Harry e eu passamos toda a tarde de domingo arrumando meus livros na prateleira.Pela primeira vez não me importei em organizá-los em uma ordem específica. Apenas os enfileirei um atrás do outro.
Ficamos a maior parte do tempo em silêncio, um silêncio que estranhamente não me incomodou. E na outra parte eu fiquei espirrando como um louca por causa do pó.
Quando terminamos eu já estava com sono e com fome porque não ingeria uma refeição completa há algum tempo, e convenhamos que arrumar livros em uma prateleira não é um passatempo tão emocionante.
- Quer comer alguma coisa? - perguntei á Harry, que parecia ainda mais entediado do que eu. Ele apenas assentiu.
Na cozinha juntei os ingredientes para preparar um sanduíche comum de pasta de amedoim e geleia de frutas vermelhas e também esquentei água para preparar um chá. As únicas coisas que eu consigo realmente 'cozinhar', depois de ovos, café na cafeteira e macarrão instantâneo.
Depois que o chá estava pronto olhei para a minha xícara cheia com o líquido âmbar e pensei: Meus olhos tem cor de chá.
Acho que Harry pensou a mesma coisa quando lhe passei a sua xícara e o sanduíche, e me sentei ao seu lado para comer, pois ele sorriu levemente.
- Então o que achou de Orgulho e Preconceito? - perguntei insistente, sendo a chata que sou
Harry engoliu um pedaço de sanduíche e respondeu:
- Eu entendi. Quer dizer, o preconceito de Darcy com a familia de Elizabeth, o preconceito de Elizabeth ao acusar Darcy de todas aquelas coisas. E o orgulho dos dois impediu que fossem felizes por um tempo. - ele explicou sua conclusão - É um romance muito... respeitoso, sem dúvida.
- É isso que me fascina nos romances de Austen. Seus personagens se apaixonam sem toda essa ladainha dos romances atuais.
- Não acha que falta alguma coisa? - Harry questionou.
- Talvez, para nós do século XXI. - disse e ele riu baixinho.
Olhei para ele:
- O que foi?
- Nada, só estava imaginando como eu sobreviveria se vivesse naquela época. - explicou - Com certeza, eu não seria um gentleman.
Eu ri. Não, não seria mesmo.
- E eu com certeza seria uma solteirona. - falei com uma risada e um leve toque de amargura. - Nos livros parece mágico, mas não sei se aceitaria viver apenas para casar e ter filhos.
Tenho certeza de que não me sairia bem em ser a dama perfeita, enturmada á sociedade, vivendo a mercê de um marido. Isso não seria vida para mim.
- Não seríamos bem vindos. - Harry concluiu.
Estupidamente me senti confortável rindo com ele. Acho que apenas porque eu não tenho uma conversa longa com alguém que não seja a minha irmã ou a Daisy já faz muito tempo.
Á nossa maneira estranha jogamos conversa fora por mais um tempo. Mantivemos o assunto acesso usando o único que recurso que temos em comum: o sarcasmo.
Tudo estava indo maravilhosamente bem até a minha família entrar pela porta da frente.
- A lavanderia da casa dela está ficando muito bonita, não acha? - ouvi a voz da minha mãe.
- É meio apertado. - meu pai respondeu com a voz calma e entediada de sempre.
- Bem... - minha mãe parou assim que entrou na cozinha.
Os dois nos encararam. A expressão sempre entediada no rosto do meu pai não mudou, mas a minha mãe ficou quase boquiaberta, como se eu e Harry tivéssemos ambos uma cabeça a mais.
Não é para menos. É a segunda vez que ela nos vê juntos hoje quando é suposto nós nos odiarmos. Com certeza as suas paranóias estão tomando conta da sua cabeça.
Beatrice passou direta pela cozinha, nos ignorando completamente, e foi em direção á sala. Ela apenas se jogou no sofá e ligou a tv.
Toda aquela felicidade momentânea se esvaiu de mim quando vi a expressão no rosto da minha mãe. Me lembrei do que ela tinha me dito mais cedo e sabia o que aconteceria á seguir.
Fiquei em dúvida do que fazer, mas tive que me afastar de Harry antes que minha mãe resolvesse dizer algo que fosse me envergonhar na frente dele.
Peguei o resto do meu sanduíche e a minha xícara de chá e andei até a pia. Derramei o resto do chá ralo abaixo e engoli o último pedaço de pão.
- Querem chá? - perguntei aos meus pais depois de terminar o sanduíche
- Eu quero. Por favor. - meu pai disse e imitou os passos de Beatrice até o sofá. Parece que ele já esqueceu.
Meu pai é assim; as vezes se importa, as vezes não. E na maioria das vezes isso é uma coisa boa para mim, mas em certas situações é triste.
- Mãe?
- Claro. - ela respondeu, finalmente desviando o olhar de Harry.
Assenti e coloquei mais água para ferver.
*
Depois do jantar tomei um banho quente para ir deitar logo em seguida, mas quando saí do banheiro ainda com o cabelo preso em um coque úmido, dei de cara com a minha mãe na porta do meu quarto.
É claro que ela estaria ali logo depois de Harry ir se deitar. Eu não estou tão surpresa.
- Podemos conversar? - ela perguntou.
- Fala, mãe.
Ela me puxou para longe da porta do quarto de Beatrice e de Harry.
- Eu te avisei. Se eu descobrir que você e...
- De novo isso? - eu a interrompi - Eu não estou dando em cima do Harry, se é isso que está insinuando.
- Porque eu não consigo acreditar em você? Estou vendo os sorrisos e as risadas... Afinal onde você dormiu noite passada? - ela exigiu saber com a voz irritada.
Ela quis mesmo dizer isso?
Minha própria mãe acha realmente que eu sou esse tipo de garota? Eu não o conheço nem a um mês.
- O que a senhora está querendo insinuar?
- Não se faça de santa! Eu sei o que você está fazendo. - ela cerrou os dentes para manter a voz baixa.
- Sabe mesmo? - indaguei com raiva - Está enganada se acha que sou assim. Deveria prestar mais atenção as suas filhas, daí saberia que é mais provável Beatrice ficar com ele do que eu.
Falei alto e não me importei com quem fosse ouvir aquela merda.
Ela praticamente me chamou de... de fácil, e eu não vou tolerar isso mesmo que ela seja minha mãe. Faz anos que eu sequer beijo alguém, não preciso ouvir isso.
- Elizabeth! - ela gritou de volta.
- Tchau, mãe! - disse e me afastei dela.
Apressei o passo, entrei no quarto da minha irmã e tranquei a porta antes que minha mãe tivesse tempo de entrar.
Beatrice me olhou intrigada, ela provavelmente ouviu o que eu disse e queria uma explicação.****
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Prisoners - h.s
FanficEm um mundo onde todos vivem oprimidos por padrões, pessoas diferentes se sentem erradas. Em um mundo onde você precisa ser igual a todo mundo para ser aceito, existem pessoas como Liz Gray; oprimida por suas próprias inseguranças, vivendo nas sombr...