Prisoners - h.s

Capítulo 8

Harry era a última pessoa que eu queria ver no momento.
Ainda estava me sentindo furiosa, mas acima de tudo me sentia culpada. Reconheço que peguei pesado com ele e realmente espero que ele esteja satisfeito com a reação da minha mãe. Se ele o fizer, talvez eu me sinta menos mal.

Respirei fundo e continuei andando com a cabeça baixa, mas conseguia sentir que ele me observava.
Não consegui passar despercebida, eu sabia que não ia conseguir. Infelizmente, não sou invísivel no sentido literal da palavra.

Quando meus pés tocaram o pequeno gramado da minha casa, Harry já estava se pondo de pé no topo da escada.

- Posso falar com você? - perguntou.

- Tudo pra você se sentir confortável. - E lá estava eu novamente, fazendo a coisa errada mais uma vez ao invés de apenas me desculpar. - Quer dizer, pode.

Harry continuou sério.

- Quero um cessar-fogo. - Fingi uma risada. Ele fala como um personagem de filme de ação.

- Um cessar-fogo? - perguntei com as sombrancelhas arqueadas.

- Sim.

- Bem, para mim parece improvável.

Harry relaxou a postura quando percebeu que eu não sairia correndo novamente. O cigarro ainda estava acesso entre os seus dedos.
Um cigarro? Mais uma vez a questão da idade veio a minha cabeça, ou talvez isso seja uma das razões pela qual a mãe o tenha mandado para cá. Faz sentido.

- Sei disso. - a voz grossa de Harry interrompeu minha linha de pensamentos - O que quero dizer é que podemos tornar isso mais simples. -Apurei os ouvidos e ele continuou:

- Não sei por quanto tempo ficarei aqui. Não sei por quanto tempo minha mãe... O que proponho é que sejamos...

- Civilizados. - completei.

- É... Isso.

- É, mas precisamos reduzir as doses de vitimismo então.- respondi, meu pescoço já estava começando a me incomodar, por ter que manter a cabeça erguida para olhar em seu rosto, enquanto ele estava um degrau acima de mim.

Me sentei em um dos degraus esticando as minhas pernas.
Harry sentou- se ao meu lado e tive a sensação muito estranha de que ele estava sorrindo.

- Sua mãe me deu esse previlégio. - soou como uma explicação - Parece que sempre sou a vítima, não importa qual seja a situação. É hospitalidade.

- Parece mais hipocrisia .

- Quer falar sobre hipocrisia quando tudo o que você faz é para chamar a atenção?

Bufei e me levantei, mas Harry foi rápido a me puxar para baixo novamente. Fiz uma careta para ele, mas voltei a me sentar.

- Vamos apenas sentar um pouco e fumar um cigarro uh? - ele propôs, com o cigarro ainda entre os lábios.

- Eu não fumo.

- Mas eu sim.

Então estavámos sentados lado a lado na escada da varanda, observando o gramado bem cuidado da Sra.Wood á nossa frente.
Surpreendendo até a mim mesma, fui a primeira a falar:

- Sua mãe sabe que você fuma?

- Ela acha que parei. Ficaria furiosa se soubesse que ainda tenho alguns desses guardados.

Harry jogou o resto do cigarro para o canto da escada e tirou outro de um maço. Ele o acendeu e colocou entre os lábios.

- Acha que pode guardar esse segredo? - Mais uma vez olhei para ele com as sombrancelhas arqueadas. - Podemos começar o lance de ser civilizados agora. - disse, assoprando um pouco de fumaça.

- Quer que eu esconda isso da minha mãe?

- É, daí vou saber que posso confiar em você.

- Isso não é problema meu, de qualquer forma. - dei de ombros.

- Então, está feito?

- Acho que sim, mas sem sabotagem e sem dar para trás.

Harry assoprou mais um pouco de fumaça e riu.
O cheiro de nicotina fez meu nariz coçar.

- Feito - Harry concordou - E espero o mesmo de você.

- Claro.

Depois disso não demorou muito tempo para voltarmos para dentro de casa. Ficamos algum tempo em silêncio, enquanto Harry terminava seu cigarro e eu fiquei mexendo nervosamente nas unhas, enquanto segurava espirro atrás de espirro.

Dentro de casa tudo estava escuro como de costume á esta hora. O relógio do microondas marcava quase uma hora da manhã.

- Cadê a minha mãe? - perguntei á Harry, enquanto tirava o casaco e o jogava no sofá.

- Ela disse que você voltaria. Ela parecia cansada.

- Ah.

Me sentei no sofá castanho, ele provavelmente vai ser a minha cama essa noite. Isso não vai ser confortável.

- Então, boa noite. - disse á Harry com a intenção de fazê-lo sair dali.A discussão e o choro me desgastaram bastante.

- Parece que você precisa de uma boa noite de sono. - disse Harry, com as mãos nos bolsos do jeans - E de uma cama.

- É.

- Pode dormir no seu quarto hoje, se quiser.

Olhei para ele. O que exatamente ele está propondo?

Depois do que a minha mãe disse não dormiria no quarto de Beatrice, pelo menos não por hoje, sou mais orgulhosa do que isso. Mas dormir no quarto que Harry está ocupando, está fora de questão.

Por um momento pensei em usar sarcasmo e dizer que eu não poderia de maneira alguma invadir seu espaço, mas lembrei da nossa conversa de agora á pouco e desisti.

- Não, tudo bem. - respondi.

- Estou falando sério.

Uma noite no meu antigo quarto é tudo que eu quero, principalmente hoje. Mesmo não sendo na minha cama, com os meus cobertores, as minhas paredes roxas e os meus posteres de bandas. Bem, talvez não seja assim tão bom, mas é melhor do que um sofá duro.

- E onde você vai dormir? - Ele apontou o sofá como se fosse óbvio.- A minha mãe não vai gostar disso. E a última coisa que eu preciso é que ela fique mais brava comigo.

- Podemos apenas mentir ou eu posso dormir lá também. - sorriu. Seu sorriso é tão bonito que não consegui controlar o meu. Não me lembro de já ter visto algum sorriso dele que não fosse o sarcástico, então a surpresa foi boa.

- Sem chance. - sorri de volta - Mas eu aceito.

Ele assentiu e eu me apressei a ir buscar alguns cobertores e um travesseiro para Harry.
Ao voltar deixei tudo em uma pilha em cima do sofá, enquanto Harry tirava suas botas.

- Precisa de mais alguma coisa? - perguntei com a intenção de ser prestativa.

É estranho ele ser tão legal comigo depois do que eu disse. Tenho certeza de que se fosse o contrário, eu ficaria semanas sem falar com ele. E me sinto péssima por isso.

- Não. Obrigado.

- Hm... Eu que tenho que te agradecer, Harry.

- Tudo bem. - ele deu de ombros e essa foi a minha deixa para sair da sala. Apanhei o meu casaco e sai da sala, mas parei no primeiro degrau da escada.

- Harry?

Tinha algo que eu queria dizer, algo que eu precisava dizer, mas estava entalado na minha garganta e não parecia querer sair.

- Hum?

- Te acordo ás 6:00 - foi tudo o que eu disse e subi as escadas.

               *