que me fez esconder e dormir no jardim dele.

- Ah, obrigado, eu já tenho que ir, e me desculpe por dormir no seu jardim - falo o olhando e ele sorri abertamente - eu juro que não peguei nenhuma fruta. - completo me lembrando das maçãs, que eu quase peguei. Quase.

- Eu sei que não, estava te vendo da janela do meu quarto, por isso vi quando você dormiu lá - ele fala apontando pro segundo andar, e eu abaixo novamente a cabeça desconcertado - e vi também que você estava chorando. Posso perguntar o por quê? - ele pergunta simpático.

Respiro fundo e decido contar a ele, sinto certa confiança nele, o que é estranho, pra não dizer assustador, já que eu não costumo confiar em quase ninguém.

Mas é mais fácil falar sobre isso com um desconhecido que não vai ficar do lado de Robert, nem do meu, apenas vai analisar a questão como um todo.

- Uma garota beijou meu... - travo na hora de completar a frase, não dá pra prever como ele vai reagir a minha sexualidade, afinal ele não tem motivos pra ser solidário comigo.

- Seu namorado? - ele pergunta devagar, receoso.

- Sim, ela disse que é a ficante de praia dele. - respondo em tom de indignação. - nem sabia que existia isso de ficante de praia. - completo irritado.

- E o que ele fez? - o homem, que até agora não me disse o nome dele, pergunta e eu me sento no sofá ao lado dele antes de responder.

- Nada, ficou rindo pra ela feito um idiota. - respondo depois de um tempo em silêncio, e imito os sorrisinhos dele, o cara ao meu lado ri tanto que acaba chorando, com as caretas que eu faço, e eu acabo rindo junto.

- Vocês moram aqui perto? - ele pergunta ainda rindo.

- Não, estamos passando duas semanas na chácara ao lado da sua, é do pai dele. - respondo e ele ri.

- Ah... Você tá falando do filho do Marcus, o Robert. Eu e o pai dele somos velhos amigos. - ele fala e eu abro a boca surpreso.

- Sim, é ele mesmo, desculpa qual seu nome mesmo? - finalmente pergunto.

- Fernando, Fernando Herrera. - ele responde orgulhoso, com os olhos brilhando, mas eu consigo ver uma tristeza no fundo deles, talvez pelo fato de tentar sempre esconder a tristeza dos meus. É como se parte da felicidade dele estivesse faltando. - e qual seu nome? - ele pergunta quando eu fico em silêncio, perdido em pensamentos.

- Christian Houston. - falo e ele se levanta bruscamente me assustando, ele fica me olhando como se em sua frente estivesse se materializado um fantasma.

- E sua família? Você vive com eles? - ele pergunta ainda me olhando com os olhos muito abertos e sobrancelhas arqueadas.

- Moro com minha mãe, meu pai faleceu antes de eu nascer - respondo triste, e a lembrança da minha mãe me expulsando volta como um soco no estômago - bom, morava com ela, ela me expulsou de casa assim que eu me assumi gay. - completo amargurado. Começo a sentir frio, mas não consigo identificar se é por estar apenas de sunga ou se o frio vem de dentro de mim.

- Sinto muito pelo seu pai, e por sua mãe também, qual o nome dela? - ele pergunta e se senta novamente ao meu lado.

- Dulce, a famosa Doutora Dulce Houston. - respondo fazendo gestos com as mãos como se a apresentasse à um público gigantesco.

- Não pode ser... - viro a tempo de ver seu Fernando caindo de costas no sofá. Fico desesperado ao vê lo ali desacordado, mas por um milagre lembro de alguns ensinamentos da minha mãe, e checo a pulsação dele, está vivo.

Graças a Deus.

- Socorro. Alguém me ajuda por favor... - grito completamente desesperado - Seu Fernando acorda por favor... - falo com ele e uma mulher entra apressada na sala, ela usa um uniforme verde claro, então deduzo que ela é a governata da casa.

- O que aconteceu com ele? - ela pergunta e eu a ajudo a senta-lo novamente.

- Ele desmaiou, trás algodão com álcool, e um copo dágua, por favor. - peço e ela sai apressada, e volta alguns minutos depois trazendo o que eu pedi.

Pego o algodão com álcool e aproximo do nariz dele pra ele cheirar, aos poucos ele vai acordando, e me olha espantado.

- Toma a água. - falo entregando a ele o copo, que ele toma sem hesitar.

- Eu tive um filho. - ele fala sussurrando mas eu consigo ouvir. Ele me entrega o copo e eu o entrego a governata que continua na sala agora nos observando.

- E o que tem demais nisso? - pergunto sem entender nada.

- Você não me entendeu. Eu tive um filho, e esse filho é você. - ele fala parecendo totalmente seguro, mas eu acho que ele está louco.

- O quê? - as palavras saem da minha boca automaticamente e eu me levanto e me afasto um pouco dele - o senhor está delirando. - toco a testa dele verificando a temperatura, mas está normal, sem febre.

- Não, eu sou seu pai. - sinto uma sonora gargalhada se apossar do meu interior até irromper pelos meus lábios.

Esse homem deve ter algum distúrbio. - penso enquanto a governanta olha dele pra mim atônita.

Ao ver que ele está falando sério paro de rir aos poucos, além de ser louco ele é completamente assustador me encarando desse jeito, o encaro de volta só então percebo que os olhos dele são verde escuros, assim como os meus.

- Não é possível, meu pai está morto. - afirmo mais pra mim que pra ele.

- Há 18 anos atrás, eu conheci uma mulher chamada Dulce, Dulce Houston, ela estava aqui na praia em suas férias do próprio consultório, eu me senti atraído por ela, e me propus a conquista-la, até que eu consegui, não foi fácil, mas consegui e começamos um relacionamento que infelizmente só durou dois meses, e ela misteriosamente desapareceu, eu a procurei no hotel e soube que ela tinha fechado a conta e ido embora, fiquei triste e me afundei cada vez mais nos contratos da minha empresa, e hoje tenho esse império. Mas eu nunca soube que tive um filho. - ele conclui com lágrimas nos olhos.

- Deve ser uma coincidência, não é? É completamente possível existir outra Dulce Houston além da minha mãe - falo me levantando atrapalhado - já vou, Robert deve já ter chamado até a polícia pra me procurar. - falo já na porta.

- Por favor. Acredite em mim, é só fazer um teste de DNA e confirmar. - eu apenas balanço a cabeça negativamente e saio correndo.

Esse é o maior disparate que eu já ouvi, isso é impossível.

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Obrigado por lerem .
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AMO VOCÊS.

Doce Vizinho. (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora