Capítulo 15

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Odeio as segunda-feiras com todas as minhas forças. Bem, é claro que como uma boa nerd eu adoro estudar, mas o que odeio é ter que ir á escola.

Para mim a escola não é mais um lugar de aprendizado, agora é como se os adolescentes fossem para lá apenas para formar grupos idiotas, criar rótulos e agir como babacas.
A minha eu criança nunca imaginou que um dia eu desejaria que a disciplina fosse mais rígida.
Eu não suporto todos eles, salvando apenas um ou outro que nunca sequer olhou para mim, mas olho para eles e tenho a impressão de que todos são iguais.

Minhas experiências escolares nunca foram nem relativamente agradáveis. Houve tempos piores que outros, mas não me lembro de um ano bom de verdade, desde que comecei no jardim de infância.
Depois de tentar ser socialmente aceita ano após ano, decidi que preferia deixar tudo como está. Então contanto que ninguém mexa comigo está tudo certo.

Na maioria dos dias eu fico sozinha a manhã toda, tanto nas aulas quanto na hora do almoço, ilhada no meu próprio mundo.
As aulas de Daisy não se cruzam muito com as minhas, mas as vezes ela aparece para almoçar comigo, apenas quando lhe falta companhia melhor.
Essa manhã foi um desses dias, em que tive a sorte de desfrutar da sua companhia.

- Oi. - ela me cumprimentou com um sorriso quando me encontrou no corredor, enquanto eu procurava meus livros de química na mochila.

- Oi.

- Você vai para a aula de química, certo? - ela perguntou e eu assenti - Eu também. Vamos?

Quis perguntar onde estava sua "melhor amiga" da aula de quimíca, Natalie Vance, mas ao invés disso apenas assenti e começamos a andar.

- Então, como estão as coisas com seu priminho? - Eu achei graça. Se ela soubesse que na verdade ele pode ser mais velho do que nós duas.

Talvez Daisy achasse Harry bonito, talvez ela quisesse ficar com ele e talvez ela conseguisse.Não sei porque pensei nisso, apenas parece muito conveniente.

- Você não vai acreditar. - sorri, realmente animada por ter um assunto que não seja a vida pessoal e amorosa da Daisy para conversar.

Como eu imaginava, Daisy decidiu se sentar na bancada ao meu lado na aula de química da Srta. Lucy. E eu tinha razão sobre Natalie não ter ido á aula.
Eu não gosto das aulas em dupla, mas para a professora de química é uma maneira de tornar nosso trabalho mais simples. Ela nunca me deixa ficar sozinha, sempre pede á Todd Parker, um garoto alto que usa óculos de armação quadrada e os cabelos arrepiados com muito gel, se sentar ao meu lado.

- Então, ele não é uma criança? - Daisy perguntou enquanto respondíamos algumas questões de um formulário sobre substâncias tóxicas.

- Não. - respondi mordendo a ponta da caneta.

- Ele é um adolescente?

- Desconfio que ele seja um pouquinho mais velho do que nós.

- Quem diria.- Daisy parecia um pouco intrigada - E como ele é? É bonito?

Irritante, tem pávio curto, é um poço de sarcasmo e beleza... ah e ele parece gostar de ler os meus livros. - Quis dizer, mas na realidade disse muito menos que isso.

- É complicado, eu tento não prestar muita atenção nele. - dei de ombros.

- E ele é bonito? - Daisy abriu um sorriso - Seja sincera.

Eu não consegui esconder o sorriso que se formou nos meus lábios. Eu me comporto como uma colegial de verdade quando estou com Daisy.

- Na verdade, é sim!- falei e gargalhei alto demais.A sala fez um coro de 'shss' e a Srta Lucy me lançou um olhar matador. Eu corei e voltei a sussurrar para Daisy.

- Para ser sincera, ele é bonito, sim.

- Hum., você tem que me apresentar para ele um dia desses.

Meu sorriso desapareceu.

- Talvez eu possa ir na sua casa hoje. Para gente terminar este formulário. - ela disse animada. Eu a conheço a tempo suficiente para saber que não vamos terminar nenhum formulário, nem hoje, nem nunca.

- Não sei não, Day. - respondi - Ele não é exatamente gentil.

- Bad boy? Meu tipo preferido. - ela riu e mexeu no cabelo loiro. - Então esta feito! Se você o acha bonito, ele deve ser extraordinário. Preciso ver isso.

- Claro. - respondi desanimada e continuei escrevendo.

*

Uma das coisas que me irritam em Daisy é como ela anda devagar. Quero dizer as ruas continuam as mesmas todos os dias, mas ela caminha por elas como se fosse uma turista conhecendo a cidade.

Ou talvez essa seja a maneira que uma pessoa normal caminha, realmente prestando atenção á sua volta e não abafando todos os sons com o fone de ouvido, mas isso me irrita de qualquer forma.

- Faz muito tempo que não vou á sua casa. - Daisy comentou, enquanto caminhávamos - E faz muito tempo que a gente não sai juntas também.

Eu realmente aprecio qu ela ainda se preocupe com a minha existência, nem que seja apenas um pouquinho.
E eu garanto que o sentimento é mútuo, apesar de não sermos mais as amigas inseparáveis de alguns anos atrás.

- Você tem coisas melhores pra fazer.

- Nem sempre. - respondeu sincera - Mas você nunca mais me convidou para fazer nada.

Quis dizer á ela que agora eu tento evitar ao máximo me comunicar com pessoas e que a minha única vontade é nunca mais sair do meu quarto, mas não disse, afinal o assunto não nos levaria á lugar nenhum.

- Você pode ir lá em casa quando quiser, você sabe disso. - tentei sorrir para ela.

Daisy sorriu de volta e em seguida começou a falar da sua vida, sobre um procedimento para deixar o cabelo mais claro que ela tinha feito, suas  férias na Alemanha e um garoto com quem ela tinha terminado recentemente.
Daisy não consegue ficar sozinha desde os treze anos de idade quando beijou pela primeira vez.Um ano glorioso para ela, mas que eu adoraria esquecer.

Não sei em que momento dei o título de "melhor amiga" á Daisy. Tem muita coisa sobre ela que eu não sei e tem muita coisa em mim que ela gostaria de mudar. É amizade só quando parece conveniente para nós duas. E mesmo assim o pensamento de uma vida sem a Daisy parece ainda mais vazia.

Cheguei em casa e a porta estava trancada, girei a minha cópia da chave na fechadura e a porta se abriu com um clique.Eu entrei e Daisy me seguiu para dentro de casa.

Secretamente, eu esperava que Harry estivesse escondido em seu quarto fazendo esforço para nos ignorar. Só para que eles não se conhecessem, mas infelizemente, não tive tanta sorte.

Como sempre, pousei a mochila em um dos banquinhos do balcão da cozinha e estava pronta para me servir de um copo d'água, mas a expressão estranha no rosto de Daisy me chamou atenção.
Segui seu olhar até a sala. Seu ponto de concentração era Harry, ele estava sentado no sofá, sem camiseta, inclinado para frente enquanto segurava o controle do videogame com firmeza entre as mãos, os músculos das costas estavam flexionados.
E esse era o ponto exato em que os olhos de Daisy estavam focados.

            *

Prisoners - h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora