Capítulo 80

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No dia seguinte tudo já parecia ter voltado ao normal.
Quando desci para tomar café na manhã seguinte, meu pai já estava sentado à mesa tomando a sua xícara de café. Ele apenas me cumprimentou sem olhar para mim, como sempre.

Mamãe estava na cozinha cozinhando algo no fogão. Ela olhou para mim quando entrei na cozinha e sorriu levemente, porém eu soube pelo seu olhar que a mulher vulnerável da noite passada tinha devolvido o lugar para dama de ferro, como ela mesmo havia se designado.
Seu modo de andar, sua expressão firme e o rosto completamente livre de maquiagem, como uma tela em branco, demonstravam visualmente que ela havia voltado á si.

Tive medo de que ela tivesse se esquecido de tudo o que disse na noite passada e voltássemos a discutir sobre a faculdade.Eu não ficaria tão surpresa, acho que tudo foi fácil demais para ser verdade.

Não faço ideia de como ela chegou a conclusão de que podia aceitar que a sua filha não fosse para a faculdade.
Até na minha cabeça isso soa impossível.

No entanto ela não disse nada. Nem neste dia, nem nos dias seguintes.
Foi realmente como se nada tivesse acontecido. Minha família é muito boa em deixar as coisas para lá.

Beatrice foi a única que tocou no assunto, ainda no dia seguinte a discussão. Quando cheguei do trabalho naquela mesma tarde, ela veio até o meu quarto e me perguntou se eu estava bem.

- Estou sim e você? - respondi enquanto desamarrava o cadarço das minhas botas.

- Eu tô bem.

- Que bom.

Depois de um tempo esquisito em silêncio, ela voltou à falar:

- Olha, eu não sabia sobre nada disso.

- Eu só, você sabe, eu sempre fui meio esquisita. - forcei uma risada.

Não é inteiramente mentira. Não era assim tão raro que alguém me dissesse que eu era esquisita, mesmo que fosse uma brincadeira.
Acho que não gostar de sair e estar permanentemente ansiosa, somado ao fato de que eu sempre falei o mínimo possível em público faz com que seja normal que as pessoas me achem estranha.

Beatrice parecia não saber o que dizer.
Ela encostou sua silhueta longa e magra na batente da porta e cruzou os braços.

- Você está bem?

- Estou, não precisa se preocupar com isso.

- É estranho que nenhum tenha percebido,

- Eu não gosto de falar sobre isso.

- Nós somos a sua família.

- Não gosto de falar disso.

- Ok, sinto muito.

- Não precisa sentir.

Fechei meus olhos. Minha cabeça está latejando parece que até a minha voz está alta demais para os meus próprios ouvidos.

- Podemos mudar de assunto?

- Só mais uma pergunta e eu vou para o meu quarto.

Revirei os olhos para ela, mas assenti.

- O que você tem? Quer dizer, você tem ataques de pânico?

- Eu só tenho dificuldade em me comunicar.

- Sério? Oh, graças á Deus! Ouvi dizer que são assustadores.

- Você disse que ia para o quarto.

- Sabe, você é muito chata. - ela revirou os grandes olhos verdes para mim.

- Beatrice, eu vou chutar você para fora daqui.

Prisoners - h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora