Capítulo 63

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A manhã seguinte demorou a chegar. Talvez porque eu acordei mais tarde do que de costume.
A manhã de domingo amanheceu nublada, sem nenhum raio de sol atravessando a janela ás 10:00.

Quando tentei abrir os olhos senti as pálpebras pesadas e, imediatamente tive certeza de quê ficaria doente.

Escondi o rosto no travesseiro, senti o cheiro de cabelo molhado e pensei em como todo esse domingo estava destinado á ser horrível.

Cabelo ruim, gripe, nariz pingando, cara amassada, muitos pensamentos para me atormentar durante toda a tarde e ainda tenho que explicar para minha mãe porque cheguei em casa no estado em que cheguei.

Não sei como consegui dormir esta noite, achei que a minha cabeça jamais pararia de me atormentar depois de tudo o que aconteceu.
Fiz todo o caminho de volta para casa correndo em baixo de um chuvisco gelado, algumas lágrimas sem noção caíram, e eu, sinceramente, estava me sentindo um caco por dentro, mas não queria parar de correr para longe.

Quando entrei debaixo do chuveiro quente, tudo em que eu conseguia pensar era em Harry e tudo o que ele disse. Como quando você tem um dia muito bom e fica pensando sobre ele antes de dormir, apenas porque não quer esquecê-lo, para torná-lo memorável. Mas eu não queria me lembrar de todo aquele dia, para ser sincera. Não sou sadomasoquista.

Quando deitei o meu corpo estava elétrico, completamente ligado, eu senti cada fibra eletrizante, e achei que passaria a noite toda acordada.

Mas consegui dormir depois que pus todos os meus pensamentos em perspectiva: Primeiro: eu estou confusa.
Segundo: estou sendo hipócrita porque ele nunca mentiu para mim, fui eu que terminei. Terceiro: estou com medo do que pode acontecer dessa vez.
E por último, mas não menos importante, existe uma parte de mim, uma parte bem grande de mim que está feliz.

Ontem tudo rolou tão naturalmente, como se nunca tivéssemos nos afastados. O beijo, o abraço, a conversa...
Ainda senti que podia ser sincera com ele, ainda senti que podia ser eu mesma e ele não iria me julgar. E não julgou.
Quando nos beijamos foi como sempre, foi tenso de um jeito bom. Foi adrenalina injetada nas minhas veias...

Mesmo com Daisy, mesmo com a dor desses meses, mesmo que eu nem entenda tudo o que eu sinto, eu acho que nunca deixei de confiar e acreditar em Harry e isso...

Ouvi um toque na porta:

- Elizabeth! Levanta, já tá tarde!! - a minha mãe.

Rolei para o lado. O despertador no criado-mudo marca 10:15.
Com um suspiro, eu me levanto. Faço um rabo de cavalo e visto as minha pantufas.

Sinto meu corpo pesado enquanto ando, e tenho cada vez mais certeza de quê vou ficar doente.

****

Às 16:00, ainda estou debaixo da coberta, com moletom e meias de algodão, e uma xícara de chá e um livro nas mãos.

A gripe não demorou á chegar e agora a minha cama parece ser o melhor lugar para passar o resto do domingo.
Bebo um gole do chá, o gosto de limão toca a minha língua, seguido por um amargor do remédio para gripe, e viro outra página de Lolita. Ainda estou no começo da história, antes do acidente da Sra.Haze.
O meu cérebro está um pouco mais lento por conta da gripe, por isso ás vezes eu me perco no meio das palavras.

Ouço um barulhinho suave e imediatamente sei que algo atingiu o vidro da janela.
O vento lá fora deve estar forte...

Outra pedrinha atinge o vidro, dessa vez a pedra parece ser maior. Bem, isso não pode ser coincidência.

Pouso a caneca no criado-mudo e fecho o livro. Ando de meias até a janela e afasto a cortina.

Através do vidro, eu vejo Harry. Vestido com um casaco preto por cima de uma t-shirt branca, o cabelo bagunçado parece ligeiramente molhado.

Prisoners - h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora