Capítulo 2

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Moro em uma casa estreita em Londres, em um bairro de classe trabalhadora onde as casas são todas muito próximas uma das outras e muito iguais, todas pequenas e simples.
As casinhas tem gramado e uma pequena varanda, e muitas delas um segundo andar.

Assim que entrei em casa, encontrei minha mãe e Beatrice, minha irmã mais nova, comendo a lasanha de ontem no balcão da cozinha.

Minha casa tem uma cozinha embutida á sala, ao estilo americano. Temos a escada que leva ao segundo andar, o andar dos quartos. Três quartos pequenos e um banheiro, dois de cada lado de um corredor curto. E isso é tudo.
O piso é de madeira, por isso range á cada passo.

Suspirei e joguei a bolsa em uma banqueta do balcão, sentando em outra ao lado da minha mãe em seguida. Praticamente me debrucei no tampo de mármore e massageei as têmporas. A falta de sono resultou em uma dor de cabeça terrível, tenho que dormir em breve.

Antes que minha mãe pudesse abrir a boca, Beatrice levantou a voz e contou a novidade:

- Nosso primo vai vir morar com a gente. - ela disse alto demais e minha cabeça latejou.

- Beatrice! - minha mãe xingou.

- O quê? - perguntei espantada. Talvez tenha sido por causa falta de sono, mas realmente me assustei. O meu coração disparou, mas eu não estava realmente tão pertubada com a notícia, foi provavelmente uma reação mais física do que emocional.

- Não é assim, eu...

- Você?

Ela apenas franziu os lábios, parecia estar pensando em suas próximas palavras. Suspirei derrotada, só quero ir me deitar.

- Por quanto tempo? - perguntei.

- Não definimos nada.

- Tudo bem.

Esperei que alguém dissesse mais alguma coisa, mas depois de jogar a bomba Beatrice voltou a comer em silêncio e minha mãe parecia não saber bem o que dizer.
Já não conseguia mais ficar acordada então agarrei a mochila e subi para o meu quarto. Me joguei na cama e sem demora o cansaço tomou conta do meu corpo e eu adormeci.

               *

Quando acordei já estava escuro lá fora, a brisa fresca da noite londrina entrava pela janela aberta.
Me levantei um pouco tonta e fechei a janela sem prestar atenção para a vista, que era nada mais que a janela do vizinho. Eu ainda estava com a roupa que vesti de manhã para ir á escola e meu estômago estava roncando. A última coisa me que me lembro de fazer antes de adormecer é tirar as botas, mas mesmo com o jeans apertado o sono foi ótimo. O melhor em muito tempo.

Desci as escadas e lá estava meu jantar esperando por mim em cima da mesa, eu sabia que só precisava esquentar.
O relógio do microondas marcava 9:31PM quando subi para ver se minha mãe ainda estava acordada.
Encontrei a porta do quarto dela meio aberta e eu podia ver apenas seus pés descalços no fim da cama.

Bati na porta e entrei, como eu imaginava meu pai não estava lá, ele provavelmente ainda estava no trabalho ou em algum barzinho por aí.

- Oi - falei.

Minha mãe estava sentada encostada á cabeceira da cama com um livro nas mãos e o óculos de armação ovalada pendendo no ossinho do nariz. Seu cabelo castanho escuro estava preso em um coque frouxo e ela sorriu para mim quando entrei.

Minha mãe é baixinha e gordinha como eu, mas seu corpo é perfeitamente aceitável para uma mulher que já teve quatro filhos. Em geral seus traços são exatamente iguais aos meus; olhos e cabelos castanhos, pele clara, rosto arredondado e boca fina. De todos os filhos, eu acho que sou a mais parecida com ela.

- Alguma coisa errada? - perguntou.

- Não, só quero conversar. - me sentei ao seu lado na cama - Isso é tão estranho assim?

- Um pouco.

A expressão da minha mãe continuava como sempre, não parecia aborrecida ou brava, o que só me fazia sentir pior. Ela é sempre tão paciente, até quando eu claramente não mereço. Sempre me perdoa pelas pequenas coisinhas que digo. Pequenas coisinhas que são como pontadas no coração de uma mãe.

- Eu só deveria ter dito algo...

- Tudo bem, eu entendo.

- Não. É só que... eu tenho três irmãos.- Ela riu, mas eu continuei.- Demorou muito tempo pra eu conseguir um pouco de privacidade e agora eu sei que vou voltar a dividir o quarto com Beatrice.

Mas pensar que eu tive que dividir o quarto com duas irmãs até Alice, minha irmã mais velha, se casar e que depois tive que esperar meu irmão, Lucas, desocupar o outro quarto para finalmente ter um lugar só meu, apenas para ele ser tirado de mim menos de um ano depois, me deixa um pouco chateada.

- Sinto muito, querida.- mamãe disse - Eu só quis ajudar uma amiga, posso dizer que não vai dar se você quiser.

Neguei com a cabeça.

- A casa é sua, mãe, pode convidar quem quiser.

- Vou levar em conta o que você pensa. Se isso te fizer sentir desconfortável vou dizer á Anne que houve uma mudança.

- Não, tudo bem.

Não foram palavras exatamente verdadeiras, mas a minha mãe não insistiu mais no assunto, o que dava a entender que hospedar o filho da sua amiga era importante para ela. E eu não vou ser egoísta dessa vez.

- Mas então, quem é a figura? - perguntei, mudando de assunto.

- Harry, filho de uma amiga de colégio. Não os vejo há anos. - ela vagou.

- Ele é nosso primo?

- De consideração, pode ser.

- Porque ele vem para cá?

- O pai e a noiva se mudaram para Chesire, ele não está lidando bem com isso.

- Ah entendi. O divórcio. - revirei os olhos. Nunca entendi esse drama, mas ninguém pode me culpar. Passei toda a minha infância vendo o meu pai bêbado gritar e perder o controle, em certo ponto eu já preferia o divórcio.

- Lizzie. - minha mãe advertiu - Já faz anos, mas o pobrezinho nunca aceitou. Não é para menos, o homem era péssimo para a esposa e o filho.

- Então, porque o garoto se importa?

- É o pai dele.

- Mas...

- Elizabeth - ela avisou novamente e eu sorri.

- Ok, entendi. - disse - Vou te deixar dormir agora.

Minha mãe se inclinou para dar um beijo na minha testa.

- Durma bem.

- Você também, mãe.

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Prisoners - h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora