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Observo ele se aproximar em passos cautelosos olhando de um lado e do outro da rua pra não me olhar diretamente nos olhos, até que ele para a apenas alguns passos de distância de mim.

- Oi, qual seu nome? - ele pergunta ainda sorrindo. E eu não respondo. - Acabei de me mudar pra essa casa aqui em frente - ele aponta com o polegar por cima do ombro. - parece que seremos vizinhos. - ele termina com uma voz rouca, e me estende a mão em um cumprimento.

- Olha.. - começo a falar mas minha voz sai fraca e esganicada, limpo a garganta, endireito a postura e continuo. - Olha, eu não estou nem um pouco interessado em saber o que quer que você tenha vindo fazer aqui, tá legal? - falo com uma voz fria que me surpreende tanto quanto a ele, que parece ter levado uma bofetada.

- Perdão, eu só queria... - ele tenta argumentar mas eu o corto.

- Eu não me importo. - falo e abro a porta. - se você me der licença, tenho coisas mais importantes pra fazer. - me viro e entro em casa batendo a porta em seguida, deixando ele com uma expressão de perplexidade no rosto.

Me escoro na porta, sentindo minha respiração acelerada. Sinto uma onda de culpa me invadir, mas eu a expulso pra longe. Fiz o necessário pra afasta lo.

Corro pra cozinha e pego um copo de água e bebo tudo, pego outro e subo correndo pro quarto.

Pronto. Agora ele não vai mais tentar falar comigo. - penso deitado na cama.

Pego meu celular no bolso e mando uma mensagem de texto pro Mike, que está em uma viagem com os pais.

"Oi Mike, como você tá? Quando você volta? Tô com saudade de você". Ele não está online, mas assim que ele ver a minha mensagem ele responde, é sempre assim entre nós.

Sinto vontade de ir até a janela ver a movimentação da mudança na casa da frente. Me levanto pra ir, mas acabo desistindo e me jogo de volta na cama, coloco meu fone de ouvido e depois de algum tempo sinto as mãos macias do sono me puxar lentamente pra ele, e eu vou. Adormeço.

°°°

Quando acordo, já é mais de três horas da tarde. Ligo pra Angel, pra confirmar se ela vem mesmo assistir o filme comigo como pedido de desculpas por me obrigar a assistir terror com ela.

- E aí mana? - grito assim que ela atende o telefone.

- Precisa gritar? Acabei de acordar. - ela responde grogue.

- Preciso - grito mais alto só pra irritar ela. - Você vem né? - pergunto depois que ela para de xingar do outro lado da linha.

- Claro que sim. - ela responde de repente animada.

- Ótimo, liga e chama a Anna e a Amy, não atrase. - falo e desligo na cara dela. Faço uma dancinha em cima do colchão pela minha pequena vitória sobre ela.

Ela vai me matar.

Assim que volto a me sentar na cama ouço meu estômago roncar. Desço descalço pra pegar alguma coisa pra eu comer e voltar pro quarto, pois tem alguém conversando com minha mãe na sala, do quarto da pra ouvir as vozes e risadas. Mas assim que eu chego na metade da escada paro instantaneamente, penso em voltar antes de ser visto pro quarto mas é como se tivesse surgido uma parede bem atrás de mim.

Fico apenas observando sem reação a cena na minha frente. Minha mãe sentada com uma mulher mais velha, Eduard do lado dela e no outro sofá mexendo distraidamente no celular está ele. O vizinho.

- Filho - minha me chama e ele levanta os olhos do celular e me encara. Procuro algum traço de mágoa no olhar dele mas a expressão dele é impenetrável - esses são nossos novos vizinhos, Clarice é uma velha amiga minha, e os garotos são os filhos dela. - minha mãe completa empolgadíssima. Reviro os olhos.

Doce Vizinho. (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora