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Estamos nas cadeiras à beira da piscina há algum tempo, e já sinto minha barriga reclamar.

- Vem comer comigo? Estou indo. - falo, levantando-me.

- Vou sim, estou morto de fome aqui também. - responde Lipe, rindo. Seguimos para a lanchonete do clube, que está mais cheia que o normal. Escolhemos uma mesa mais afastada das outras, e um garçom vem nos atender.

- Bom dia, o que vão querer? - pergunta, tentando ser simpático, mas é perceptível que ele não gosta nem um pouco de ser garçom.

- Dois sanduíches e duas cocas, por favor. - peço, percebendo que Lipe está distraído com algo que parece chamar mais a atenção dele do que o garçom.

- Só vou demorar dois minutos. - ele pisca e sai.

Garçom abusado. - Penso, sorrindo, imaginando se Rob visse aquilo.

Ficamos conversando sobre amenidades até nosso pedido chegar. Começo a comer o meu sanduíche como se minha vida dependesse disso.

- Cuidado para não engasgar. - Lipe fala, fazendo um gesto obsceno para mim. Começo a rir histericamente e, como minha boca está cheia, o resultado não é dos melhores. Acabo engasgando, enquanto Felipe ri descontroladamente de mim. Pego minha coca e jogo nele, assim que a crise de tosse passa.

- Isso foi por você ter me feito engasgar. - falo e saio em direção à piscina, deixando-o para trás com uma expressão espantada no rosto. Ótimo.

Já estou na piscina quando ele me alcança e pula ao meu lado, me afundando em seguida. Mas como sei nadar muito bem, graças às aulas de natação que fiz antes dos 15 anos, mergulho e me afasto dele, aparecendo do outro lado da piscina, rindo da cara de indignação dele. Assim, começa uma espécie de pega-pega na piscina. Ficamos no clube praticamente o dia todo. Já é quase quatro da tarde quando um Robert furioso aparece ao meu lado.

- Oi, meu amor. - falo, tentando dar um selinho nele, mas ele se esquiva, despertando minha chateação.

- Por que veio passar o dia com esse aí, sozinhos? - ele fala, com os dentes trincados de raiva.

- Porque ele é meu amigo e me convidou. Algum problema nisso? - pergunto, irritado com os ciúmes sem fundamento dele.

- Sim, todos. Você nem sequer me avisou que ia sair, muito menos com esse idiota. - ele fala, elevando o tom de voz.

- Você não estava em casa. Aliás, onde estava, hein? - pergunto, notando que um círculo se formava ao nosso redor.

- NÃO MUDA DE ASSUNTO PORRA. - ele berra descontrolado e Lipe intervém.

- Não fala assim com ele, ou vai se ver comigo. - fala entrando na frente, ficando entre eu e Robert.

- Por que você está gritando? Acha que sou surdo? Quer saber, é um erro dar uma nova oportunidade. Adeus Robert. Vamos Felipe. - digo perdendo o resto de paciência que tenho e saio dali segurando Felipe pelo braço. Quem ele pensa que é para armar um barraco aqui, simplesmente pelo fato de eu ter saído com um amigo.

Fomos o caminho todo calados, não tenho cara para olhar para Felipe depois do show que meu namorado deu no clube, odeio ser o centro das atenções e ele atraiu todas possíveis para nós, é como se tivesse me exposto para aquelas pessoas ali.

Como se atreve a duvidar de mim, e insinuar que estou traindo ele? Jamais o trairia, ele sabe que o amo e simplesmente duvidou de mim. Minhas esperanças de que ele mudaria estão totalmente abaladas, ele sempre será o mesmo Robert de sempre, possessivo e ciumento, jamais mudará. Não posso acreditar que um dia tive essa esperança.

Assim que chegamos à casa de Robert para pegar algumas roupas e ir para o apartamento do Lipe, vejo minha mãe parada na porta da minha antiga casa, parecendo ansiosa. Assim que saio do carro, ela vem em minha direção praticamente correndo e parece extremamente nervosa.

- Mãe, aconteceu alguma coisa? - pergunto sentindo o nervosismo tomar conta de mim.

- Não, eu só queria... é... - gagueja.

- O que você queria, mãe? Fala logo, estou ficando nervoso. - falo balançando as mãos nervosamente.

- Quero que me perdoe por tudo que fiz a você.

Agora é minha vez de não saber o que falar, apesar de já a ter perdoado, não esperava por isso naquele momento.

- Claro que te perdoo, mãe, mas por que isso agora? - pergunto sentindo as lágrimas brotarem em meus olhos.

- Porque quero que você volte para casa. Por favor. - me sinto tentado a aceitar, mas as palavras duras dela invadem minha mente involuntariamente.

- Não sei se é uma boa ideia, mãe. - falo receoso, apesar de ela ter destruído parte da minha vida, é minha mãe e não quero magoá-la de maneira alguma.

- Eu peço... não... imploro, por favor, volte para casa. - fala pegando minha mão. Ia abrir a boca para recusar, mas no exato momento o carro de Robert vira a esquina e entra na nossa rua.

- Tudo bem, vamos? - falo calmo, mas as palavras saem apressadas. Ela percebe, mas ignora, abrindo um sorriso e me abraçando. Olho na direção da janela e vejo Paola sorrindo e piscando para mim. Abro instantaneamente um sorriso, só pode ser coisa dela. Como senti falta do abraço confortante da minha mãe.

Desfaço o abraço e ela beija minha testa. Chamo Lipe e entramos em minha casa. É bom estar de volta aqui depois de tanto tempo. A casa foi reformada e os móveis estão em lugares diferentes, mas me sinto estranhamente aliviado por estar de volta, como se a casa me desse boas-vindas.

- Vou tomar um banho e já desço, não sai daí. - corro para meu quarto e, por sorte, minha mãe tem uma chave reserva, já que a minha ficou na casa de Robert. Ouço um barulho forte na rua e me aproximo da janela do quarto para ver o que causou aquele som.

Fico alguns segundos como se tivesse esquecido de respirar, apenas olhando aquela cena na rua. Robert bateu com a caminhonete no carro de Lipe. 

Não acredito. Ele que se dane. - penso e entro no banheiro, indo direto para o chuveiro ainda com as roupas, na esperança de que a água leve as lembranças ruins daquele dia.


Doce Vizinho. (ROMANCE GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora