Capítulo 23

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- Então, como você está? - Beatrice perguntou quando estavámos na cozinha, cortando alguns tomates em cubos para o jantar de terça-feira á noite.

Achei sua pergunta um pouco inesperada, geralmente ela é mais direta, mas talvez só esteja puxando conversa.

- Hum.. estou bem e você?

- É, eu também.

- Que bom.

- E como estão as coisas na escola?

- Normais e com você?

- Ótimas.

- Que bom. - ecooei

Ela ficou em silêncio por um momento, o único ruído audível na cozinha era o da faca batendo na tábua de legumes. Beatrice pôs alguns cubos de tomate em uma tigela e andou até o fogão, jogando-os em uma panela.

Eu sei que ela ainda tem algo a dizer.

- Liz? - Bea disse depois de um tempo, ela ainda estava de costas para mim mexendo com uma colher de pau nos tomates que crepitavam na panela.

- Hum? - Perguntei desinteressada.

Estou focada em não cortar os meus dedos, afinal cozinha não é realmente o meu lugar.

- Se eu te contar um segredo, promete que não conta pra ninguém? - ela perguntou, sua voz soou receosa.

Eu parei os movimentos com a faca e me virei para ela com as sombrancelhas franzidas.

- Depende. - respondi.

- Do quê?

- Se você matou alguém... - ela riu alto, mas balançou a cabeça negativamente.

- Não, eu não matei ninguém.

- Então eu acho que sim, posso guardar seu segredo.

Ela respirou fundo e largou a colher, virando para me encarar.

Para quê todo esse drama?

- Tem um garoto na escola...

Foi a minha vez de respirar fundo. Seja o que for teríamos problemas com a mamãe, se ela soubesse.

- O quê aconteceu, Beatrice? - perguntei genuinamente aflita.

- Nós ficamos... algumas vezes. A- acho que gosto dele. - a voz de Beatrice saiu fraca e a sua cabeça estava baixa, os olhos verdes focados no chão de madeira.

Fiz uma careta. Minha irmã de treze anos beija e eu não...Foco. Elizabeth. Foco

- E?

- E acho que ele quer alguma coisa comigo. Eu não sou idiota, sei que ele não é o amor da minha vida ou algo assim, mas eu também quero. Muito.

Essa última frase ficou pairando no ar por um momento, enquanto uma guerra era travada dentro se mim.

Seja responsável. Diga á ela que não é a hora.

Minha irmãzinha de treze anos, minha irmãzinha namorando... namorando antes de mim.

Diga á ela que não é a hora.

- Lizzie? - a voz suave de Beatrice me despertou dos meus pensamentos.

- E o que você quer que eu faça? Você sabe que a mamãe nunca vai aceitar isso. - disse com sinceridade.Eu a ajudaria se tivesse certeza de que a minha mãe aceitaria. Engoliria o meu orgulho e ignoraria a incômoda pontada de inveja pulsando dentro de mim e realmente ajudaria. No entanto eu sei, tenho certeza, de que a minha mãe jamais vai aceitar.

Prisoners - h.sOnde histórias criam vida. Descubra agora