Pov's Harry Styles
Depois de quarenta minutos tentando acalmar um homem furioso e angustiado, que agora está dormindo covadermente encolhido no sofá da sala, eu finalmente pude parar para respirar. Passei os dedos no meu cabelo bagunçado e limpei o suor da testa.
Tomei um gole de água fresca e me encostei á bancada da pia. O relógio do microondas marcava 2:10 da manhã.
Abaixei a cabeça e segurei-a entre as mãos. Ela parece não querer ficar presa ao pescoço, tamanho é o meu cansaço.
Depois de dez minutos de, praticamente, uma luta física com um bêbado descontrolado e forte, eu tive que ficar repetindo a mesma coisa muitas, muitas vezes. Tive de lhe responder várias vezes que a Sra. Gray estava lá em cima, então ele começava a choramingar e a repetir "o que eu fiz? o que eu fiz?" como um louco. As suas mãos começaram a tremer de um jeito preocupante e eu fui obrigado a lhe servir um copo de água com açúcar. Quando na verdade, o que eu queria fazer era socar- lhe a cara por ter feito o que fez.
Foi um pouco assustador dar de cara com aquela cena no corredor. Foi horrível acordar aos berros da minha menina, eu tive um pequeno ataque do coração e voltei a tempo de separar a briga. Era o caos na vida das três mulheres.
Me lembro de como odiava quando o meu pai bebia, ele se tornava extremamente irônico e irritante, mas nunca agressivo. Ele discutia com a minha mãe, mas só levantou a mão para ela uma vez, e acho que até hoje se sente culpado por isso.
Tudo o que meu pai fazia era para incentivar o divórcio, mas nunca passou da agressão verbal.Ainda com a cabeça entre as mãos, eu pensei que deveria ir procurar a Liz ou talvez tenha de deixá-la sozinha um pouco. Deve ser uma barra passar por isso, e não consigo imaginar o que está acontecendo lá em cima, mas no momento a casa está pertubadoramente silenciosa.
Me viro novamente para a pia e lavo o copo que usei. Em seguida subo as escadas com passos lentos.
Quando chego lá em cima, só penso em encontrar a Liz e me certificar de que ela está bem. Espero que sim, porque vê-la daquele jeito, com o rosto vermelho e gritando foi assustador.
Bato na porta de Beatrice e ninguém atende, abro-a e descubro que não tem ninguém lá. Ando até o quarto da Sra.Gray, e não preciso me encostar á porta para ouvir sussurros de vozes femininas.
- Beatrice, calma, meu amor. Eu já estou bem. - ouço a Sra.Gray dizer.
- Mesmo? - Beatrice pergunta, com a voz estranhamente infantil.
- Sim. Agora dorme.
Fico no corredor por alguns minutos esperando ouvir a voz da Liz, mas não ouço. Eu espero de verdade, que ela esteja dormindo tranquilamente agora, descansando em um sono livre de pesadelos.
Volto para o meu quarto e me sento na cama. Depois de um instante, chego a conclusão de que não vou conseguir dormir se apenas me deitar, porque os pensamentos e as preocupações vão me consumir vivo á ponto de me levar á insônia.
Ando até a prateleira da Liz e pesco um livro qualquer no escuro. Quando volto para cama e acendo a luz do abajur no meu criado-mudo descubro que o livro é na verdade um dos livros do Harry Potter.
Não tenho tanta sorte á ponto de pegar o primeiro da saga e acabo tendo "Harry Potter e o Cálice de Fogo" nas mãos. Mesmo com esse pequeno-grande empecilho me surpreendo com a forma que a leitura flui bem. A escrita é tão detalhada e simples, que me faz esquecer, por momentos, a agitação dos últimos minutos. Estou começando á entender porque as pessoas gostam tanto desse livro.
Potter acaba de descobrir que é um dos Campeões quando ouço passos no corredor e um choro baixinho.
Não acho que possa ser o Sr
Gray com esses passos suaves. O choramingar é feminino e eu, particularmente, o conheço muito bem.Fecho o livro, visto uma camiseta e desço as escadas. Não encontro ninguém pelo caminho.
Abro a porta da entrada e saio para a noite. Da varanda posso ver o corpo pequeno da Liz sentado no meio fio da calçada.Desço os degraus da escada da varanda sem fazer barulho e atravesso o gramado.
A garota está com as pernas nuas e curtas esticadas á sua frente (está de shorts de pijama), e no momento em que me aproximo mais, as suas mãos vão para o seu rosto, e ela recomeça a chorar.
O meu coração se parte em mil pedacinhos com a cena. E eu me aproximo. Me sento ao seu lado na calçada e abraço os seus ombros. Eles estão gelados, e eu me pergunto se ela está com tanto frio quanto eu, por estar com roupas de verão numa noite de Fevereiro.
Só quero ser o amigo que ela precisa agora.
- Está tudo bem? - pergunto, mesmo já sabendo a resposta.
- E-eu vou ser bem sincera, Harry. Não estou nada bem. - ela diz com a voz embargada, e seca os olhos com os dedos. E eu desejo, desejo com todas as minhas forças, poder tirar o sofrimento dela.
- Eu sinto muito, Liz.
Ela coça os olhos e em seguida força um sorriso para mim.
- Mas eu vou ficar bem. Eu só estou um pouco... chocada. Obrigada pelo que você fez.
- Você sabe que pode ser sincera comigo e que pode chorar no meu ombro. Você sempre pôde. - falei - Você é extraordinária Liz. Aguenta muita coisa, mas não precisa fingir que está bem agora. Não para mim, pelo menos. Eu sei que não está.
Ela fica tão silenciosa que começo a achar que não vai dizer mais nada, então de repente ela desata á chorar como uma criança com o joelho ralado.
- Ah.. Ah Harry, e estou tão, tão... assustada. - ela admiti e eu puxo a sua cabeça para o meu ombro. Ela parece se aconchegar ali. - Fiquei com tanto medo. E-eu não sei o que faria, até que ponto isso teria chegado se você não estivesse aqui, Harry. Obrigada, obrigada de verdade.
- Não precisa me agradecer.
O seu choro estrangulado e sincero me deixa desesperado. Eu queria ser forte o suficiente para suportá-la, para ver as lágrimas encherem seus olhos e ser o forte o bastante para não querer chorar com ela. Por ela.
- Desculpe. Desculpe... - ela diz.
- Tudo bem. Pode desabafar.
- Tive medo. É isso. - ela fungou o nariz - É a primeira que isso acontece desde que Lucas e Alice foram embora, e... e eu não sei o que faria se você não estivesse aqui para me ajudar. Eu não sei até que ponto as coisas teriam chegado.
- Não pensa nisso. Já acabou.
Foi a única coisa que eu consegui dizer. Sentia que estava vendo outra Liz. Não a Liz que fingia não se importar com quase nada, cujo o único problema parecia ser estar um pouco acima do peso. Eu percebi que ela lidava com coisas sérias e se preocupava mais do que deixava transparecer. E parecia complemente desarmada.
Por um momento foi como se eu entendesse tudo. Porque ela tem os problemas que tem, porque odeia tanto á si mesma, porque parecia tão sensível e intolerante quando a conheci. Mil e uma coisinhas desse tipo criaram uma personalidade autodestrutiva.
E agora, conhecendo-a melhor, não e difícil imaginar tudo que ela deve sentir e porque sente. Analisando- a melhor ela parece mesmo uma bagunça de dentro para fora.
Cabisbaixa, encolhida, escondida, pálida, quase invísivel por fora. E eu tenho a impressão de que, tudo é ainda mais cinza por dentro.
É díficil me imaginar gostando dela alguns meses antes, mas, por alguma razão, eu consigo ver algo por trás de todo esse cinza. Um sorriso radiante, olhos vivos e alegria.
Em algum lugar. Eu só preciso achar.
* * *
Mais um capítulo, people! Espero que gostem.
All the love xx
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Prisoners - h.s
FanfictionEm um mundo onde todos vivem oprimidos por padrões, pessoas diferentes se sentem erradas. Em um mundo onde você precisa ser igual a todo mundo para ser aceito, existem pessoas como Liz Gray; oprimida por suas próprias inseguranças, vivendo nas sombr...